Descrição de chapéu The Washington Post

Intel abre salário de executivos e revela disparidade de gênero e raça

41 dos 52 dos que têm salário superior a R$ 854 mil por ano são homens, 37 dos quais brancos

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Jena McGregor
Washington | Washington Post

Quando a Intel se tornou a primeira grande companhia a divulgar dados encaminhados ao governo contendo detalhes sobre a remuneração de seu pessoal, a vice-presidente de diversidade e inclusão da empresa afirmou em comunicado que esperava que a decisão “encorajasse outras companhias do setor a fazer o mesmo”.

Os dados revelam que 41 dos 52 executivos da empresa com remuneração superior a US$ 208 mil (R$ 854 mil) por ano são homens, 37 dos quais brancos.

Uma análise da Bloomberg, a primeira organização a noticiar os números, mostrou que um em cada quatro dos homens brancos da Intel ocupa a porção mais alta da faixa salarial, enquanto menos de 10% dos empregados negros estão entre os trabalhadores mais bem remunerados.

Mas até agora nenhuma das outras empresas de tecnologia de grande porte se comprometeu a adotar a mesma transparência que a fabricante de chips sobre a remuneração de seu pessoal.

Logo da Intel - Mike Blake/Reuters

A Microsoft afirmou em comunicado distribuído via email que “não temos mais nada a compartilhar neste momento”, e apontou que o pagamento mediano de seu pessoal é de US$ 172 mil (R$ 706 mil) anuais e que a empresa tem o compromisso de pagar salários iguais.

Google afirmou que “nada tinha a compartilhar especificamente” sobre os dados encaminhados ao governo, “no momento”, mas destacou outras estatísticas sobre diversidade. O Facebook também declarou que continuará a publicar os dados demográficos fornecidos ao governo sobre sua força de trabalho, mas não planeja divulgar dados sobre remuneração.

Apple, Amazon, Adobe, Dell, HP e IBM não ofereceram resposta imediata sobre a divulgação de seus dados.

Diversos especialistas disseram que a divulgação voluntária dos números confidenciais pela Intel dificilmente serviria como exemplo para muitas empresas.

“É improvável que essa postura se generalize a menos que exista algum tipo de pressão externa nesse sentido”, disse Donald Tomaskovic-Devey, professor da Universidade de Massachusetts em Amherst e pesquisador sobre dados de emprego.

Os empregadores não só se preocupariam com a possibilidade de que os dados sejam interpretados incorretamente ou os mostrassem sob luz negativa como a Comissão de Igualdade no Emprego dos Estados Unidos anunciou que planeja revogar a regra que requer que as empresas recolham dados sobre remuneração.

Sob uma regra da era Obama, a Comissão de Igualdade no Emprego solicitou a todos os empregadores com 100 ou mais trabalhadores que fornecessem dados sobre seu número de trabalhadores nos Estados Unidos, classificados por raça e gênero em 10 categorias amplas de emprego —o formulário EEO-1, que era obrigatório há décadas—, bem como fornecessem dados adicionais dividindo o pessoal em faixas salariais.

Os ativistas pela igualdade salarial dizem que a coleta dos dados tinha por objetivo ajudar a revelar potenciais disparidades na remuneração. Mas alguns líderes empresariais disseram que os dados não refletiam as posições reais dos trabalhadores e que recolhê-los era trabalhoso e caro.

Em setembro, a Comissão de Igualdade no Emprego anunciou que planejava abandonar o programa, mencionando seu custo para os empregadores e sua “utilidade não comprovada”. (O Facebook citou essa decisão em sua declaração, apontando que estava “acompanhando as recomendações do departamento quanto a futuras prestações de contas, caso se materializem”.)

James Paretti —advogado do escritório Littler Mendelson e ex-chefe de gabinete de Victoria Lipnic, comissária da Comissão de Igualdade no Emprego, que votou contra a regra— disse que não vinha conversando com clientes sobre a divulgação de dados.

“Duvido que isso venha a ser indicativo de uma tendência forte”, ele disse, apontando que “as conversações que tive com a maioria dos meus clientes foram sobre a quantidade incrível de tempo, dinheiro e energia dedicada a isso”.

As companhias também podem optar por não divulgar os dados por saberem que a Comissão de Igualdade no Emprego planeja revogar a regra.

“Acredito que, quando você diz aos empregadores que não vai mais fazer alguma coisa, isso os desencoraja não só de reportar os dados ao governo mas de divulgá-los publicamente”, disse Jocelyn Frye, pesquisadora sênior do Center for American Progress e antiga integrante da equipe de assessores da então primeira-dama Michelle Obama.

Barbara Whye, vice-presidente de diversidade da Intel, afirmou em comunicado que a companhia divulgou os dados porque “transparência e o compartilhamento aberto de nossos dados nos permitem tanto celebrar nosso progresso quanto confrontar nossos revezes”. Ela disse que a companhia deseja “liderar o setor nesse espaço, elevando o nível de transparência para nós e, como resultado, para os outros”.

Ela também disse que a companhia sabe que “precisa de mais mulheres e de mais homens de grupos de baixa representação em posições de liderança, nos Estados Unidos e em todo o mundo. Existe uma disparidade na progressão das mulheres e das populações menos representadas de postos médios para postos executivos e de conselho. Essas quedas podem ser prevenidas, e vamos redobrar nossos esforços de inclusão, o que inclui reavaliar a progressão de lideranças a fim de garantir que as mulheres e os grupos menos representados avancem na empresa”.

Muitos empregadores hesitam em divulgar seu formulário EEO-1 tradicional, que recolhe apenas dados demográficos sobre trabalhadores nos Estados Unidos, sem dados salariais. Quando o The Washington Post pediu que os 15 maiores bancos americanos divulgassem esse formulário, só dois o forneceram na íntegra para o prazo de três anos solicitado.

O boletim noticioso Reveal, do Center for Investigative Reporting, pediu os formulários originais a 211 das maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos; em 2018, a publicação informou que apenas 30 delas haviam atendido ao pedido, com dados sobre qualquer ano.

Tradução de Paulo Migliacci

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