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Poupar no longo prazo exige muita disciplina e sacrifício

Meta é organizar gastos no presente e projetar as necessidades futuras

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Pedro Souza
São Paulo

Todos sabem as regras do emagrecimento. Bastam uma dieta saudável e balanceada e a prática de atividades físicas. 

Poupar pensando em previdência é bem parecido. Fácil falar, mas difícil executar. Por isso, o caminho é entender a necessidade de renda no futuro, definir o valor a ser poupado, criar barreiras para acessá-lo com facilidade e estudar os investimentos.

Consciente dessa necessidade, é preciso treinar a mente. A pessoa deve se acostumar a ignorar parte da renda atual, diz a pro-reitora nacional de pesquisa da Escola Superior de Propaganda e Marketing e especialista em economia do consumo, Cristina Helena Pinto Mello.

“Existe um conceito chamado contabilidade mental. O cérebro trabalha com caixinhas. E você deve atribuir parte do orçamento a cada uma dessas caixas.”

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Para especialistas, meta é organizar gastos no presente e projetar as necessidades futuras - Gabriel Cabral/Folhapress

Nesse momento do planejamento, já aparecem algumas dificuldades. Por exemplo, pensar em deixar de lado alguns gastos com consumo e lazer para investir. Além de colocar as contas no papel, os valores devem ser muito bem definidos nas “caixinhas mentais”.

O engenheiro automotivo Eduardo Bastos, 35, de Indaiatuba (SP), passou por esse momento. Depois de saber sobre as experiências de colegas do trabalho no mercado de ações, ficou interessado. Enxergou a possibilidade de se aposentar melhor por meio de investimentos.

Em 2007, deu início aos investimentos para previdência. “Fiz uma planilha que previa investimento de R$ 500 ao mês.” 

Acostumado com contas, Bastos não teve dificuldades em apertar seus gastos de consumo para fazer a reserva. “Eu queria chegar a R$ 1 milhão”, lembra aos risos. O valor ainda não foi atingido, segundo ele, devido à aquisição da casa própria, mas ainda é um objetivo.

“Disciplina não é natural do ser humano. Então qual é o motivo para a gente não poupar? É que poupar é um sacrifício. Benefício é consumir”, diz o professor de finanças do Insper Michel Viriato.

O especialista lembra que, depois de planejar, é necessário disciplinar a atividade de investir. E faz uma analogia com a escovação de dentes. “O benefício é de longo prazo. Se deixar de lado, vai ter prejuízo lá na frente. Poupar é a mesma coisa.”

Cristina orienta ainda evitar o desconto hiperbólico comum nas pessoas. “É uma percepção errada do futuro. Ou a gente acha que será muito fácil ou que será superdifícil chegar lá [investindo].” Esse pensamento, normalmente, atrapalha o pensamento estratégico do investidor e interfere em sua dedicação.

Segundo os especialistas ouvidos pela Folha, usar transferências automáticas para uma segunda conta bancária é um bom começo para se acostumar com os investimentos.

Esse direcionamento pode ser até para a caderneta de poupança. Mesmo com a baixa rentabilidade real da aplicação. Isso porque é uma maneira de investir, vendo o dinheiro rendendo nos primeiros meses.

“O ato de fazer a aplicação é um transtorno. Então, para começar, investir automaticamente é uma ótima maneira para criar disciplina”, afirma Viriato.

Segundo ele, as contribuições automáticas não precisam ser, necessariamente, só na poupança. O importante é, desde o começo, definir os objetivos, o perfil de risco e dar início aos aportes.

“As aplicações automáticas não querem dizer que não tem risco. O investidor pode fazer em vários tipos de fundos, como de ações, por exemplo”, diz o professor de finanças do Insper.

Outra técnica é esconder o cartão da conta que está recebendo o investimento.

“Coloque o dinheiro onde você não consiga mexer”, orienta o coordenador do MBA Finance da FIA, Roy Martelanc. A dificuldade de acessar o recurso diminui a vontade de gastar. Pedro Souza

Conhecimento financeiro é essencial para tomar decisões

Adquirir conhecimento financeiro e sobre investimentos também é essencial para ter segurança nas decisões, diz Cristina Helena Pinto Mello, da ESPM.

Infelizmente, diz, a realidade do brasileiro é outra. “Segundo pesquisa da ESPM, de 2017, 44% da população tinha baixo conhecimento financeiro avançado, como calcular juros compostos”, diz.

“Essas contas garantem mais o interesse pelos investimentos. Projetar o ganho dos juros sobre juros facilita a aceitação desse processo.” 

Por fim, afirmam os especialistas, é o momento de executar. Primeiro é necessário traçar os objetivos dos investimentos. Depois, é necessária uma autoavaliação para entender em qual perfil de risco a pessoa se encaixa.

Na sequência, realocar os valores já guardados para o investimento desejado e continuar com as contribuições mensais nessas modalidades.

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