A Saudi Aramco arrecadou o valor recorde de US$ 25,6 bilhões (aproximadamente R$ 107,3 bilhões) em sua oferta pública inicial de ações, coroando a complicada jornada da maior companhia mundial de petróleo aos mercados de capitais.
O dinheiro levantado pela companhia estatal superou o recorde estabelecido pela gigante chinesa do comércio eletrônico Alibaba, em 2014, mas atribui à Saudi Aramco um valor de mercado inferior aos US$ 2 trilhões (o equivalente a R$ 8,4 trilhões) ambicionados pelo príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman.
A oferta pública inicial é a peça central das ambições do príncipe Mohammed de transformar uma economia que continua dependente do petróleo, em um período no qual a transição mundial para combustíveis menos poluentes está se acelerando. Mas nos quatro anos transcorridos desde que o governo anunciou pela primeira vez seus planos de abertura de capital, a esperança de cotar as ações da empresa fora do país foi abandonada e a oferta em Riad foi menor do que a planejada originalmente.
A Saudi Aramco na quinta-feira colocou suas ações no mercado ao preço de 32 rials (US$ 8,53 ou R$ 35,74), no topo da faixa de flutuação definida no final do mês passado, de acordo com pessoas informadas sobre a transação. Isso dará à companhia um valor de mercado de US$ 1,7 trilhão (o correspondente a R$ 7,1 trilhões) quando as ações começarem a ser negociadas em bolsa.
O preço das ações para a oferta pública inicial surgiu em um momento de discussão, em Viena, entre a Arábia Saudita e seus parceiros na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), e aliados como a Rússia, sobre possíveis restrições à produção de petróleo, de forma a sustentar o preço da commodity.
Na noite de quinta-feira, o grupo conhecido como Opep+ parecia perto de um acordo quanto a reduzir a oferta em cerca de 500 mil barris diários. A expectativa seria de que um preço mais alto para o petróleo ajude a sustentar a cotação das ações da Saudi Aramco, nos dias seguintes ao início das operações, que deve acontecer na semana que vem.
O esforço da Saudi Aramco para abrir seu capital dependeu pesadamente de investidores sauditas e regionais, quando as grandes instituições internacionais hesitaram diante da avaliação de US$ 2 trilhões buscada pelo príncipe Mohammed, devido a preocupações sobre a governança corporativa e o risco geopolítico de investir dinheiro no reino.
A Arábia Saudita contratou alguns dos maiores bancos de Wall Street para assessorá-la na oferta pública inicial, que colocará no mercado cerca de 1,5% das ações da empresa. Alguns dos executivos financeiros aconselharam que uma abordagem mais prudente seria vender ações a preço mais baixo, em um esforço para garantir uma alta depois de sua entrada no mercado, disse uma pessoa informada sobre a situação.
“Os bancos aconselharam o cliente a jogar no seguro”, disse a fonte. “Existe um risco para as instituições se a entrada das ações no mercado causar queda”.
O reino buscou tornar a companhia mais atraente ao prometer um dividendo anual suculento de US$ 75 bilhões, e alterações nos impostos e índices de royalty, além de ter decretado restrições aos investimentos de capital da companhia em longo prazo, para ajudar o fluxo de caixa. A despeito desses esforços, os investidores internacionais se mantiveram cautelosos.
Por boa parte dos últimos quatro anos, o príncipe Mohamed vinha pressionando para que a empresa buscasse US$ 100 bilhões em capital, por meio da venda de 5% de suas ações em uma capital financeira internacional como Nova York ou Londres. Mas o total de US$ 25,6 bilhões que a companhia colocou a levou a superar o recorde anterior de US$ 25 bilhões estabelecido pela Alibaba, quando esta abriu seu capital em Nova York. A capitalização de mercado da Saudi Aramco, mesmo calculada em US$ 1,7 trilhão, ainda assim será superior ao valor de mercado agregado das cinco companhias petroleiras internacionais que seguem o grupo saudita no ranking das maiores empresas mundiais de petróleo.
Dois executivos que assessoraram os sauditas na transação disseram também que a Saudi Aramco pode optar por exercer seu direito de vender até 15% a mais de ações, caso haja demanda, o que resultaria em uma arrecadação superior a US$ 29 bilhões.
No esforço por fazer com que a oferta pública inicial funcionasse, investidores de varejo sauditas receberam ofertas de empréstimos para a compra de ações, promessas de ações adicionais, e foram alvo de uma campanha publicitária de alcance nacional.
Famílias sauditas de alto patrimônio, muitas das quais apanhadas na campanha do príncipe herdeiro contra a corrupção em 2017, também foram pressionadas a investir.
Nas últimas semanas, executivos da Saudi Aramco tentaram atrair interesse da parte dos fundos estatais de investimento na região do Golfo Pérsico, entre os quais o de Abu Dhabi., que deveria investir US$ 1,5 bilhão. O Kuwait também estava considerando um investimento de US$ 1 bilhão.
Financial Times, tradução de Paulo Migliacci
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.