Trump anuncia fechamento de 'fase 1' do acordo comercial com a China

Segundo presidente norte-americano, chineses prometeram comprar mais produtos agrícolas, de energia e bens manufaturados

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Washington e São Paulo

Após meses de negociações, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (13) o fechamento da primeira fase de um acordo comercial com a China.

A decisão de concluir ao menos parte das conversas acontece em meio ao desgaste que a disputa com Pequim tem causado à sua popularidade às vésperas da eleição de 2020.

Em entrevista às 23h do horário chinês, oficiais do país asiático também anunciaram o acordo, mas com termos dissonantes dos divulgados pelo presidente americano.

Em seu Twitter, Trump afirmou que as tarifas de 25% já aplicadas sobre US$ 250 bilhões em itens chineses "permanecerão como estão", mas o restante das importações que chegam de Pequim terão alíquota de 7,5% —esse valor representa metade dos 15% que estavam sendo cobrados desde setembro sobre US$ 125 bilhões em bens de consumo.

O presidente norte-americano Donald Trump e o líder chines Xi Jinping durante encontro do G20 em Osaka, Japão - Kevin Lamarque - 29.jun.19/Reuters

O presidente disse ainda que vai suspender taxas em cima de US$ 156 bilhões também sobre bens de consumo chineses que entrariam em vigor no domingo (15).

Em seguida, Trump disse a repórteres na Casa Branca que vai usar as tarifas remanescentes como vantagem nas negociações da fase 2 do acordo, que, segundo o presidente, começam imediatamente.

Comunicado divulgado pelo escritório do representante comercial dos EUA confirmou as tarifas de 25% mantidas sobre cerca de US$ 250 bilhões de importações chinesas junto a 7,5% ​de tarifas a US$ 120 bilhões de demais produtos.

Em troca, diz o Trump, a China prometeu comprar mais produtos agrícolas, de energia e bens manufaturados dos americanos, o que seria um afago aos fazendeiros que apoiaram o republicano em 2016 mas estavam insatisfeitos com os prejuízos nas plantações de soja e milho, por exemplo, desde que a guerra de tarifas começou, em 2018.

“Concordamos em uma grande primeira fase do acordo com a China. Eles [chineses] concordaram com muitas mudanças estruturais e compras maciças de produtos agrícolas, energia e bens manufaturados, além de muito mais. As tarifas de 25% permanecerão como estão, com 7,5% sobre o restante”, escreveu o presidente.

“Vamos começar as negociações da fase dois imediatamente, ao invés de esperar até depois das eleições de 2020. É um acordo maravilhoso para todos. Obrigado.”

O anúncio aconteceu no mesmo momento em que o Comitê Judiciário da Câmara aprovou as duas acusações de processo de impeachment contra Trump. A votação agora vai para o plenário da Casa, de maioria democrata, na próxima semana. O republicano tem o hábito de fazer grandes anúncios ou declarações polêmicas em meio a publicações de notícias que considera ruim ao seu governo.

Na coletiva em Pequim, oficiais chineses não responderam a perguntas de jornalistas sobre o valor exato das importações agrícolas americanas, uma das maiores partes do acordo. Estimava-se US$ 50 bilhões (R$ 205 bilhões), mas oficiais apenas disseram que as compras serão ampliadas por uma “margem notável”.

Mais tarde, o representante comercial norte-americano, Robert Lighthizer, disse que a China concordou em comprar US$ 32 bilhões em produtos agrícolas dos Estados Unidos ao longo de dois anos.

Segundo Lighthizer, haverá metas específicas para compras chinesas de determinados produtos, mas que elas não serão divulgadas publicamente para evitar distorções nos mercados. Ele disse ainda que o acordo comercial está em conformidade com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a China estará livre para comprar coisas quando "for o momento perfeito para se comprar coisas".

O representante comercial afirmou que a fase 1 será assinada na primeira semana de janeiro de 2020, mas admitiu que ainda há muito trabalho a ser feito. Sobre a fase 2,  Lighthizer disse que Trump não deseja esperar até depois das eleições presidenciais de 2020.

O texto da primeira fase do acordo tem nove capítulos e ainda precisa ser revisto legalmente pelos países para ser assinado e entrar em vigor. Segundo os chineses, parte das tarifas já impostas seriam retiradas pelos Estados unidos gradualmente, o que vai contra a declaração do presidente americano de manter 25% das tarifas. 

Com a falta de clareza quanto à natureza do acordo, índices acionários americanos passaram de forte alta à estabilidade. Dow Jones e S&P 500 ​fecharam estáveis e Nasdaq teve leve alta de 0,2%, os últimos dois a níveis recorde.

No Brasil, o Ibovespa teve sua valorização reduzida pela forte queda das ações da Petrobras, de grande peso no índice, e encerrou em alta de 0,3%, a 112.564 pontos, nova máxima histórica. O dólar também subiu, com alta de 0,36%, a R$ 4,109.

“Ruim ou não, o importante é ter acordo. Muitos duvidavam de que ele aconteceria. No entanto, a partir do momento que o mercado passou a trabalhar com a ideia de que o acordo viria [com as declarações de Trump na semana], as expectativas se elevaram e se esperava um acordo maior. Também é natural que os índices se acomodam um pouco após as últimas altas”, afirma George Wachsmann, sócio fundador da Vitreo.

As Bolsas asiáticas, por sua vez, encerraram o pregão desta sexta em forte alta, antes de maiores detalhes do acordo. O índice CSI 300, que reúne as Bolsas de Xangai e Shenzhen, subiu 2%.

Na manhã de quinta-feira (12), o presidente dos EUA havia dito em seu Twitter que estava "muito próximo" de um "grande acordo" com Pequim e o mercado financeiro reagiu com otimismo. 

Analistas que acompanham as negociações há quase dois anos afirmam que o anúncio da conclusão de uma primeira parte do processo está longe de ter o tamanho ideal para o acordo, mas o saldo ainda é positivo. 

Com essa etapa, além de fazer o afago a produtores de estados-chave para sua reeleição, como Iowa e Illinois, Trump alicia punição consumidores nos EUA, visto que as tarifas que entrariam em vigor no dia 15 de dezembro eram sobre produtos chineses de bens de consumo, como smartphones. E, por fim, mostra que ainda tem capacidade de chegar a um acordo após meses de conversas improdutivas.

A aparente manutenção dos 25% das taxas sobre bens intermediários e parte (7,5%) sobre bens de consumo também estimulou parte da reação negativa do mercado, visto que os consumidores nos EUA ainda sentirão os efeitos no bolso com produtos chineses chegando mais caros ao país.

Durante toda a quinta-feira, antes dos termos do acordo serem divulgados, o republicano teve reuniões com conselheiros de comércio do seu governo e viu surgirem boas reações no mercado, como o índice MSCI, que mede o desempenho global de ações, que bateu recorde no início da tarde. As empresas americanas tiveram alta na Bolsa, assim como os títulos do Tesouro.

O presidente havia dito que a batida de martelo com a China deveria sair somente após a eleição de novembro do ano que vem, mas tem sido aconselhado por integrantes de seu governo a agir diante dos custos que o prolongamento da disputa com os chineses poderia trazer para sua campanha.

Na semana passada, o republicano chegou a anunciar imposição de tarifas sobre o aço e alumínio que chegam nos EUA pelo Brasil e Argentina, pegando de surpresa o governo Jair Bolsonaro. A avaliação foi a de que Trump precisava fazer um aceno ao seu eleitorado e mostrar insatisfação com o brasileiro, que mantém uma relação cordial com os chineses.

Os agricultores americanos perderam vendas para os brasileiros e argentinos, que passaram a exportar produtos com preço mais vantajoso a Pequim.

(Com agências de notícia)

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