Varejo estima Natal superior a 2018 com venda em patamar pré-recessão

Avaliação é que ambiente econômico mais favorável dá confiança aos consumidores neste ano

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São Paulo

As vendas de Natal, data que movimenta cerca de 20% do comércio em dezembro, podem bater os patamares do período pré-recessão, mostram as projeções de varejistas e institutos de pesquisa. 

O cenário de retomada econômica, com aumento nos índices de confiança, preços bons dos produtos mais escolhidos com presentes, juro baixo, liberação do FGTS e crescimento por crédito, elevou muito a expectativa do setor.

A CNC (Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo) estima que as vendas subam 5,2%, em valores reais, e movimentem R$ 36,5 bilhões na data. A última vez que o comércio cresceu a uma taxa próxima a 5% foi em 2013, antes da crise econômica.

No Natal passado, os resultados frustraram o varejo, que havia inflado seu otimismo. Algumas estimativas apontavam para recorde de vendas para a década, mas a alta foi de 1,7%, inferior aos 3,9% registrados em 2017. No auge da crise, em 2015 e 2016, o comércio natalino caiu 5%.

Neste ano, analistas dizem que há menos chance de surpresa negativa. Fabio Bentes, economista da CNC, afirma que mesmo o câmbio desfavorável (dólar cotado R$ 4,09) não deve atrapalhar o desempenho varejista do fim do ano.

“A formação dos preços do Natal acontece de julho a setembro e, durante esse período, o dólar estava numa média de R$ 3,97. Em 2018, fomos impactados por uma alta forte no período pré-eleitoral”, afirma. “Não houve uma surpresa negativa a ponto de afugentar o consumidor neste ano.” 

Mesmo com o resultado prévio da inflação atingindo o maior nível desde junho de 2018, com alta de 1,05% puxada pelo preço da carne, itens chamados de presenteáveis estão abaixo da inflação em 12 meses, de 3,91%. Entram nessa divisão produtos como brinquedos, roupas e calçados.

As atuais condições de crédito, que permitem ampliação de prazos para pagamentos e, portanto, parcelas mais baratas, também ajudam a aquecer a expectativa das vendas. O consumidor brasileiro costuma tomar decisão pelo peso mensal da prestação.

O crédito pode beneficiar a compra de itens mais caros, como móveis e eletrônicos. Já o FGTS deve estimular a compra produtos mais baratos, como de supermercado. Segundo economistas, a união desses dois fatores impulsionará o comércio de modo geral.

Foi a mudança do calendário do FGTS, entretanto, que concentrou todos os saques até dezembro, considerada a maior responsável por colocar os números para cima.

“A capilaridade do FGTS é maior que a de 2017, quando só quem tinha conta inativa sacava. O tíquete médio era mais alto, então muitos pouparam. Dessa vez, todos com conta ativa e inativa podem sacar. A propensão ao consumo é maior”, afirma Vitor Vidal Velho, da LCA Consultores.

 

A Black Friday abocanhou parte dos presentes de Natal, mas não deve ser entrave ao crescimento das vendas, segundo estimativas. Pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que a antecipação das compras neste ano foi de 18,2%. Em 2017, outro ano bom para a data, o indicador chegou a 33%. Com a Black Friday, algumas análises das vendas de Natal passaram a considerar o bimestre.

O indicador da FGV que mede o ímpeto de compra avançou a 65,5 pontos, superior ao de 2018 (61,1). É o melhor nível desde 2014, quando o país entrou em recessão. 

Além disso, o varejo aposta na alta demanda com a contratação de trabalhadores formais, que podem chegar a 91,6 mil.

“Os índices de confiança se mantiveram parecidos com a média dos últimos três meses, e as vendas estão superiores às de 2018. Houve crescimento de 25% a 30% na Black Friday, com itens de valor agregado puxando bastante. Isso consolida o otimismo”, afirma Alexandre Machado, sócio da GS&Consult.

Nessa lista estão eletrônicos, aparelhos de informática e de telefonia. Ao lado de vestuário, calçados e brinquedos, todos tiveram reajustes abaixo da inflação.

Na sexta-feira (20), a região central de São Paulo já estava lotada para as compras de última hora. Na 25 de Março, brinquedos, patinetes e eletrônicos eram presentes com boa saída. O consumidor também relatou encontrar preços melhores.

Segundo Ondamar Ferreira, gerente dos Armarinhos Fernando, o movimento foi superior ao de 2018, e as vendas estavam surpreendendo positivamente. Ele estima alta de 10% no comércio e de 8% no tíquete médio, a R$ 66.

Pesquisa identificam tendência pelo autopresente

Pesquisas de intenção de compras identificam neste final de ano um crescimento da disposição pelo chamado autopresente: 35% das pessoas dizem que irão se presentear, índice superior à compra de presente para o pai, que representa 33,8%, diz pesquisa da Social Miner, que monitora dados de consumo do varejo.

A mãe, o cônjuge e o filho são os primeiros da lista de intenção, com 59,9%, 57,8% e 48%, respectivamente.

Outra pesquisa mostra que 6 em cada 10 brasileiros escolherão presentes a si mesmos, alta de 11 pontos percentuais na comparação com 2018. A expectativa da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e do SPC Brasil é que sejam 101,6 milhões de pessoas, que podem movimentar R$ 36,7 bilhões.

Entre os adeptos do autopresente, 51% afirmam que o fazem por necessidade de algum produto e 30% justificam ser uma recompensa por terem trabalhado muito em 2019. O resto admite que é um pretexto ao consumo.

“O autopresente é consequência natural e acontece na medida em que as pessoas se sentem mais seguras, com a sua renda, o parcelamento e a queda da inflação”, diz Claudio Felisoni Angelo, presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo). Ele diz que o movimento é comum após “períodos de muitas agruras”.

Os itens mais desejados para o autoagrado são roupas (55%), calçados (31%), perfumes e cosméticos (27%), smartphones (17%), acessórios (14%) e livros (11%).

Outro apontamento para este ano é que os preços tenham menos peso na hora da escolha. Isso porque aumentou o tíquete médio e os itens da lista de preferência estão com valores mais baixos na comparação com o ano passado.

No ecommerce, que espera faturar R$ 11,8 bilhões, a ABComm, associação do setor, estima alta de 18%, com tíquete médio de R$ 310.

Colaborou Camilla Feltrin, do Agora

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