'Do Brasil não dá para esperar nada', diz irmã de Carlos Ghosn

Ex-executivo disse ter esperado mais apoio do governo durante prisão no Japão

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Andrei Netto
Beirute

O ex-diretor-presidente da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi Carlos Ghosn e sua família manifestaram descontentamento, nesta quarta-feira (8), em relação ao tratamento dispensado pelo governo brasileiro ao caso depois de sua prisão no Japão, em 19 de novembro de 2018.

Nove dias após ter escapado do arquipélago em uma fuga de avião, o executivo nascido no Brasil, e com nacionalidade brasileira, disse que "esperava mais” do presidente Jair Bolsonaro.

Ghosn elogiou o apoio que recebeu do cônsul do Brasil no Japão. "O cônsul do Brasil no Japão, João Mendonça, foi muito amigo, muito querido. Ele realmente cuidou de mim num momento muito difícil”, disse durante a entrevista coletiva que concedeu a centenas de jornalistas da imprensa internacional em Beirute, no Líbano, para onde fugiu e onde vem vivendo em liberdade.

A seguir, porém, lamentou que Brasília não tenha atuado em sua defesa. “Eu esperava um pouco mais de ajuda de parte do governo brasileiro, o que não aconteceu.”

Nascido em Rondônia, filho de pai libanês e de mãe nigeriana, Ghosn viveu no Brasil até os seis anos –e por isso tem a nacionalidade brasileira, além da francesa e da libanesa. Aos 6 anos, mudou-se para a França, onde fez sua escolaridade, passando por escolas de administração até chegar à Michelin, onde iniciou sua ascensão no meio automotivo, antes de chegar à Renault e, posteriormente, à Nissan.

Ghosn respondeu perguntas feitas pela imprensa brasileira falando em português.

Questionada pela Folha, Claudine Bichara, irmã do executivo que mora no Brasil, foi mais incisiva nas críticas e relatou a decepção da família com a falta de intervenção de Bolsonaro em favor de um concidadão.

"Do Brasil não dá para esperar nada”, afirmou. “Não sinto amargura, mas uma decepção. O Brasil fez de conta que não era com ele. Preferiu se abster e não correr riscos, ao contrário do que aconteceu no Líbano."

Durante a entrevista, Ghosn foi questionado sobre por que optou por Beirute, em lugar do Brasil ou da França. Ghosn justificou que questões logística determinaram a escolha do local para onde fugiria, embora todos os três países não extraditem cidadãos com nacionalidade –o que em tese lhe garantiria abrigo no país.

Uma das queixas da família é que Bolsonaro esteve no Japão e se encontrou pessoalmente com o primeiro-ministro, Shinzo Abe, a última vez em uma visita oficial realizada em outubro de 2019. Segundo os familiares, a questão não foi evocada pelo presidente com receio de ferir suscetibilidades nas relações bilaterais.

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