Descrição de chapéu Financial Times

Ghosn diz que carta de renúncia não tem validade e processa Renault por pensão

Ex-presidente de montadora diz que as autoridades japonesas o forçaram a assiná-la

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Peter Campbell Michael Pooler
Londres e Paris | Financial Times

Carlos Ghosn está levando a Renault à Justiça em uma tentativa de obter 250 mil euros (R$ 1 milhão) em pagamentos de pensão, no primeiro dos processos judiciais que o ex-executivo, foragido da Justiça japonesa, espera usar para recuperar dinheiro do qual teve de abrir mão desde sua detenção em 2018.

Em um processo aberto na Justiça trabalhista da França antes de ele fugir do Japão, os advogados de Ghosn argumentam que ele tem direito ao pagamento a despeito de ter se demitido de seu posto como presidente do conselho da empresa em janeiro do ano passado, quando era prisioneiro das autoridades japonesas.

Outro processo que os advogados de Ghosn devem iniciar este mês em um tribunal comercial francês argumentará que ele tem direito a uma pensão no valor de 770 mil euros (R$ 3,5 milhões) ao ano, bem como a ações no valor de 15,5 milhões de euros (R$ 71,2 milhões) que lhe teriam sido concedidas caso ele tivesse ficado na companhia.

Retrato de Carlos Ghosn; o executivo veste um terno preto, camisa branca e gravata vermelha. O executivo enxuga o suor da testa com uma toalha de papel
O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, durante primeira entrevista após fuga para o Líbano - Mohamed Azakir/Reuters

O jornal francês Le Figaro foi o primeiro a noticiar os dois casos, e também publicou uma entrevista com Ghosn. A Renault se recusou a comentar. Ghosn foi detido pela primeira vez pelas autoridades japonesas em novembro de 2018, no aeroporto de Haneda.

Em uma entrevista coletiva em Beirute na semana passada, o empresário prometeu que limparia seu nome e derrotaria as acusações dos procuradores públicos japoneses de que ele declarou incorretamente sua remuneração na Nissan e usou verbas da companhia indevidamente.

O processo contra a Renault na Justiça trabalhista francesa opõe Ghosn à companhia que ele liderou por duas décadas e ajudou a transformar em uma das maiores montadoras de automóveis do planeta, com sua parceira de aliança Nissan. O caso gira em torno de uma carta de renúncia assinada por Ghosn e enviada ao conselho da Renault enquanto ele estava preso, que ele agora afirma não ter valor.

Ao renunciar, Ghosn abriu mão de seus pagamentos de aposentadoria e a quaisquer bonificações pagas em forma de ações no futuro. Os advogados dele argumentam que as autoridades japonesas o forçaram a assinar a carta e que ele também foi forçado a renunciar ao seu posto porque não tinha como comparecer às reuniões do conselho da Renault para desempenhar suas funções.

A primeira audiência do caso deve ocorrer no final de fevereiro. Ghosn não é obrigado a comparecer.

Ele se disse disposto a encarar julgamento em qualquer país que lhe ofereça condições justas, mas no momento está confinado ao Líbano e impedido de deixar o país.

Não se sabe se ele já sabia que estaria fora do Japão, ao abrir o processo trabalhista, ainda que sua fuga tenha sido planejada meses atrás.

Em uma aparição pública ocasionalmente emotiva na semana passada, ele afirmou que o Japão lhe “pagou com o mal” por décadas de serviço, que incluíram resgatar a Nissan da quase falência e levá-la a cooperar com a parceira de aliança Renault.

A parceria entre as duas companhias está claudicando depois da queda de Ghosn, e executivos importantes da Nissan prepararam planos de contingência para uma possível separação da Renault, segundo o Financial Times.

As ações da Renault caíram em 3%, para 40,70 euros (R$ 187), depois da publicação da notícia, e as ações da Nissan caíram em 1%, para 637 ienes.

“Acreditamos firmemente que o relacionamento entre a Renault e a Nissan, e com isso a aliança, esteja danificado e além de qualquer possibilidade de reparo”, afirmou Arndt Ellinghorst, principal analista automobilístico da Evercore ISI, na segunda-feira.

Tradução de Paulo Migliacci

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