Justiça libanesa proíbe Carlos Ghosn de deixar o país

Ghosn foi interrogado pela Procuradoria-Geral local devido à ordem de prisão da Interpol

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Beirute | AFP

A Justiça libanesa proibiu, nesta quinta-feira (9), Carlos Ghosn de deixar o país.

A decisão veio depois de o executivo ser interrogado pela Procuradoria-Geral no âmbito de uma ordem de prisão da Interpol, informou uma fonte judicial à agência AFP.

Ainda segundo essa pessoa a par da decisão, a Procuradoria-Geral do Líbano pediu ao Japão dossiê sobre o processo judicial movido no país contra o ex-presidente da Renault-Nissan, acusado de desfalque financeiro.

O Líbano, que indicou não ter um acordo de extradição com o Japão, anunciou na semana passada que havia recebido um pedido de prisão de Ghosn da Interpol.

Ghosn, detentor de nacionalidades francesa, libanesa e brasileira, é alvo de quatro acusações no Japão: duas por sonegação e duas por abuso de confiança agravado.

O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, durante primeira entrevista após fuga para o Líbano - Bilal Jawich/Xinhua

Uma segunda fonte judicial disse à AFP que Ghosn permanecerá proibido de viajar até que os procuradores libaneses recebam o processo judicial do Japão.

Após o recebimento da documentação, irão decidir se ele deverá ou não responder judicialmente no Líbano.

Ghosn também foi ouvido a respeito de um relatório apresentado à Justiça libanesa por advogados libaneses, relacionado a uma visita a Israel.

Países vizinhos, Líbano e Israel estão tecnicamente em guerra, e Beirute proíbe seus nacionais de irem a Israel ou de terem contatos no Estado hebreu.

Na quarta-feira (8), Carlos Ghosn denunciou um "golpe" orquestrado contra si e afirmou que está determinado a "lavar sua honra", durante sua primeira aparição pública em Beirute desde que fugiu do Japão.

Também denunciou ter sido "presumido culpado" pelo sistema de Justiça japonês assim que foi preso em 2018 e que não teve "outra escolha" a não ser fugir das acusações "infundadas".

"Eu era refém" no Japão, acrescentou, insistindo em sua inocência.

"Fui arrancado da minha família e dos meus entes queridos", declarou.

Preso em novembro de 2018 no Japão, o empresário foi solto sob fiança em abril de 2019, após 130 dias de detenção.

Em prisão domiciliar, foi proibido de deixar o Japão até o julgamento. Ele é suspeito de ter fugido pegando um jato particular no Aeroporto Internacional de Kansai, perto de Osaka (oeste do Japão), com dois supostos cúmplices, de nacionalidade americana, segundo a televisão japonesa.

Ghosn teria escapado ao controle, escondendo-se em uma caixa de equipamentos para shows, segundo a mídia japonesa. 

Tóquio, que tardou em condenar oficialmente à fuga, reagiu rapidamente ao que chamou de "espetáculo midiático" promovido por Ghosn em Beirute.

"Quero que ele enfrente a Justiça japonesa. Mas fugiu, mesmo quando não estava preso e podia ver seus advogados livremente. Essa atitude da parte dele é indescritível", declarou a ministra da Justiça do Japão, Masako Mori.

"Em todo caso, sua fuga é injustificável", acrescentou em coletiva de imprensa.

"Se o acusado Ghosn tem algo a dizer sobre seu processo, deve apresentar seus argumentos abertamente em um tribunal japonês e apresentar provas concretas", afirmou a ministra.

Os procuradores japoneses também reagiram à entrevista de Ghosn e classificaram suas críticas como "inaceitáveis".

Em uma nota, a Procuradoria de Tóquio considerou "categoricamente falsas e contrárias aos fatos" as acusações feitas por ​Ghosn de que a Justiça japonesa e a Nissan teriam armado um complô para afastá-lo do cargo.

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