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Moda

Marcas de luxo temem que coronavírus leve a sumiço de chineses ricos na temporada de desfiles

Em Paris, por exemplo, turistas da China já compram mais produtos finos que os americanos e, se não forem às compras, baque será grande

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São Paulo

Se a OMS demorou para acender o sinal vermelho em relação ao coronavírus, a indústria da moda já acendeu o da emergência internacional. Após um final de ano gordo para os cinco maiores grupos de luxo, com máximas históricas registradas nas Bolsas até dezembro, LVMH (Louis Vuitton, Dior e Tiffany), Kering (Gucci, Balenciaga e Bottega Veneta), L’Oreal, Richemont e Hermès zeraram ganhos após o pânico gerado pelo avanço da doença.

Cantora Billie Eilish usa máscara da Gucci
Cantora Billie Eilish usa máscara da Gucci - Valeria Macon/AFP

O tombo acumulado já beira os 5% em todos os grupos e tem origem registrada, a China. Pelas estimativas iniciais do banco UBS, mantida a situação atual, a queda nas vendas no mercado de luxo pode chegar a 7% neste ano.

No entanto, analistas da área de moda, que trabalham ou já trabalharam para o mercado europeu, apontam as cidades fashion europeias como epicentros de uma segunda fase do problema e, por isso, não veem sinal de melhora, pelo menos até meados de março.

O mercado ainda não contabilizou o impacto nas vendas durante as temporadas de desfiles, que começam em Nova York, mas logo seguem para Londres, Milão e, finalmente, Paris, na última semana do mês. Também não há avaliação sobre o humor dos mercados-chave, como Tóquio e Hong Kong, próximos ao território mais afetado pelas infecções.

Paris, Milão e Londres estão entre as mecas do mercado de luxo e da moda que aguardam com ansiedade os chineses endinheirados que não abrem mão das melhores grifes. Se eles não aparecerem, com certeza haverá retração no resultado. 

Para se ter uma ideia, durante as duas temporadas anuais, a federação da moda francesa estima movimento de quase R$ 40 bilhões no varejo e nas reservas de hotéis desse setor que, na França, ganha da aviação e da indústria automobilística em relevância.

O problema é que nessa conta os turistas chineses reinam, mesmo após o esvaziamento dos meses seguintes aos atentados de 2015 e com uma debandada de 11% no número de turistas asiáticos em 2016. Naquele ano, eles temiam uma onda de roubos a joalherias e centros de luxo, que fez as vendas do setor caírem, segundo o Comitê Regional de Turismo, quase R$ 5 bilhões.

Só em 2018, segundo a câmara de comércio de Paris, os chineses gastaram R$ 1,4 bilhão em roupas, acessórios e perfumes, R$ 200 milhões a mais do que os consumidores americanos.

Não é coincidência, então, que as maiores perdas nas bolsas tenham atingido marcas dependentes do mercado asiático para gerar dividendos.

Suas ações começaram a despencar em 17 de janeiro, logo após o mercado precificar o anúncio do governo japonês confirmando o primeiro caso de coronavírus importado da China –o Japão responde por cerca 25% do consumo de grifes de luxo estrangeiras na Ásia.

A inglesa Burberry, por exemplo, acumula perda de 13,7% no valor de sua ação, e pode se gabar de ter sentido tardiamente o impacto se comparada à italiana Salvatore Ferragamo, cuja cotação desvalorizou 12,6% desde o registro da primeira morte confirmada, em 9 de janeiro.

Foi só com a crise de 2008, fatal para o consumo de luxo no Ocidente, que marcas passaram a paparicar a pujante economia asiática. Hoje, com os registros de desaceleração das economias da região, Pequim, Xangai, Hong Kong e Tóquio viraram as novas Nova York, Londres, Milão e Paris das marcas. Elas reformaram lojas, abriram novos pontos e, principalmente, promoveram desfiles suntuosos e ainda mais caros dos que os das semanas oficiais.

Isso explica porque na terça-feira (28) os dois maiores grupos do mundo, LVMH e Kering, juntamente à austríaca Swarovski, doaram 2,8 bilhões de euros, quase R$ 15 bilhões, para ajudar nos planos de contingenciamento. A maior parte da verba deve ser destinada à cruz vermelha.

No mesmo dia, durante o anúncio dos números do quarto trimestre de 2019, o presidente do LVMH, Bernard Arnault, fez o que se esperava e tentou acalmar o mercado. Segundo ele, até dois meses e meio de crise não é algo “terrível”. “Se levar dois anos, essa é uma história diferente.”

Mas não é bem assim à luz dos números. A receita do grupo em um único território, Hong Kong, caiu 40% no último trimestre por causa dos protestos da população contra a China.

Uma emergência internacional com repercussões na própria casa do luxo, a Europa, que segurou hoje no porto de Civitavecchia, na Itália, todos os turistas embarcados em um navio por causa de suspeitas de infecção pelo coronavírus, fará a história virar algo muito além do terrível, mas uma catástrofe.

Os analistas não acreditam que o consumo dessas marcas no Brasil será afetado, porque além de seus turistas figurarem no último lugar entre os Brics (sigla que reúne Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) no ranking de mais gastadores da Europa, o país não tem o que se chama de cidade-vitrine, ou seja, alguma que receba número expressivo de turistas estrangeiros do tipo que alavanca vendas de luxo.

Nossas lojas se mantêm com consumo interno, sendo boa parte dele oriundo da carteira de turistas do interior.

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