Presidente da Casa da Moeda destitui comitê para garantir nomeação de amigo

Eduardo Zimmer Sampaio e Saudir Luiz Filimberti dividem uma casa no Condomínio Vivendas da Barra, o mesmo do presidente Jair Bolsonaro

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Rio de Janeiro

Escalado pelo ministro Paulo Guedes (Economia) para a tarefa de arrumar a Casa da Moeda, o presidente da estatal, Eduardo Zimmer Sampaio, 39, substituiu os integrantes do comitê de elegibilidade da empresa para aprovar a nomeação de um amigo para o cargo de diretor, com salário superior a R$ 40 mil mensais. 

Após as mudanças, os novos integrantes do comitê reviram duas decisões anteriores, o que permitiu a Zimmer compor sua equipe —que hoje enfrenta crise com os funcionários da estatal diante de impasse em relação a acordo coletivo e de proposta de privatização.

Fundada em 1694, a Casa da Moeda é responsável pela fabricação de cédulas e moedas, passaportes e selos de rastreamento de produtos como cigarros e bebidas. Foi incluída no plano de privatização do governo Bolsonaro em outubro de 2019.

No dia 29 de maio de 2019, o comitê encarregado pela análise do currículo de indicados à diretoria da empresa rejeitou o nome do administrador Saudir Luiz Filimberti  “por ausência de preenchimento dos requisitos” para a cadeira de diretor de Inovação.

Saudir Luiz Filimberti quando era Diretor-geral Adjunto do Detran-RS
Saudir Luiz Filimberti quando era Diretor-geral Adjunto do Detran-RS, hoje é diretor de Inovação e Mercado da Casa da Moeda - Reprodução/Detran-RS

Dono de uma empresa de transportes e ex-diretor do Detran do Rio Grande do Sul, Filimberti não comprovou, segundo relatório, experiência nem apresentou elementos comprobatórios de ter ocupado por quatro anos cargo em comissão ou função de confiança equivalente ao nível de direção para o qual era designado.

Aprovado ​no mesmo dia em que o amigo fora rejeitado, Zimmer consultou o departamento jurídico da companhia sobre a possibilidade de destituição do comitê de elegibilidade.

Autorizado, na segunda quinzena de junho, Zimmer trocou os integrantes, indicando seu atual chefe de gabinete e a superintende de Recursos Humanos, oriunda do departamento de segurança, para o comitê de elegibilidade. 

Até então, o comitê era composto por dois funcionários do departamento jurídico e um auditor, como recomenda o estatuto da empresa.

Com sua nova composição, o comitê aprovou a nomeação de Filimberti no dia 26 de junho.
Empossado em julho e transferido para o Rio, Filmberti dividiu até dezembro com Zimmer uma casa no Condomínio Vivendas da Barra, o mesmo do presidente Jair Bolsonaro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Retrato da entrada de um condomínio de casas; a portaria tem uma cancela, um portão de barras marrom, uma pequena casa de portaria e uma placa escrito 'Vivenda da Barra'
Fachada do Vivendas da Barra, localizado na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro; Eduardo Zimmer Sampaio e Saudir Luiz Filimberti dividem uma casa no mesmo condomínio de Jair Bolsonaro - Raquel Cunha/Folhapress

Além de Filimberti, o novo comitê aprovou ainda indicação de Fábio Rito Barbosa —cujo nome também tinha sido rejeitado— para a diretoria de Gestão da estatal.

Também com sua nova composição, o comitê aprovou, em setembro, a indicação do então chefe de gabinete de Zimmer, Marcelo da Silva Corletto, para o comando da área de Compliance, função que, a partir daí, passou a ter status de diretoria.

Corletto também morou temporariamente com Zimmer e Filimberti na casa da Barra da Tijuca. Todos os diretores da Casa da Moeda têm direito a carro blindado e motorista.

Segundo o estatuto da Casa da Moeda, "a empresa disporá de Comitê de Elegibilidade que visará auxiliar os acionistas na verificação da conformidade do processo de indicação e de avaliação dos administradores e conselheiros fiscais".

Ainda de acordo com o estatuto, os integrantes do comitê podem ser responsabilizados caso não se manifeste dentro do prazo previsto, de de até oito dias úteis a partir do recebimento de formulário padronizado da entidade da Administração Pública responsável pelas indicações, e se comprove o descumprimento de algum requisito.

Procurada, a Casa da Moeda afirmou, por intermédio do diretor Marcelo Corletto (Compliance), que a “função [do comitê de elegibilidade] é opinativa em relação aos indicados, tanto pelo preenchimento dos requisitos, quanto pelas vedações legais".

“Nestas normas que criam e regem o Comitê de Elegibilidade, verifica-se que o objetivo é o de auxiliar os acionistas opinando sobre o preenchimento dos requisitos e ausência de vedações aos indicados para administradores e conselheiros fiscais da empresa, e a verificação da conformidade do processo de avaliação dos mesmos”, afirmou.

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