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Startup social não deve ter vergonha de dar lucro, diz brasileiro da Expo 2020

Para paulistano que controla investimentos de US$ 100 mi em Dubai, inovação não precisa de mais ideias, mas ganhar escala

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Dubai

É pelas mãos de um brasileiro que passam os US$ 100 milhões destinados a inovação pela Expo 2020 Dubai, exposição mundial que ocorre a cada cinco anos e reunirá cerca de 200 países nos Emirados Árabes Unidos.

Aos 37 anos, o paulistano Yousuf Luiz Caires é o vice-presidente responsável pela Expo Life, braço de financiamento que vai incentivar 160 projetos de impacto social.

Com o último bloco de seleção marcado para fevereiro, a Expo Life recebeu mais de 11 mil inscrições. Entre as 120 já incentivadas, apenas uma é brasileira: a paranaense F123 Consulting, cujo software facilita o acesso de deficientes visuais a serviços de relacionamento com clientes (CRMs).

Yousuf Luiz Caires, 37, é nraduado na Universidade Northeastern e mestre em comércio internacional na Universidade Estadual de Michigan; é vice-presidente da Expo Live, fundador e diretor da Fundação Milele Zanzibar, ONG que atua em saúde e educação na Tanzânia - WGES

Algum problema com a inovação no Brasil? “Vieram muitas pesquisas, mas faltaram startups”, diz Caires. O foco da Expo 2020 não é apoiar ideias, mas protótipos, produtos, empresas já formadas.

 

E que deem lucro. O executivo acha importante marcar a ideia de que soluções sociais “podem ser oferecidas por empresas que cobram, sim, e têm o direito de cobrar por esses serviços”.

Para Caires, o mundo —e o Brasil— não precisa de mais ideias nem só de dinheiro, mas de políticas públicas que deem escala à soluções desenvolvidas.

“Não adianta investir mais e mais em pequenas inovações. Se não ganhar escala, não passa de uma boa experiência.”

O executivo brasileiro diz que, encerrada a Expo 2020, o projeto de financiamento será mantido, como novo nome e novo orçamento.

As exposições mundiais anteriores mostraram inovações que afetam a vida de hoje. O que se pode esperar de Dubai?
No caso da Expo Live, a ideia é reunir inovações do mundo inteiro, para quebrar o estereótipo de que inovação só vem de certos polos.

O Brasil tem só um projeto escolhido. Isso indica algum problema?
Gostaríamos de ter mais inscrições do Brasil.

Foram poucas? Mesmo com tantos polos de inovação?
Foram mais de 40, mas muitas vieram de universidades federais, como Rio de Janeiro, Pernambuco e Natal.

Quais as deficiências dos projetos?
Nosso programa não apoia ideias, projetos de pesquisa; buscamos protótipos, produtos, empresas formadas, com algo no mercado. Do Brasil vieram muitas pesquisas, mas faltaram startups. Mas não é porque selecionamos só um projeto que o país não tem inovação. A gente é que não conseguiu chegar a eles.

Inovações precisam ganhar escala, e isso requer políticas públicas. A Expo apoia esse passo também?
Muitos institutos filantrópicos apoiam a inovação do zero até o ponto em que há algo a ser demonstrado. Mas, a partir daí, existe um buraco. E lá na frente há o setor privado dizendo “estou pronto para investir, mas preciso de metas, riscos detalhados, plano de negócios”.

Aprendemos muito sobre isso. Não adianta investir mais e mais em pequenas inovações, sem entender que, se não ganhar escala, não passa de uma boa experiência ou um projeto-piloto. Projeto-piloto é o que mais tem. É preciso o momento de política, de regulação, do que o país oferece para que se crie uma empresa: incentivos financeiros, liberdade para atuar e testar o projeto e o serviço. É algo que os Emirados estão fazendo.

As alternativas precisam de mais que dinheiro. Precisam de um ecossistema e de apoio político.

Com pouco dinheiro e sem apoio político, há como ultrapassar os projetos-piloto?
Minha esperança é a tecnologia. Ela avançou até um ponto em que quebra um pouco essas barreiras. A forma como as pessoas se comunicam já se modificou completamente e atravessou fronteiras em todos os países e regiões, com grande velocidade. 

A tecnologia não para. A legislação pode estacionar, mas a tecnologia vai empurrar, derrubar as barreiras e fazer com que certos projetos atinjam escala. É uma visão que ainda não está nos livros-texto de economia, pois a força da tecnologia nunca foi tão forte.

Não é contraditório falar em sustentabilidade num país como os Emirados, que depende tando do petróleo, fonte de energia agressiva ao ambiente? Os Emirados já disseram que querem celebrar o último barril de petróleo. E, em Dubai, especificamente, menos de 2% do PIB vem do petróleo. Vivemos muito mais do turismo, dos serviços. Os Emirados são dependentes do petróleo hoje, mas não serão no futuro. Assim como se transformou de deserto em grandes cidades em 40 anos, também fará a transição na parte da energia.

De onde vem a maior parte dos projetos aprovados?
Índia e Nigéria foram os países mais expressivos em termos numéricos. Dos EUA e da Europa vieram projetos que usam tecnologia para resolver problemas sociais ou ambientais. Da África, o grande foco é uso de tecnologia em agricultura e saúde pública.

Da América Latina, apoio à inclusão e acesso à Justiça e a direitos civis. A Colômbia demonstrou ter um movimento empreendedor muito ativo.

Dá para apontar os top 3?
Não, mas há áreas que eu pessoalmente valorizo, como os projetos que usam tecnologia muito sofisticada para resolver problemas sociais, em vez de seguir o caminho de muitos, de levantar dinheiro e ser comprado por alguém lá na frente.

Pode dar um exemplo?
Uma empresa sueca desenvolveu um sistema de previsão climática muito sensível, capaz de antecipar a chuva em um bairro e não no outro, por exemplo, e vende o serviço para pequenos fazendeiros em Gana. A empresa é ao mesmo tempo social e sustentável. Isso é fundamental, ter fins lucrativos, poder se manter sozinha, como resultado do seu serviço.

O sr. falou que, para ser apoiado, o projeto tem que ser lucrativo...
Venho do terceiro setor, tenho uma ONG na Tanzânia, existe um lugar para projetos sem fins lucrativos. Mas, neste momento, essas soluções podem ser oferecidas por empresas que cobram, sim, e têm o direito de cobrar por esses serviços, mesmo que eles sejam de impacto social.

O que é a Expo Live
Programa da Expo 2020 Dubai para financiar, acelerar e promover soluções nas áreas de mobilidade, sustentabilidade e oportunidade

Orçamento total 
US$ 100 milhões

Inscritos 
11 mil, de 184 países

Selecionados
​120, de 65 países

Incentivo
Startups recebem US$ 100 mil, metade na seleção e metade ao ter o impacto avaliado; empresas serão apresentadas a clientes e investidores internacionais
 

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