Vale ensaia recuperar valor de mercado pré-Brumadinho

Ações da mineradora atingem R$ 56,15 no pregão, preço anterior ao rompimento da barragem em MG

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São Paulo

As ações da Vale tiveram forte alta nesta terça-feira (14) e chegaram a R$ 56,35, valor acima dos R$ 56,15 registrados no pregão anterior à tragédia em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019.

Ao longo do pregão, os papéis perderam força e fecharam em alta de 06%, a R$ 55,64. Com a valorização, a companhia está a R$ 2 bilhões de seu valor de mercado pré-Brumadinho, de R$ 296 bilhões. 

Logo após o rompimento da barragem de rejeitos na mina do Córrego do Feijão em Minas Gerais, os papéis da mineradora foram a R$ 42,38, queda de 24,5% no pregão e uma perda de R$ 72 bilhões em valor de mercado em um único dia. 

número oficial de mortos da tragédia é de 255 e 15 pessoas ainda são dadas como desaparecidas. 

A valorização da Vale é fruto do otimismo do mercado com a empresa e com o setor. A China, maior importador do minério de ferro brasileiro, está em vias de assinar a fase 1 do acordo comercial com os Estados Unidos, o que deve acelerar sua economia. Nesta terça, o minério de ferro subiu 1,4%. De janeiro passado até agora, a alta é de 36%.

O preço da matéria-prima também deve subir em 2020, segundo relatório do Credit Suisse. O documento argumenta que os estoques da China terminaram 2019 em níveis muito baixos e que isso, junto ao ano novo chinês mais cedo, sugere que a produção de aço deve crescer rápido no primeiro trimestre.

O banco também cita planos de investimento em infraestrutura da China, além de oferta ainda reduzida da commodity, com os estoques dos portos nos níveis mais baixos desde setembro e com os embarques do Brasil e da Austrália caindo com o inicio da temporada chuvosa em ambos.

Do lado corporativo, o Bradesco BBI recomendou compra das ações da Vale na segunda (13), indicando que a empresa é uma "subestimada máquina de fazer dinheiro em modo de diminuição de riscos". O Bradesco é um dos maiores acionistas da Vale.

Também nesta segunda, o Valor Pro noticiou que Vale negocia a compra da fatia da Cemig na Aliança Energia, o que deixaria a mineradora como única dona da elétrica. A Vale visa tornar-se autossuficiente em energia até 2030 e a Aliança tem sete usinas hidrelétricas.

Na segunda, a Vale registrou forte alta de 3,6%.

O cenário positivo se junta às medidas reparatórias e preventivas que a companhia tem anunciado, como a reincorporação de nove barragens semelhantes à de Brumadinho ao relevo e ao ambiente (descaracterização). A medida visa evitar novos rompimentos.

A barragem de Brumadinho se rompeu em menos de dez segundos, e despejou 9,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos em menos de cinco minutos, o equivalente a 75% do conteúdo da estrutura. 

Os materiais retidos na barragem apresentavam comportamento frágil, diz relatório, fazendo com que perdessem resistência.

O ocorrido é semelhante ao rompimento da barragem de Mariana, em 2015, da mineradora Samarco —que tem a Vale como uma de suas donas—, quando 19 pessoas foram mortas.

Foram abertas cinco CPIs para investigar o caso: na Câmara, no Senado, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais e nas Câmaras de Vereadores de Belo Horizonte de Brumadinho.

Em setembro, treze funcionários da Vale e da Tuv-Sud, empresa alemã responsável por atestar a estabilidade da estrutura de Brumadinho, foram indiciados por crimes de falsidade ideológica e uso de documentos falsos com relação ao rompimento da barragem B1, na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho.

Segundo estimativas da Vale, foram desembolsados com reparação, indenizações e despesas pelo desastre em Brumadinho US$ 1,6 bilhão (R$ 6,55 bilhões) em 2019. Tal valor é menor que a quantia a ser distribuída acionistas de R$ 7,25 bilhões, na forma de juros sobre capital próprio, referentes ao ano de 2019.

A provisão total relacionada a Brumadinho até 2031 é de US$ 8 bilhões (R$ 32,75 bilhões), valor que inclui a descaracterização de nove barragens.

Nos dois trimestres que se seguiram ao desastre, a companhia reportou prejuízos líquidos de R$ 6,78 bilhões no total. No terceiro trimestre, a Vale voltou a registrar lucro, de R$ 6,5 bilhões, um resultado 13,7% superior ao registrado no mesmo período de 2018.

A tragédia em Brumadinho afetou a produção de minério de ferro da companhia e afetou a indústria brasileira, com impacto negativo no PIB (Produto Interno Bruto) do país.

Após o rompimento no Córrego do Feijão, a mineradora interrompeu o uso de barragens semelhantes e, em seguida, autoridades como o Ministério Público e a ANM (Agência Nacional de Mineração) determinaram o fechamento de outras unidades.

De acordo com a Vale, sua produção de minério no primeiro trimestre foi 11,1% menor do que no mesmo trimestre do ano anterior. A queda comprometeu a disponibilidade internacional da matéria-prima, elevando seu preço.

Segundo relatório da XP Investimentos, “para cada US$ 10 por tonelada de aumento no preço do minério, o Ebitda da Vale aumenta US$ 3 bilhões".

O Ebitda (lucro antes de impostos, depreciação e amortização) é uma medida usada por analistas do mercado financeiro para avaliar o resultado operacional da companhia. A empresa pode ter um Ebitda positivo e registrar prejuízo. No terceiro trimestre de 2019, a Vale teve um Ebitda de R$ 18,3 bilhões.

“A produção [da Vale] foi comprometida, mas isso foi compensado pelo preço do minério de ferro, que está em um patamar bem elevado. Fora que a companhia fez o dever de casa bem feito, reduziu o endividamento e melhorou o caixa”, diz Luis Sales, da Guide Investimentos. 

O analista lembra que a empresa quase se recuperou de Brumadinho já em abril do ano passado, mas voltou a cair pelos riscos relacionados a outras barragens.

A alta do dólar, cotado a R$ 4,13, também contribui para a melhora nos resultados da companhia, que é voltada a exportação. Desde janeiro passado, a moeda americana sobe cerca de 9% em relação ao real.

No mesmo dia da tragédia em Brumadinho, a XP afirmou em relatório que o rompimento da barragem e queda de 8% dos recibos de ações (ADRs) da mineradora na Bolsa de Nova York no dia 25 não alteravam a recomendação de compra da corretora.

"A queda de aproximadamente 10% [em Nova York] parece já refletir parte relevante dos riscos, portanto mantemos nossa recomendação inalterada, em compra, com horizonte de médio – longo prazo. Entretanto, uma série de incertezas em relação ao impacto no curto prazo permanecem, portanto sugerimos cautela", diz Karel Luketic, estrategista-chefe da corretora, no documento.

Diferente das ações no Brasil, as ADRs ainda não se recuperaram da forte queda e são cotados a   US$ 13,45 (R$ 55,54). Antes da tragédia, eles eram negociados a US$ 14,86 (R$ 61,37).

Na ocasião, a Bolsa de Valores brasileira estava fechada por conta do feriado do aniversário da cidade de São Paulo.

Nesta terça, o Ibovespa fechou em leve alta de 0,26%, a 117.632 pontos.

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