Crises desnecessárias no governo podem reduzir clima de otimismo com a economia

Polêmicas podem paralisar agenda de reformas, apontam analistas

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São Paulo

Economistas ouvidos pela Folha afirmam que o risco de paralisação da agenda de reformas, o crescimento econômico menor que o esperado e as falas polêmicas e atritos com o Congresso podem reduzir o clima de otimismo com a economia brasileira, sobre o qual pesa ainda a incerteza em relação ao desempenho econômico global.

O professor de Macroeconomia do Insper João Luiz Mascolo afirma que o governo tem produzido novamente crises desnecessárias que podem prejudicar o andamento das reformas e afetar as expectativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020.

“Todo mundo começou o ano mais otimista. Presumia-se que o caminho estaria aberto para outras reformas. Agora, o questionamento voltou, todo mundo fica mais cauteloso, e isso tudo retarda a arrancada que estávamos esperando”, afirma Mascolo.

“Torço para que esses ruídos, arroubos, sejam minimizados, esquecidos. Quem sabe o Carnaval ajuda.”

Sobre o risco de o presidente Jair Bolsonaro dar uma guinada populista na economia, ele afirma que não há mais espaço para que esse tipo de política de estímulo dê resultado. Afirmou que até a liberação do FGTS anunciada pelo governo no ano passado foi menos direcionada ao consumo do que se esperava.

“Eu tenho dúvidas se no Brasil de hoje há espaço para um voo de galinha desses. O Lula conseguiu em 2010, a Dilma repetiu e já não deu em nada. Isso ficou bastante desgastado.”

Para o professor de economia Fernando Botelho, da FEA-USP, os dados que mostram recuperação mais lenta da economia podem ajudar o ministro Paulo Guedes (Economia) a convencer o presidente da urgência de avançar na agenda de reformas, embora haja sempre o risco de uma guinada populista. “O fato de a economia vir um pouco mais fraca talvez devolva um certo senso de urgência ao governo. Sem a agenda reformas, podemos voltar para um clima de desânimo”, afirma Botelho.

Ele afirmou que o Executivo tem se acovardado diante da possibilidade de promover mudanças e cita o receio de Bolsonaro em relação à reação do funcionalismo. Também afirma que a proposta de Guedes de fazer uma reforma tributária que trata apenas de duas contribuições federais (PIS e Cofins) –a da Câmara unifica cinto tributos– não resolver o problema do sistema tributário.

Sobre as declarações polêmicas de Guedes, afirma que elas não ajudam na tramitação das reformas e que podem refletir um momento difícil para o ministro.

“As declarações são mais um sintoma de uma situação pela qual ele deve estar passando, de ter uma certa visão de que precisa continuar a fazer reformas, mas não encontrar respaldo para isso na cúpula do governo”, diz o economista.

“O presidente teve uma postura corporativista por mais de 20 anos. Convencer o Bolsonaro deve ser bastante difícil. Ele [Guedes] parece estar impaciente. Talvez não esteja com tanto prestígio. Com a economia dando uma pioradinha, talvez volte a ser ouvido.”

Em relatório divulgado nesta quinta-feira, a consultoria LCA cita expectativa desfavorável para os ativos domésticos em função de três fatores, a começar pelas falas de Guedes e do presidente do Banco Central de que o real fraco não é um risco para a economia.

“Em segundo lugar, temos os problemas na agenda de reformas, como o adiamento do envio da reforma administrativa e as mudanças na PEC dos Fundos, feitas na CCJ do Senado, que ameaçam o Teto de Gastos. Em terceiro lugar, a incerteza com o crescimento da economia.”

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