Em qualquer tempo e sistema político, ausência de clareza de objetivos é o pior que pode haver num governo; decorre daí a incapacidade de coordenação. Pois, ao estabelecer objetivos claros, governos definem estratégias, pactos e planos de ação.
É a política de comunicação mais efetiva: saber o que fazer, por que fazer e como fazer. É tudo o que falta ao governo. Por definição, governo que não conduz não é governo.
Em Jair Bolsonaro, a dispersão e a falta de foco são a regra de seu torto processo de construção política. Sem definir exatamente o que pretende, o presidente abriu mão de formar maioria no Congresso.
Afirmando resistir ao fisiologismo com que as maiorias comumente são feitas, negou-se a qualquer tipo de política: nem admite as naturais barganhas do jogo nem tampouco envolve e seduz o Parlamento com um projeto claro.
Seu ministro da Economia exige sacrifícios inevitáveis de uma situação fiscal deplorável, mas nada oferece a parlamentares além do desgaste. Não faz ver luz no fim do túnel, não oferece esperança. Limita-se a promessas não realizadas de crescimento.
O desenvolvimento depende de um choque de expectativas positivas em relação a essa agenda, mas o próprio presidente não parece sintonizado com ela. Em Bolsonaro, a dispersão é o estado de espírito mais frequente: são recorrentes os desvios de foco, as polêmicas improdutivas, as agressões ressentidas à imprensa e despropósitos de vários tipos. Com quais objetivos?
Relações entre Poderes baseiam-se em autonomia, entendimentos e colaboração. O caso do Orçamento impositivo é exemplar: na discricionariedade das liberações de emendas, o Executivo submetia o Legislativo.
Não era bom, e nova legislação estabeleceu novos valores e métodos diminuindo a discricionariedade do governo e elevando a autonomia do Legislativo. Tudo foi negociado e votado num processo em que bastaria ao Executivo conduzir a maioria —que abriu mão de ter— de acordo com seus interesses.
Talvez o general Heleno não compreenda que seu superior hierárquico não é chefe dos presidentes da Câmara e do Senado, tampouco é mais legítimo que o próprio Parlamento.
O argumento de que os 57 milhões de votos do presidente o tornam superior aos 75 mil de Rodrigo Maia é risível e denuncia o personalismo e o messianismo que, por fim, incompatibilizam Executivo e Legislativo, impedindo a cooperação e animando a oposição.
Tamanhas dispersão, ausência de foco e governo retardam, se não inviabilizam, reformas e a melhora fundamental do ambiente de negócios do que dependem o investimento e o crescimento econômico; por decorrência, o bem-estar da população.
A vocação autoritária do presidente e sua amazônica capacidade de produzir tsunamis aumentam a insegurança geral e deflacionam o maior ativo econômico de longo prazo que um país pode e deve ter: a qualidade de sua democracia.
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