Dólar pode voltar a R$ 4,10 com juro estável e mais crescimento, diz grupo de bancos e gestoras

Para economista, desvalorização recente não vai contaminar inflação

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São Paulo

A alta recente do dólar, que subiu 7,6% desde o início do ano, é um movimento que não deve provocar aumento generalizado de preços e pode ser revertido, caso a economia siga a trajetória de recuperação esperada pela maior parte do mercado financeiro e pelo governo.

A avaliação é do economista Fernando Honorato Barbosa, presidente do Grupo Consultivo Macroeconômico da Anbima, que reúne mais de 20 economistas das principais instituições financeiras e gestoras.

Para Honorato, a moeda brasileira tem se comportado de forma "mais normal”, ao responder mais ao diferencial de juros entre o Brasil e o exterior (que provoca saída de recursos do país) e ao crescimento da economia doméstica, que ainda não é suficiente para atrair investimentos que compensem essas saídas.

“Não temos um movimento de desvalorização associada a risco. É um movimento associado ao fato de que os juros caíram mais um pouco, a chance de que continuem baixos é muito grande, e não tem ainda um crescimento forte que atraia fluxo para Bolsa, ou mesmo investimento direto, que compense esse menor diferencial de juros”, afirma Honorato.

“A avaliação do Grupo é que, na medida em que o BC pare de cortar os juros e o crescimento acelere, o câmbio possa apreciar um pouco dos R$ 4,20 que estava na semana em que a gente se reuniu, R$ 4,30 hoje, para R$ 4,10. A nossa moeda passa a se comportar como um ativo mais normal: responder menos a risco e mais a diferencial de juros e crescimento.”

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Fernando Honorato Barbosa, presidente do Grupo Consultivo Macroeconômico da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. - Divulgação

O grupo de economistas projeta crescimento de 2,4% para a economia neste ano, juros estáveis em 4,25% ao ano e inflação de 3,5%, abaixo do centro da meta (4%).

Ele afirma ainda que, no cenário atual, os empresários tendem a esperar um pouco mais para ver se o movimento do câmbio é persistente, para então decidir se há ou não espaço para repassar aumento de custos para preços.

“É muito prematuro, muito cedo, para esse movimento da moeda levar a uma alta generalizada, a repasses generalizados para preços”, afirma.

Segundo o economista, são dois os elementos centrais que explicam porque o repasse do câmbio para a inflação tem sido baixo. O primeiro é o hiato do produto, diferença entre o PIB corrente e o PIB potencial.

“Estamos falando basicamente de um mercado de trabalho que começou a se recuperar, mas a taxa de desemprego ainda é elevada, e da ociosidade na indústria, que impede repasses de preços.”

O segundo ponto são as commodities e outros insumos industriais importados que caíram de preço, em alguns casos, em função dos efeitos do surto de coronavírus sobre a economia chinesa.

“Minha impressão é que, se eu reunisse o Grupo hoje, a avaliação seria essa, de que ainda tem um hiato grande na economia e tem as commodities caindo [de preço]. Mesmo o câmbio tendo se depreciado um pouco mais, as projeções de inflação devem seguir bem-comportadas”, afirma.

Para Honorato, a divulgação dos números da inflação de janeiro, que mostraram desaceleração em função da queda no preço das carnes, reforçaram a percepção do grupo de economistas de que a alta no preço das proteínas era passageira e estava se dissipando.

Ele também atribui o movimento do câmbio na semana ao fortalecimento do dólar diante de várias moedas, após a divulgação de dados positivos da economia norte-americana e diante de uma procura por ativos de baixo risco.

“O dólar está ganhando de todo mundo, do euro, de todas as moedas. O movimento dos últimos dois, três dias, tem muito a ver com o ambiente global em combinação com o estrutural [no Brasil].”

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