EUA pressionam pelo desenvolvimento de uma alternativa à Huawei no 5G

Companhias como Dell, Microsoft e AT&T são parte do esforço, diz Larry Kudlow, assessor econômico da Casa Branca

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Bob Davis Drew FitzGerald
Washington

Buscando combater a posição dominante da Huawei Technologies, da China, a Casa Branca está trabalhando com empresas de tecnologia americanas a fim de criar software avançado para redes de comunicação 5G de próxima geração.

O plano teria por base os esforços de algumas empresas de telecomunicações e tecnologia dos Estados Unidos para chegar a acordo sobre padrões comuns de engenharia que permitiriam que desenvolvedores de software para redes 5G criassem códigos que funcionem em máquinas produzidas por praticamente qualquer fabricante de hardware. Isso reduziria, ou quem sabe eliminaria, a dependência quanto a equipamentos da Huawei.

Empresas como a Microsoft, Dell e AT&T são parte do esforço, disse Larry Kudlow, assessor econômico da Casa Branca.

 

“O conceito mais amplo é ter toda a arquitetura e infraestrutura 5G nos Estados Unidos feita principalmente por companhias americanas”, disse Kudlow em entrevista. “Isso também poderia incluir a Nokia e a Ericsson, porque elas têm grande presença nos Estados Unidos”.

Os Estados Unidos afirmam que a Huawei tem fortes elos com as forças armadas chinesas, o que faria do uso de seu equipamento um risco de segurança nacional. A Huawei nega essas conexões e afirma operar independentemente.

Kudlow disse que Michael Dell, fundador da Dell, era forte partidário do projeto, apontando que o software está se tornando mais importante, à medida que a tecnologia 5G se desenvolve.

“A Dell e a Microsoft agora estão agindo rápido para desenvolver software e capacidades de nuvem que, na prática, substituirão muito equipamento”, ele disse. “Para citar Michael Dell, ‘nas redes 5G, o software está comendo o hardware’”, afirmou Kudlow.

O esforço está em estágio preliminar e enfrenta muitos obstáculos, entre os quais como unir diferentes empresas com prioridades variáveis. As redes de telefonia móvel usam tecnologia bastante especializada, que em geral é novidade para companhias de software para empresas como a Microsoft e a Dell. Mas representantes da Casa Branca estão levando o esforço a sério por conta do valor potencial da tecnologia 5G para a economia mais ampla.

Os proponentes da ideia dizem que o padrão de engenharia acionará uma “internet das coisas” na qual fábricas, equipamento domésticos e veículos se conectarão da forma que celulares fazem agora. Eles dizem que o 5G pode fazer por futuras startups de tecnologia o que o 4G fez por apps para smartphones como os da Uber Technologies e Snapchat, construindo uma fundação para futuras inovações.

Mas não será fácil derrubar a Huawei de sua posição de liderança mundial, no entanto.

A Huawei é a principal fornecedora mundial de equipamento de telecomunicações, seguida pela Nokia, da Finlândia, e Ericsson, da Suécia, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Dell’Oro Group. A companhia conquistou fãs em todo o mundo - entre os quais muitas pequenas operadoras de telecomunicações em regiões rurais dos Estados Unidos -, pela qualidade de seus equipamentos e pela assistência técnica que oferece.

Apesar das objeções dos Estados Unidos, o Reino Unido recentemente decidiu permitir que a Huawei participe na construção do sistema 5G do país.

Andy Purdy, vice-presidente de segurança da Huawei nos Estados Unidos, disse que as autoridades americanas não deveriam alienar a gigante chinesa das telecomunicações.

“Se os Estados Unidos quiserem hardware e software 5G desenvolvido opor uma companhia americana ou europeia, o governo deveria encorajar as empresas a negociar com a Huawei para obter licenças sobre nossa tecnologia 5G”, disse Purdy, acrescentando que, sem a propriedade intelectual da companhia, “o produto combinado estará de um a dois anos atrás dos produtos Huawei comparáveis, em termos de funcionalidade e confiabilidade”.

Paul Triolo, que comanda a área de política de tecnologia internacional na consultoria empresarial Eurasia Group, concorda em que a Huawei desfruta de liderança considerável.

“O problema é estar começando a tentar resolver o problema tarde no jogo”, disse Triolo sobre o esforço americano. Ele acrescentou que a iniciativa representaria ameaça à finlandesa Nokia e à sueca Ericsson por tonar suas máquinas produtos genéricos.

Representantes da Nokia e da Ericsson não responderam de imediato a pedidos de comentários.

Há outras questões com o potencial de desacelerar o processo. Se companhias dos Estados Unidos e europeias trabalharem separadamente, demoraria mais tempo para desenvolver tecnologia líder mundial. Se trabalharem juntas, isso despertaria preocupações em termos de leis antitruste.

Kudlow disse não acreditar que questões antitruste se tornassem, problema, afirmando que as companhias concorreriam para oferecer tecnologia 5G. “Estamos assumindo um papel de coordenação entre as principais companhias”, ele disse.

Kudlow não mencionou um cronograma para a ideia, ainda que outros integrantes do governo tenham afirmado que esperam ter um sistema em operação dentro de 18 meses. Antes, a Casa Branca havia considerado subsidiar um novo concorrente para a Huawei no campo do hardware, ou apoiar a criação de uma rede de 5G estatal, mas rejeitou as duas ideias.

Kudlow, que lidera a iniciativa como presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, disse que o presidente Trump apoia firmemente o esforço.

“O presidente me perguntou diversas vezes se não podíamos colocar o 5G sob uma infraestrutura simples”, disse Kudlow. “Estamos tentando criar uma infraestrutura completamente americana para o 5G. Ele continuava a ouvir informações de que a Huawei parece ser capaz de fazê-lo”.

Os legisladores dos Estados Unidos também propuseram bancar pesquisa e desenvolvimento de padrões abertos de 5G. Em janeiro, um grupo bipartidário de senadores propôs recorrer à arrecadação do próximo leilão de frequências conduzido pela Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), para bancar verbas de pesquisa sobre essas tecnologias.

O governo está considerando esses esforços mas ainda não decidiu se os apoiará, disse Kudlow.

Internacionalmente, representantes dos Estados Unidos discutiram os planos do país para o desenvolvimento do 5G a fim de tentar convencer aliados a excluir os equipamentos da Huawei de suas redes 5G. A Huawei está bem posicionada em países como o Reino Unido e a Alemanha. Kudlow disse que esperava que o projeto de software ajudasse o Reino Unido a reverter sua recente decisão de permitir que a Huawei participe da construção de suas redes 5G.

A campanha por desenvolvimento de software atraiu o interesse de representantes do governo britânico que desejam que as operadoras de telefonia móvel do país disponham de mais fornecedores entre os quis escolher do que apenas a Huawei e suas rivais escandinavas, de acordo com uma pessoa informada sobre o assunto.

Ao mesmo tempo em que o governo americano tenta bloquear a Huawei no exterior, enfrenta divisões internas sobre permitir ou não que empresas americanas continuem a fornecer componente ao grupo, que está em uma lista negra do Departamento do Comércio. O Departamento de Defesa recentemente se opôs a uma decisão do Departamento do Comércio que eliminaria uma lacuna que permite que empresas americanas continuem a vender chips de computador e outros produtos que não são considerados sensíveis do ponto de vista da segurança nacional.

O Pentágono argumentou que, se as empresas americanas perderem a Huawei como cliente, terão menos lucros a investir em pesquisa e desenvolvimento.

Kudlow sinalizou que está alinhado com a posição do Pentágono. “Não queremos tirar nossas grandes empresas do mercado; o presidente acredita fortemente nisso”, ele disse. “Mas por outro lado, estamos muito cientes de que a Huawei representa uma ameaça à nossa segurança nacional”.

tradução de Paulo Migliacci

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