EUA querem aproveitar relação com Bolsonaro para crescer em setor nuclear no Brasil

Estatal brasileira e a americana Westinghouse assinam acordo para avaliar a extensão da vida útil da usina Angra 1 nesta segunda (3)

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Rio de Janeiro

Em missão para estreitar parceria energética com o Brasil, o secretário de Energia dos Estados Unidos, Dan Brouillette, quer aproveitar a aproximação entre as gestões Donald Trump e Jair Bolsonaro para abrir mercado no país para empresas americanas do setor nuclear.

Nesta segunda-feira (3) a estatal brasileira Eletronuclear e a americana Westinghouse assinam acordo para avaliar a extensão da vida útil da usina Angra 1, a primeira do país, que entrou em operação em 1971.

Em entrevista neste domingo (2), Brouillette disse esperar que o acordo seja um primeiro passo para uma parceria na eventual construção de novas usinas nucleares no Brasil, citado por ele como um grande aliado dos Estados Unidos.

Ele veio ao país para reunião do Fórum de Energia Brasil Estados Unidos, estabelecido em 2019 durante visita do presidente Bolsonaro aos Estados Unidos. O encontro, nesta segunda, terá participação do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Vista geral das obras da usina termelétrica nuclear (UTN) Angra 3, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro - Divulgação/Eletronuclear/Folhapress

"Se é desejo do Brasil, da administração Bolsonaro e da administração Bento, ter novas usinas, estamos prontos para ajudar", disse o secretário, que assumiu o cargo em dezembro de 2019.

Neste momento, o governo brasileiro discute como atrair capital privado para a conclusão de Angra 3, obra parada em 2015 após descoberta de esquema de corrupção pela Operação Lava Jato. A ideia é buscar um parceiro que possa contribuir com os recursos necessários para concluir a obra.

O projeto vem atraindo a atenção de fabricantes de equipamentos de todo o mundo —como franceses, russos e chineses— interessados em abrir portas para aproveitar as oportunidades de uma eventual expansão no parque nuclear brasileiro, em um momento de retração da tecnologia em países desenvolvidos.

O primeiro acordo entre Brasil e Estados Unidos neste setor prevê estudos para avaliar a extensão, para até 60 anos, da vida útil de Angra 1, cujo reator foi fornecido pela Westinghouse.

"A indicação de que o Brasil quer estender a vida de Angra 1 é um grande acontecimento, pois entendemos que a energia nuclear é importante na questão climática, já que é 'carbon free' [não emite gás carbônico]", defendeu Brouillette, repetindo o argumento preferido do defensores da energia nuclear.

Ele argumentou ainda que a construção de novas usinas pode ajudar o país a desenvolver melhor as energias renováveis, já que a fonte nuclear pode ser usada como backup para períodos sem sol ou ventos.

Segundo ele, empresas americanas teriam interesse em atuar em todas as etapas da cadeia de geração de energia nuclear no país, incluindo produção, enriquecimento e reprocessamento de urânio. O Brasil também estuda atrair empresas privadas para a exploração do mineral.

Os Estados Unidos vão tentar vender ao Brasil também pequenos reatores para instalação em regiões remotas —desde micro usinas de um megawatt (MW)  a reatores de pequeno porte, de até 50 MW, que podem ser instalados em módulos.

"A alocação de pequenos ou micro reatores conectados a pequenas redes permite servir pequenas comunidades de um jeito que não são servidas hoje", disse. Antes da entrevista, ele se encontrou com empresas americanas interessadas nesse mercado.

Brouillette disse que a busca por mais usinas nucleares demonstra a preocupação de Brasil e Estados Unidos com as mudanças climáticas, quando questionado sobre as críticas ao governo Bolsonaro pelo aumento do desmatamento e as queimadas na Amazônia em 2019.

Ele afirmou ainda que os mercados de renováveis e petróleo e gás estão entre os pontos que serão discutidos pelo Fórum. Citando o megaleilão do pré-sal, no fim de 2019, afirmou que os Estados Unidos estariam dispostos a ajudar o Brasil a organizar ofertas de áreas petrolíferas - no leilão, apenas a Petrobras e companhias chinesas apresentaram ofertas, frustrando as expectativas do governo.

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