Descrição de chapéu Financial Times

Facebook oferece pagamento aos usuários por suas gravações de voz

Objetivo é treinar o sistema de reconhecimento de fala de aparelhos da empresa

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Londres | Financial Times

O Facebook está oferecendo pagamento aos seus usuários pelo acesso a informações pessoais, entre as quais gravações de suas vozes, em um exemplo raro de remuneração aos usuários de uma companhia de internet pelos dados que ela recolhe.

As gravações, realizadas por meio do novo app de pesquisa de mercado Viewpoints, ajudarão a treinar o sistema de reconhecimento de fala que aciona o aparelho Portal, rivais do alto-falante Echo e da assistente digital Alexa da Amazon.

Fabricantes de alto-falantes inteligentes como Facebook, Amazon, Apple e Google enfrentaram críticas no ano passado quando surgiu a informação de que eles enviam rotineiramente gravações das vozes de seus usuários a moderadores humanos, sem revelar a prática aos usuários ou obter seu consentimento.

A decisão do Facebook também abre a porta a uma ideia que políticos e as autoridades regulatórias vêm propondo há muito tempo: a de que as informações recolhidas pelo Facebook e outras plataformas online são tão valiosas para as empresas e seus anunciantes que os consumidores deveriam ser pagos por seu uso.

O app Viewpoints do Facebook, lançado três meses atrás para testar novos recursos da companhia e conduzir pesquisas de opinião entre seus usuários, esta semana começou a convidar usuários dos Estados Unidos a dizer “Hey Portal”, e os nomes de até 10 amigos. Quem passar pelo processo de gravação cinco vezes ganharia pontos que poderiam ser convertidos em um pagamento de US$ 5.

Os dados, e o valor que deveria ser atribuído a eles, se tornaram um novo foco de atenção para as autoridades de defesa da competição, nos últimos anos. Esta semana, a Comissão Europeia anunciou que as companhias dominantes de tecnologia teriam de compartilhar seus dados com rivais menores, sob “condições justas, transparentes, proporcionais e/ou não discriminatórias”.

Os críticos do acúmulo de dados pelas companhias de internet argumentam há muito tempo que os consumidores não estão sendo remunerados devidamente por entregar uma vasta quantidade de dados pessoais, ainda que a rede social do Facebook, o serviço de buscas do Google e outras ferramentas sejam fornecidos gratuitamente.

“Problemas de competição podem resultar em que os consumidores recebam compensação insuficiente por sua atenção e pelo uso de seus dados”, afirmou a Autoridade de Competição e Mercados do Reino Unido em um relatório sobre publicidade digital, em dezembro.

“Ainda que muitos serviços online sejam fornecidos gratuitamente, no momento, em um mercado que funcionasse bem os consumidores poderiam ser pagos pelo seu engajamento online, ou teriam escolha sobre a quantidade de dados que fornecem”.

O Facebook declarou esta semana que o mais recente recurso do Viewpoints foi concebido para “melhorar a compreensão de fala”, ao treinar algoritmos de aprendizado por máquina que dependem de vasta quantidade de exemplos para aumentar sua precisão e melhorar seu desempenho.

“Os participantes gravam frases no app, o que nos ajuda a melhorar o reconhecimento da pronúncia de nomes em nossos produtos a fim de atender melhor as pessoas que os utilizam”, disse um porta-voz do Facebook.

Qualquer dado recolhido por meio do Viewpoints “nos ajuda a criar apps e serviços melhores e beneficiar a comunidade”, o Facebook afirmou no site do serviço. “Sua atividade no Facebook Viewpoints não será compartilhada sem a sua permissão com sua conta de Facebook ou outras contas às quais você tenha autorizado acesso. Tampouco revelaremos informações obtidas por esse app a terceiros”.

No entanto, as regras de uso de dados do Viewpoints revelam que algumas informações recolhidas por meio do app, como dados sobre pagamentos e o aparelho empregado pelo usuário, poderão ser usadas a fim de personalizar outros apps do Facebook e para direcionamento de publicidade. Os dados obtidos por meio do programa de pesquisa do Viewpoints também podem ser compartilhados com “parceiros de pesquisa”, entre os quais acadêmicos, provedores de conteúdo e anunciantes, ainda que o Facebook informe que os participantes serão informados caso isso aconteça.

Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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