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Greve de petroleiros associada a programa de privatizações sugere desorientação da esquerda

Nem os filhos tuiteiros do presidente teriam ideia tão boa para desmoralizar o movimento

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São Paulo

A ideia de associar a greve dos petroleiros a uma pauta contrária ao programa de privatizações do governo Jair Bolsonaro sugere um retrato da desorientação na oposição à esquerda no Brasil.

Nem os filhos tuiteiros do presidente teriam ideia tão boa para desmoralizar o movimento.

Greve que afeta a população, sendo justa ou injusta a reivindicação, tende a ser impopular no médio prazo.

Em maio de 2018, por exemplo, o Datafolha aferiu que 87% dos brasileiros apoiava a greve dos caminhoneiros. Dois meses depois, 69% achavam que o movimento havia sido prejudicial ao país.

Brasileiros são refratários a privatizações. A mais recente pesquisa do Datafolha sobre o tema, de setembro passado, mostrava 67% dos entrevistados contrários à venda de estatais.

A Petrobras, vilipendiada por anos de exposição negativa devido ao petrolão, seguia vagando como vaca sagrada, com 65% de rejeição à sua venda.

Isso parece nortear agora os partidos de esquerda, sem agenda palpável desde que a presidente Dilma Rousseff (PT) sofreu impeachment, em 2016, com a subsequente onda eleitoral conservadora que culminou com a eleição de Bolsonaro em 2018.

A questão é que a agenda grevista perdeu a atratividade política.

Um fator é tecnológico: uma paralisação de bancários pode durar meses sem uma disrupção excessiva na vida do país pelo simples motivo de que muitos usam aplicativos em smartphones para resolver suas pendências financeiras.

Pior para os petroleiros, a ideia de um movimento corporativista que afete o cotidiano em momento de crise econômica é de difícil vendagem, e aí não serão vouchers de desconto de combustível que ganharão corações e mentes.

E a tática de querer colar no governante da ocasião a responsabilidade pelo problema é arriscada por uma segunda razão: o ambiente político vigente.

Polarização à parte, o público brasileiro de 2020 é majoritariamente conservador —como, aliás, a rejeição às privatizações indica.

Agendas sequestradas por uma esquerda mais ortodoxa tendem a enfrentar resistência fora de seus nichos. Isso já havia sido demonstrado nos atos em favor da educação no começo do governo atual: quando passaram a incluir o Lula Livre na pauta, murcharam.

A tentativa de associação dos discursos agora é um prato feito para os propagandistas da direita ora no poder afixarem na esquerda o selo de baderneiros no tribunal das redes sociais.

Para o governo, particularmente sua renovada ala militar, é a oportunidade perfeita para exercitar a retórica da lei e da ordem.

Problema para o Planalto seria uma repetição da greve dos caminhoneiros —mas o piquete ensaiado em Santos nesta segunda (17) parece mais endereçado aos adversários de Bolsonaro nos governos estaduais, no contexto da briga do ICMS dos combustíveis.


O que os petroleiros querem

  • Protestam contra o fechamento da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, no Paraná
  • Todos os 396 trabalhadores da unidade serão demitidos
  • Os petroleiros acusam a empresa de desrespeitar o acordo coletivo de trabalho ao anunciar as demissões sem negociação com sindicatos

O que diz a Petrobras

  • A Petrobras alega que a fábrica dá prejuízo
  • Depois de uma tentativa fracassada de venda, decidiu fechar a unidade, que foi adquirida da Vale em 2012
  • A empresa tem parecer do TST impedindo a transferência dos empregados para outras unidades, já que não foram admitidos por concurso

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