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Indústria é ducha de água fria para quem espera retomada mais forte

Setor tem perdido competitividade, vem investindo pouco e sem avançar tecnologicamente ao ritmo das principais economias

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Armando Castelar

O dado da produção industrial não surpreendeu, mas foi na mesma uma ducha de água fria para quem espera para 2020 uma retomada mais forte da economia brasileira.

Em dezembro de 2019, a produção caiu ante novembro (-0,7%) e dezembro de 2018 (-1,2%), nesse caso apesar do maior número de dias úteis este ano (21 x 20). 

No todo, a produção industrial em 2019 foi 1,1% menor que em 2018, ficando no mesmo nível de 15 anos antes (2004) e 15% abaixo do patamar de antes da recessão de 2014-16.

Por trás desses números há duas histórias diferentes. No ano passado houve quase estabilidade (alta de 0,1%) na indústria de transformação, mas grande queda na extrativa mineral, em razão da menor produção de minério de ferro, em grande parte devido ao acidente de Brumadinho. 

Mas, até então, a extrativa vinha bem, já tendo se recuperado da recessão, enquanto na indústria de transformação a produção ano passado foi menor que em 2003 e 16% inferior ao nível pré-recessão.

Para entender por que a indústria não cresce, portanto, é preciso saber o que acontece com os manufaturados. Há três explicações distintas, mas não exclusivas.

A primeira é que a indústria de transformação tem sido afetada por choques adversos, como a guerra comercial dos EUA com a China e a crise na Argentina. De fato, as exportações brasileiras de manufaturados caíram 5% em 2019, em dólares constantes. Comparadas ao período pré-recessão, a queda foi de 13%.

A expectativa é que o acordo comercial entre China e EUA leve à retomada do comércio internacional, mas o impulso será modesto. 

Em relação à Argentina, o mais provável é que se observem novas quedas nas exportações, tanto porque a economia argentina continuará fraca como devido ao maior protecionismo do novo governo.

A exportação não deve, portanto, permitir uma recuperação mais forte da indústria de transformação, apesar da taxa de câmbio muito favorável.

A segunda explicação é que a produção de manufaturados tem sofrido com a fraqueza da economia: de fato, na média do triênio 2017-19, a produção da indústria de transformação cresceu 1,2% ao ano , ritmo 
semelhante ao do PIB (1,3%).

Nota-se, em especial, que a produção de bens de capital, que caiu 0,4% em 2019, fechou ano passado 31% 
abaixo do patamar de 2013. 

Da mesma forma, a produção de bens de consumo duráveis 21% mais baixa em 2019 do que em 2013 reflete a situação ainda ruim do mercado de trabalho. Aqui há mais espaço para crescer do que nas exportações, mas a recuperação vai se estender ao longo de vários anos.

Por fim, a produção de manufaturados segue retraída pois a indústria tem perdido competitividade, ela mesma investindo pouco e sem avançar tecnologicamente ao ritmo das principais economias. 

Isso se vê em números muito ruins de produtividade. Aqui o problema é mais profundo e ainda não é claro como fazer para a indústria de transformação recuperar seu dinamismo.

Armando Castelar

Coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV

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