Tenho esperança de que coronavírus não afete crescimento do Brasil, diz presidente do Itaú

Banco mantém a expectativa de 2,2% para avanço da atividade econômica brasileira

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São Paulo

O presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, afirmou ter esperanças de que a epidemia do novo coronavírus não tenha impactos maiores na economia mundial ou brasileira.

Segundo ele, as notícias sobre o vírus têm sido mais positivas –com uma desaceleração no número de novos casos dentro e fora da China– e, até o momento, não há razão para alterar a previsão de crescimento da atividade econômica.

“Acompanhamos com muito interesse a evolução do coronavírus e as notícias dos últimos dias têm sido mais positivas, mas ainda é muito cedo para fazer previsões mais precisas sobre isso. Por enquanto, nós podemos ter esperanças que [o coronavírus] não venha a ter impactos maiores na economia mundial e brasileira”, disse Bracher em teleconferência com jornalistas.

A alta do PIB (Produto Interno Bruto) projetada para este ano pelo banco é de 2,2%. Para 2021, a expectativa é de que esse aumento chegue a 3%. O último relatório Focus aponta que a previsão do mercado é de um crescimento de 2,3% para este ano e de 2,5% para 2021.

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Candido Bracher durante o Fórum Econômico Mundial, em São Paulo - Adriano Vizoni - 15.mar.2018/Folhapress

No final de janeiro a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou emergência de saúde pública de interesse internacional pelo surto do coronavírus. Identificado pela primeira vez em dezembro em Wuhan, na província de Hubei, na China, o vírus já infectou mais de 42 mil pessoas e causou mais de 1.000 mortes.

Especificamente no que diz respeito ao Brasil, Bracher afirma que as notícias no campo econômico são bastante positivas.

“Internamente, a estabilização da dívida pública sobre o PIB, a confiança de investidores se intensificando no Brasil e um mercado de capitais com uma demanda muito grande são muito bons. Isso tende a continuar positivo e nos dá confiança nessa projeção de crescimento para o país”, afirma o presidente do Itaú.

Sobre o mercado de capitais brasileiro, Bracher afirma que não vê sinais de bolha na Bola de Valores, mas diz que é um ponto que merece atenção.

"Eu não chamaria [a valorização da Bolsa] de bolha ainda. As taxas de juros baixas fazem com que as pessoas procurem maior risco e isso provoca valorização dos ativos. Não vejo sinais de bolha ainda, mas vejo razões para ficarmos atentos a isso porque é um fenômeno que tende a ocorrer [quando as ] taxas de juros ficam baixas por muito tempo", diz.

No caso da América Latina, por outro lado, Bracher diz que ainda espera alguns impactos pontuais advindos dos protestos no Chile ou até mesmo da crise na Argentina. O Itaú tem operações em países como Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai, Panamá e Uruguai. 

Segundo o vice-presidente executivo de finanças do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, o banco já sentiu pequenos impactos no balanço local relacionados aos protestos e à crise social no Chile.

“Alguns acontecimentos pontuais na carteira de varejo, mas nada relevante ou significativo. Além disso, casos específicos na carteira corporate [grandes empresas], com alguns grandes nomes no risco chileno, são crédito que já foram originados há bastante tempo, mas para as quais entendemos ser adequado fazer mais provisões devido ao cenário”, afirma Maluhy Filho.

Já no caso da Argentina, o banco já havia sinalizado na divulgação de resultados do terceiro trimestre de 2019, que reduziria a exposição no país e que permaneceria em um compasso de espera para tomar novas decisões.

“Assim, quando a eleição se deu, nós estávamos em um nível de exposição considerado bastante confortável. Foi isso o que eu chamei de modo de espera e continuo esperando. O cenário ainda não está claro, ainda não vimos como as autoridades e o mercado reagirão às propostas da Argentina, e a economia do país deve cair nesse ano”, afirma Bracher.

Segundo relatório de resultados do banco divulgado nesta segunda-feira (10), o aumento no custo de crédito (que avançou 29,1% em 2019 contra o ano anterior), veio como um reflexo da alta nas despesas com provisões para devedores duvidosos, que subiram 61,9% no quarto trimestre ante igual período de 2018.

Tal movimento viria do aumento nas provisões em operações do banco na América Latina, em sua maioria gerados pelo Itaú Argentina, pelo Itaú Uruguai e pelo Itaú Corpbanca —filial do Itaú com sede no Chile e operações na Colômbia e no Panamá.

O aumento das provisões no Itaú Argentina subiram 200% na relação trimestral. Já no Itaú Uruguai, a alta foi de 148%, enquanto o Corpbanca teve avanço de 46% na mesma comparação. 

Resultado

Quanto ao resultado do banco, que entregou lucro de 28,4 bilhões em 2019, alta de 10,2%, o presidente do Itaú afirma que o banco ficou dentro das projeções esperadas para o ano passado.

Em relação ao guidance para 2020, no entanto, o Itaú tem expectativas de desaceleração na carteira de crédito e na margem com clientes.

Enquanto o crescimento da carteira de crédito de 2019 ficou em 14,1% no Brasil (ante a expectativa de alta entre 8% e 11%), a projeção para 2020 é de um crescimento entre 10,5% e 13,5%.

O mesmo acontece com a margem de clientes. O banco apresentou aumento de 9,1% na receita em 2019 (ante a expectativa de alta entre 9% e 12%). Para este ano, a projeção é de um crescimento entre 1,5% e 4,5%.

Segundo Bracher, o impacto deste último viria principalmente das novas regras do cheque especial e da taxa básica de juros em mínimas históricas. A última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduziu a Selic para 4,25% ao ano.

“São pontos que fazem a diferença. No cheque especial, é uma redução no resultado mesmo, não tem compensação. E nos juros também há impacto na captação e no rendimento do nosso capital”, afirma o presidente do Itaú.

Sobre o custo de crédito, cuja previsão passou para um alta entre R$ 17,1 bilhões e R$ 20,1 bilhões –ante o crescimento de R$ 15,5 bilhões de 2019– Bracher afirma que é um avanço em linha com o crescimento da carteira de crédito.

“Cresce só um pouco acima. É o terceiro ano consecutivo que a carteira de crédito cresce de forma vigorosa e é natural que haja elevação no custo de crédito também. Tudo está dentro das expectativas”, diz.

Bracher afirma, ainda, que em relação ao crescimento da carteira, a expectativa é positiva para todas as linhas oferecidas pelo banco.

“Mas gostaríamos de ver um crescimento mais robusto do que vimos no ano passado para consignado e imobiliário. Vamos fazer um esforço para isso acontecer”, diz.

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