Arroubos de 'vamos abrir' não têm sustentação, diz presidente da C&A sobre isolamento

Para Paulo Correa, é risco para o setor abrir as lojas cedo demais e ter de fechar por mais tempo

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São Paulo

O presidente da C&A, Paulo Correa, afirmou neste domingo (29) que antecipar o fim do isolamento pode adiar e até intensificar os problemas financeiros que empresas já enfrentam na crise do novo coronavírus.

Ele participou de uma transmissão ao vivo da XP Investimentos que debateu processos de digitalização acelerados pela quarentena.

"Entendo que esses arroubos de 'vamos abrir' não têm sustentação. O risco maior é se precipitar, abrir essa história [lojas] cedo demais, criar um momento de curva crescente muito forte e aí ter que ficar fechado muito mais tempo. Esse é o cuidado", afirmou.

Parte do comércio e do varejo nacional defende a reabertura de lojas, movimento endossado em depoimentos do presidente Jair Bolsonaro e em uma campanha anticonfinamento divulgada pela União.

O isolamento parcial vai na contramão de orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e a possibilidade acentuou o racha político entre estados e o governo federal na última semana.

Para o presidente da C&A, uma das líderes de vestuário e cujas vendas dependem 90% de pontos físicos, a falta de alinhamento entre os poderes nacional, estadual e municipal contribui para a insegurança da população.

difícil gerar sensação de segurança por decreto. Temos contato com nossas operações na Europa, na China, e é um processo muito, muito lento. Estamos falando de um a dois meses de lockdown mais a recuperação de alguns meses [depois]", disse.

Neste domingo, Bolsonaro disse estar com "vontade" de fazer um decreto para liberar todas as atividades.

Participaram da transmissão da XP Mariano Gomide de Faria, presidente da VTEX, empresa internacional de ecommerce, Rony Meisler, presidente da Reserva, e Rafael Brandão, chefe de ecommerce da Microsoft para o Reino Unido e Irlanda.

Os empresários destacaram que a quarentena tem agilizado processos de transformação digital em diferentes setores, o que deve gerar um novo tipo de comportamento após a pandemia, tanto por parte do vendedor como do consumidor.

Vendas por aplicativos em lojas físicas, minimizando o contato com maquininhas de cartão, transformação de lojas em pontos de retirada de mercadoria e a ampliação do marketplace (plataformas online que permitem a venda de produtos de outras marcas) foram algumas das mudanças citadas.

"Estamos lançando entre hoje e amanhã, acho que nas marcas premium de moda nacional não existe isso no Brasil, um projeto de afiliados para que qualquer pessoa possa se plugar na nossa plataforma, sendo funcionário ou não, e vender pela internet", disse Rony Meisler, comparando a iniciativa a um porta a porta online, em que o vendedor ganha comissão pela venda.

Como reivenção de procesos, Faria, da VTEX, citou o exemplo da rede de brinquedos RI Happy, cujos centros de distribuição tiveram problemas com a alta da demanda nos últimos dias, impulsionada pelo confinamento de crianças em casa.

"Gargalou o centro de distribuição da RI Happy, e eles transformaram as lojas de shoppings em centros de distribuição. Decisões que demorariam de três a nove meses são resolvidas em três dias", disse.

A retomada das vendas pós-quarentena deve ser lenta, de acordo com os empresários, que não veem chance de as lojas voltarem ao volume de vendas anterior logo após a liberação da quarentena. Eles ponderam que a população ainda estará insegura e o comércio deve impor regras de restrição no período inicial, como está sendo feito na China.

Como mostrou reportagem da Folha neste domingo, o varejo é um dos setores mais afetados pelo coronavírus e grandes empresas têm alertado a Bolsonaro que podem demitir, em média, até um terço de seus funcionários caso a pressão para reabrir as lojas não surta efeito até meados de abril.

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