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BC exclui fintechs de pacote para aumento de crédito contra coronavírus

Instituições digitais falam em aumento de demanda por pequenas empresas, mas não têm dinheiro para emprestar

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São Paulo

As fintechs (instituições que usam tecnologia para oferecer serviços financeiros) reportaram um aumento na demanda por crédito de micro, pequenas e médias empresas nas últimas duas semanas. O problema é que, além do maior risco de inadimplência, elas não têm dinheiro suficiente para atender a demanda.

Parte das iniciativas do governo e do Banco Central para enfrentar os efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus foi aumentar o dinheiro que os bancos têm em caixa para emprestar.

Isso garantiria que empresas e pessoas encontrariam crédito se precisassem, evitando uma quebradeira generalizada.

No entanto, nenhuma das medidas anunciadas pelo BC ajuda a aumentar o capital de fintechs.

Fachada preta com banco central do brasil escrito em letras prateadas
Fachada do Edifício-sede do Banco Central do Brasil em Brasília - Ueslei Marcelino - 16.Ago.2019/Reuters

O discurso da autoridade monetária, até o começo da crise, era de reduzir custos do sistema financeiro (juros mais baixos e tarifas menores) por meio do aumento da competição. As iniciativas chegaram a ser agrupadas, na gestão de Roberto Campos Neto, na Agenda BC# —durante a presidência de Ilan Goldfajn o nome era Agenda BC+.O resultado, segundo executivos do setor, é que, ainda que a demanda por parte das micro, pequenas e médias empresas tenha aumentado, a falta de funding [capital] limita o volume de concessões.

“Trabalhamos com uma balança: se tenho demanda, preciso ter funding”, afirma o presidente da fintech de crédito P2P (peer to peer, entre partes) IOUU, Bruno Sayão.

Para ele, somado ao maior risco de inadimplência, o nível limitado de capital disponível para empréstimos faz com que a taxa de aprovação de crédito tenha permanecido praticamente inalterada, mesmo ante a maior busca por parte das empresas –que, segundo ele, quintuplicou na plataforma nas últimas semanas.

“Do total de companhias que acessam a plataforma da IOUU, cerca de 20% passa pelo nosso motor de crédito [sistema que faz a primeira análise de crédito e que também engloba área de atuação e riscos atrelados]. Desses 20%, apenas 5% conseguem a aprovação para captar recursos”, afirma Sayão.

A Nexoos, que também usa o sistema P2P para conceder crédito a empresas, registrou um aumento de demanda na faixa de 20%.

Segundo Daniel Gomes, presidente da Nexoos, as fintechs querem atuar como agente repassador de recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Isso permitira que elas continuassem atendendo clientes mesmo sem funding próprio.

Historicamente, as grandes instituições financeiras eram os principais agentes repassadores do banco de fomento, mas diminuíram os repasses quando a margem de lucro com a operação ficou menor. Além disso, o próprio BNDES encolheu, diminuindo o volume de operações.

“O gargalo deixado pelo funding nos impulsionou a tentar acessar os recursos que estão sendo liberados para a economia pelos órgãos públicos. Tanto pelo próprio BNDES como pela linha de crédito lançada pelo governo, de R$ 500 milhões. Estamos nos colocando à disposição e tentando contato com essas autoridades para que nossos canais sejam utilizados”, afirma Gomes.

Segundo ele, a ideia é que as fintechs sirvam de ponte para que os recursos cheguem às companhias. “Temos a agilidade suficiente e necessária para fazer esse dinheiro fluir. Mas entendemos que é algo complicado e que não será feito do dia para a noite. Ainda são conversas que estão sendo estruturadas”, disse.

Em nota, o Banco Central afirmou apenas que está analisando todos os pleitos que tem recebido, mas afirmou que ainda não tem um prazo definido para divulgar sua decisão.

Parte dos benefícios em permitir o acesso das fintechs a esses recursos, segundo os executivos, seriam as taxas de juros mais baixas oferecidas pelas iniciativas. De acordo com o vice-presidente da Weel, Nathan Yoles, as taxas —que normalmente são 15% menores do que as praticadas pelos bancos—atualmente chegam a ser até 25% inferiores.

As fintechs de crédito cresceram no mundo após a crise de 2008, que secou o mercado de crédito nos países desenvolvido. No Brasil, a expansão começou durante a crise econômica de 2015 e 2016.

O avanço foi em empréstimos a pessoas físicas e também micro, pequenas e médias empresas, que ofereciam maior risco de calote e não encontravam crédito disponível nos grandes bancos.

“Temos sentido demanda de todos os setores, mas a expectativa é que o setor de saúde acabe ganhando um certo protagonismo e cresça 220% ao longo dos próximos dois meses. Não é sempre que conseguimos fazer a operação, mas estamos expandindo nosso financiamento o máximo possível para ajudar as empresas a passarem por esse período de estresse econômico”, disse Yoles.

Os executivos afirmam, no entanto, que um dos principais reflexos do atual cenário, principalmente em relação à suspensão das atividades por diversas empresas, será o aumento da inadimplência desses empresários, uma vez que pouco ou nenhum faturamento virá para o caixa das companhias.

“Esse comportamento tende a acelerar e aprofundar o cenário de inadimplência do país em todos os sentidos, tanto para pessoas físicas quanto para as jurídicas. O alerta que a gente deixa é que a ferramenta de crédito é importante, mas precisa ser pensada com cautela”, afirma o diretor de negócios digitais da Negocia Fácil, José Moniz.​

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