Bolsas disparam com sinalização de estímulos econômicos

Países do G7 preparam ação conjunta para minimizar impactos do coronavírus

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São Paulo

Acompanhando o exterior positivo, a Bolsa de Valores brasileira fechou o primeiro dia de março com alta de 2,36%, aos 106.625 pontos, maior patamar desde 21 de fevereiro, antes do Ibovespa despencar 8,3% na semana passada.

Nesta segunda-feira (2), o giro financeiro da sessão seguiu elevado, somando R$ 32,2 bilhões, R$ 6 bilhões acima da média diária para o ano.

A valorização nesta sessão é uma resposta à sinalização de que as principais economias do mundo devem tomar medidas para estimular a atividade econômica ante os impactos do coronavírus.

No exterior, o índice americano S&P 500 subiu 4,6%, na maior alta diária desde dezembro de 2018. Dow Jones, por sua vez, registrou um avanço de 5%, maior alta diária desde março de 2009, enquanto Nasdaq teve ganho de 4,5%.

Corretor na Bolsa de Nova York
Bolsas americanas têm forte valorização com possibilidade de corte de juros - Xinhua/Wang Ying

Segundo o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, a maior disposição dos bancos centrais trouxe mais liquidez ao mercado.

"O mercado já fez uma boa precificação na curva de juros dos Treasuries [títulos do Tesouro dos EUA], com analistas e economistas afirmando que o Fed ainda poderá fazer três movimentos de corte. Mas mesmo com esse fôlego, é importante lembrar que ainda não temos notícias de uma vacina para o coronavírus, nem uma queda no contágio", afirma.

Os ministros de Economia do G7 —grupo dos países mais industrializados que reúne Japão, França, Reino Unido, EUA, Alemanha, Canadá e Itália— farão uma teleconferência na terça-feira (3) para debater como limitar os danos causados pelo coronavírus na economia.

Segundo o ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, as principais economias do G7 tomarão "ações combinadas" e devem discutir a melhor abordagem por telefone.

Também nesta segunda (2), o presidente do banco central do Japão, Haruhiko Kuroda, disse que a autoridade tomará as medidas necessárias para estabilizar os mercados abalados pelo surto de coronavírus, reforçando as especulações sobre ações coordenadas de políticas monetárias globais.

A Itália, um dos países mais afetados pela epidemia, vai colocar em prática nesta semana medidas no valor de 3,6 bilhões de euros (R$ 18 bilhões), disse o ministro da Economia, Roberto Gualtieri, neste domingo (1º).

Em entrevista ao jornal “La Repubblica”, Gualtieri disse que isso equivale a 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) e se soma a um pacote de ajuda no valor de 900 milhões de euros (R$ 4,5 bilhões) anunciado na sexta-feira (28) para as áreas mais afetadas.

Gualtieri disse que o novo projeto incluiria créditos tributários para empresas que reportassem uma queda de 25% nas receitas, reduções de impostos e financiamentos adicionais para o serviço de saúde.

As esperanças sobre estímulos de demais bancos centrais vieram, no entanto, em meio à revisão no número de casos confirmados em Washington, nos Estados Unidos, para 18. Seis mortes já foram registradas em Seattle.

No noticiário doméstico, a espera do mercado ainda é pelo resultado do PIB, que será divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No Ibovespa, a maior alta ficou por conta dos papéis da Hypera Pharma, que subiram 19,27%, aos R$ 10,91, como reflexo da aquisição dos ativos latino-americanos da japonesa Takeda Pharmaceutical, por US$ 825 milhões.

A maior baixa, por sua vez, ficou com CVC, que recuou 11%, para R$ 22,89. A empresa informou em fato relevante nesta segunda que encontrou indícios de erros na contabilização dos valores transferidos aos fornecedores de serviços turísticos referentes às receitas próprias de tais fornecedores. A companhia contratará auditoria independente para realizar a apuração junto ao comitê de auditoria.

Segundo Arbetman, o Brasil ainda possui um cenário muito assimétrico. "Temos dados que não evoluem e um cenário político que preocupa ante a quase guerra do Bolsonaro com o Congresso, o que dá um certo medo no mercado sobre a celeridade da aprovação das reformas", diz.

Os preços do petróleo também registraram alta nesta. Os contratos do Brent subiram 4%, a US$ 52,62 o preço do barril. Já os futuros do petróleo dos Estados Unidos (também conhecido como WTI), subiram 5,8%, para US$ 47,38 o barril.

O dólar teve sua oitava sessão de alta, subindo 0,13%, e foi a R$ 4,49, novo recorde nominal (sem contar a inflação).

Segundo analistas, a possibilidade do banco central americano cortar os juros dos Estados Unidos poderia reduzir a pressão sobre o real, pois a diferença entre a Selic e juros americanos ficaria maior, sendo vantajoso aplicar no Brasil por meio do carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros.

Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os EUA, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil. Com a Selic a 4,25% ao ano, essa operação deixa de ser vantajosa e estrangeiros retiram seus recursos, em dólar, do país, o que eleva a cotação. Com juros menores nos EUA, a operação pode ao radar de estrangeiros.

"Com a redução da pressão sobre a desvalorização do real surgem especulações de que o Copom poderia seguir o Fomc [BC americano] e cortar novamente a Selic. A curva de juros no Brasil, por sua vez, mostrava corte de 15 pontos em março, isto é, 60% de chance de corte de 0,25 pontos percentuais, na abertura do mercado e caminha para encerrar o dia com chance de corte de 38%", diz relatório do banco Fator.

O Banco Central brasileiro se reúne em 18 de março para decidir a taxa básica de juros.

(Com agências de notícias)

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