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CMN e BC elevam em R$ 1,2 tri liquidez no sistema financeiro contra coronavírus

CMN autoriza que bancos captem dinheiro por depósitos a prazo usando o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) como garantia

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Brasília

O CMN (Conselho Monetário Nacional) e o Banco Central anunciaram nesta segunda-feira (23) um pacote de medidas para aumentar a liquidez do sistema financeiro e do mercado de dívidas de empresas durante o coronavírus. De acordo com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a estimativa é de que as ações tenham um impacto de R$ 1,2 trilhão.

"​A gente colocou uma estimativa aqui de R$ 1,216 trilhão. Obviamente aqui tem um mix de medidas de liquidez e medidas de direcionamento. São muito mais potentes do que o que foi feito no passado. Então temos aqui basicamente para quantificar a ordem de grande do que está fazendo. Nós entendemos que nós já fizemos e estamos fazendo tem um potencial muito grande. Isso vai ser claramente percebido pelo mercado", afirmou durante entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (23).

Liquidez é facilidade com que um ativo financeiro pode ser convertido em dinheiro. Quanto mais dinheiro há no sistema financeiro, mais rápida é essa troca. Se não há liquidez, o mercado tende a se contrair.

O Presidente do Banco Central, Roberto Campos, Neto durante entrevista na sede do banco em Brasília
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante entrevista na sede do banco em Brasília - Andre Coelho - 09.jan.2020/Folhapress

"Este é o maior plano de injeção de liquidez da história. Eu gostaria de passar a tranquilidade para todo mundo, o Banco Central está atento, focado e entende quais são os instrumentos para atuar em cada momento”, afirmou Campos Neto. “Entendemos que temos uma crise diferente do que vivemos no passado, estamos obviamente dispostos a fazer novas medidas”, completou.

O CMN autorizou que bancos captem dinheiro por depósitos a prazo usando o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) como garantia. Essa modalidade de depósito a prazo é garantida pelo FGC até o limite de R$ 20 milhões por titular e, de acordo com o Banco Central, foi um instrumento utilizado com sucesso durante a crise mundial de 2008.

Na prática, os bancos poderão aumentar sua captação com garantia do FGC em até o total de seu patrimônio líquido, com limite de R$ 2 bilhões, o que permitiria uma expansão da concessão de crédito em cerca de R$ 200 bilhões.

Em uma segunda medida, o CMN autorizou que o BC conceda empréstimos a instituições financeiras garantidos em debêntures adquiridas entre 23 de março e 30 de abril de 2020.

A medida tem por objetivo prover liquidez ao mercado secundário de dívida corporativa. Isso significa que o BC emprestará recursos para que bancos comprem uma debênture de empresa.

O mercado secundário de dívidas de empresas perde liquidez em períodos de crise, porque há um maior risco de calotes.

Dívidas de empresas são uma das maiores preocupações do sistema financeiro durante a crise, tanto no Brasil quanto em outros países.

Além disso, o Banco Central reduziu novamente a alíquota de depósitos compulsórios de recursos a prazo de 25% para 17%, uma medida que também ajuda a elevar a liquidez dos bancos. A estimativa é que a mudança resulte numa liberação de R$ 68 bilhões a partir do dia 30 de março.

Há um mês, o BC tinha anunciado queda na alíquota de 31% para 25%, o equivalente a R$ 135 bilhões que poderiam ser usados para emprestar.

Ao longo da entrevista, Campos Neto afirmou diversas vezes que a autoridade monetária se antecipou ao cenário de crise e que, por isso, tem bastante folga para atuação.

"Temos um sistema bem provisionado, boa liquidez e com capital sobrando", afirmou Campos Neto. Ele afirmou ainda que o BC vai seguir atuando para manter a funcionalidade do mercado e destacou que a instituição vai monitorar o comportamento dos preços por ser um fator importante que traduz a alocação de recursos.

Sobre duração da crise, disse que é uma incógnita, e que isso cabe ao Ministério da Saúde.

"Não vou me alongar muito porque esse é um tema do Ministério da Saúde. O que eu preciso é ter condições amplas de liquidez de capital para atravessar essa crise. Eu acho que as medidas que nós tomamos estão atendendo essas demandas."

Campos Neto disse ainda que, neste momento, o Banco Central brasileiro ainda não vê necessidade de usar o socorro de R$ 60 bilhões oferecidos em crédito pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).

"Nós esperamos não pensar usar, mas é um seguro, um seguro importante", disse.

Especialistas avaliam positivamente as medidas tomadas pelo BC para injeção de liquidez no sistema financeiro. Marcos Ross, economista sênior da XP Investimentos, acredita que iniciativas foram acertadas.

"Significa que a autoridade monetária está garantindo liquidez principalmente para os pequenos e médios bancos, além de empresas que precisarão desses recursos. A grande questão é se isso será suficiente e se chegará aos mais afetados com a crise, que são os autônomos e a população mais vulnerável. Depende do apetite por risco das instituições, para concederem crédito a profissionais que ficarão de três a quatro meses parados", apontou o analista.

Para André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, as iniciativas são benéficas, mas as ações de política monetária são quase ineficazes neste momento. "A parte fiscal seria mais importante agora. Mesmo com uma ampliação na oferta de crédito, as pessoas estão consumindo menos. Assim, é preciso ponderar se elas vão querer tomar financiamento também", analisou.


Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, considera que ainda há espaço para outras medidas de política monetária. "Ainda há espaço para cortar juros, reduzir compulsórios, entre outras medidas. Na ata do Copom, o BC deixou claro que não cortou mais por preocupação com os juros estruturais, mas há outras maneiras de evitar esse aperto das condições financeiras citada pelo comitê", opinou.

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