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Crise já prejudica motorista de app e vendedor de comida

Maior número de motoristas e vendedores de comida aumenta concorrência

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Rio de Janeiro

Uma tendência após a recessão impulsionou as estatísticas sobre informalidade: o aumento no número de motoristas de aplicativo e vendedores de alimentos na rua.

Ediney Guimarães, 30, e Márcio Panúncio, 47, viveram os dois. Dirigiram para aplicativos e depois viram na venda de refeições a outros motoristas a oportunidade para fazer a vida reduzindo o estresse e as horas de trabalho.

O primeiro diz ter começado essa vida cedo, quando a concorrência entre os motoristas era menor. “Conseguia fazer algum dinheiro, mas o número de motoristas foi aumentando, e a renda, caindo”, conta. Há três anos, decidiu começar a vender quentinhas para colegas de profissão.

Impacto da quarentena do coronavírus nos trabalhadores informais. Marcio Panúncio, 47, vendedor de quentinhas em Niterói há sete meses
Impacto da quarentena do coronavírus nos trabalhadores informais; Marcio Panúncio, 47, vendedor de quentinhas em Niterói há sete meses - Nicola Pamplona/Folhapress

“Levava 20 quentinhas, não vendia quase nada”, diz. Quando conseguiu clientela fiel, parou de rodar e montou ponto em uma praça no centro de Niterói.

Vendedor mais conhecido da área, diz que chegou a vender de 120 a 130 quentinhas nos melhores dias. “Fui o primeiro, hoje tem mais de dez [vendedores]”, diz. Todos cobrando o mesmo preço: R$ 12, com direito a um refresco.

Márcio chegou depois, em meados de 2019, cansado das longas jornadas dentro do carro. “Estava trabalhando de 14 a 18 horas por dia para bater minha meta [de receita], fora o risco de assalto. Desisti”, conta.

Sem a clientela de Ediney, vendia entre 50 e 60 quentinhas por dia, que preparava com ajuda da cunhada. Era a única fonte de renda para o sustendo da casa, que divide com mulher e duas filhas. “Minha meta era chegar a 100”, planejava.

Na primeira semana de isolamento no Rio, Ediney já havia desistido de ir para a rua, limitando-se a entregas de encomendas, e Márcio, a despeito da menor concorrência, viu as vendas caírem para 30 refeições. “Se o rapaz do Honda [Ediney] vier trabalhar amanhã, eu nem venho”, disse à Folha no dia 20.

O rapaz do Honda não foi mais. “Deram o toque de recolher e estou sem trabalhar”, diz Ediney. As três funcionárias que faziam as refeições foram mandadas para casa. O estoque de mantimentos que tinha está lhe garantindo refeições.

“Estou com grana só para o aluguel deste mês”, diz.

A crise pegou Márcio em uma situação mais delicada: tinha acabado de investir para montar uma pensão no piso térreo da casa em que mora. “Depois que o coronavírus chegou, eu parei. Está quase 100% para ser inaugurada, mas com essa bomba não tem como.”

Da última vez que a reportagem o encontrou, disse que estava cortando supérfluos. Na semana passada, quando as restrições na cidade se aprofundaram e os carros de aplicativo praticamente sumiram, ele não apareceu mais.

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