Descrição de chapéu Coronavírus

Dólar fecha acima de R$ 5 pela 1ª vez na história

Bolsa cai 13,92% e zera ganhos desde junho de 2018, antes da euforia com eleição de Bolsonaro

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São Paulo

Nesta segunda-feira (16), a cotação do dólar fechou em alta de 4,55%, a R$ 5,048, novo recorde histórico nominal (sem contar a inflação). O turismo é cotado a R$ 5,22 na venda. Em algumas casas de câmbio, chega a ser vendido acima de R$ 5,28.

Em termos reais (corrigidos pela inflação), a moeda americana ainda está longe de sua máxima de 2002. Se for considerado apenas o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, o pico de R$ 4 naquele ano, equivale a cerca de R$ 10,80 hoje. Caso também seja levada em conta a inflação americana, o valor corrigido seria cerca de R$ 7,50.

A alta da moeda é fruto da aversão a risco do mercado com o avanço do coronavírus e seus efeitos na economia global, além de uma expectativa de corte de juros no Brasil. Em 2020, o dólar ficou R$ 1,034 mais caro.

O dólar é considerado um dos investimentos mais seguros do mundo, ao lado do ouro e de títulos do Tesouro americano. Em momentos de forte aversão a risco, investidores tendem a comprar dólares ou fundos atrelados à moeda como forma de proteção.

O mercado precifica que o Banco Central (BC) brasileiro cortará a taxa básica de juros nesta semana em 0,5 ponto percentual, o que levaria a Selic à mínima histórica de 3,75% ao ano.

O juro nesta faixa contribui para o dólar elevado por meio do carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os EUA, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil. Com a Selic no atual patamar de 4,25%, essa operação deixa de ser vantajosa e estrangeiros retiram seus recursos, em dólar, do país, o que eleva a cotação.

Dentre todas as moedas do mundo, o real foi a segunda que mais se desvalorizou na sessão, atrás apenas do peso mexicano. No ano, a moeda brasileira é a que mais perde valor.

Apesar da desvalorização do real no pregão, o BC não agiu para conter a alta do dólar com leilões de dólar à vista, de linha, ou de swaps cambiais, como costuma fazer.

O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Defautl Swap) de cinco anos, índice acompanhado pelo mercado financeiro para avaliar a capacidade de um país honrar suas dívidas, subiu 24%, a 325 pontos, maior patamar desde junho de 2016, período marcado pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT).

O mercado segue reduzindo suas expectativas o crescimento do país. Segundo pesquisa Focus divulgada pelo BC nesta segunda, o PIB (Produto interno Bruto) deve crescer 1,68% este ano, contra expectativa de 1,99% na semana passada.

Também nesta segunda, a Bolsa brasileira teve o quinto circuit breaker do mês. As negociações foram interrompidas por 30 minutos logo na abertura do pregão, quando a Bolsa caiu mais de 10%. No fechamento, o Ibovespa despencou 13,92%, a 71 mil pontos, menor nível de junho de 2018, antes da corrida eleitoral que levou Jair Bolsonaro (sem partido) à Presidência.

À época, Lula ainda era candidato do PT para a disputa e contava com a maioria da intenção de votos, segundo pesquisa Datafolha divulgada em 10 de junho. Bolsonaro tinha 17%. Considerando um cenário sem Lula, Bolsonaro liderava com 19% das intenções.

A turbulência do mercado financeiro desta segunda é fruto do segundo corte de juros extraordinário feito pelo Fed, banco central americano, neste mês. No domingo (15), o banco antecipou sua reunião marcada para esta quarta (18) e cortou a taxa básica de juros em um ponto percentual, incentivo monetário semelhante ao adotado em 2008, ano da crise financeira. Agora, os juros no país estão na faixa de 0 a 0,25% ao ano.

Investidores veem o movimento como uma maneira de proteger bancos e empresas do risco de não serem capazes de honrar dívidas devido à paralisação da atividade econômica. Com juros próximos de zero e injeção de US$ 700 bilhões de liquidez, as companhias tem maior margem para contornar as dívidas.

“O impacto econômico do coronavírus tem se mostrado cada vez maior. Empresas que estavam endividadas, pelo nível de juros mais baixos, começam a ter restrição para pagar suas dívidas e governos tentam conter isso. Essa crise foi bastante subestimada pelo mercado”, afirma Carlos Menezes, sócio da gestora Gauss Capital.

Desde o início da crise do coronavírus, agências de classificação de risco têm rebaixado notas de crédito de dívidas corporativas. Nesta segunda, o processo se acelerou. O índice CDX, termômetro criado em 2012 para o risco de empresas americanas sem grau de investimento não honrarem suas dividas, subiu 20% nesta segunda e bateu recorde, a 672 pontos. Quanto maior a pontuação, maior o risco.

Segundo Menezes, as áreas mais afetadas pro medidas de contenção também são umas das mais endividadas, como empresas aéreas, de turismo e de extração de petróleo. No Brasil, construtoras também têm alto grau de endividamento, já que muitas aproveitaram o movimento de Selic baixa e aceleração da economia ao fim de 2019 para alavancar investimentos.​

Além disso, em novo pronunciamento, o presidente americano Donald Trump, disse que a pior fase do coronavírus deve ser entre julho, agosto, ou depois. "Os Estados Unidos pode estar caminhando para uma recessão". O presidente também pediu que pessoas evitem aglomerações por quinze dias.

“Bancos centrais têm pouca munição para evitar uma crise. Cortar juros e injetar liquidez não faz com que o comércio retome. A grande questão é se empresas vão conseguir sobreviver nesses próximos meses sem caixa. O corte de juros é para não deixar vários setores da economia quebrarem”, diz Fernando Ferreira, estrategista chefe da XP Investimentos.

Com a piora da perspectiva, a Bolsa de Nova York também acionou o circuit breaker no início do dia, quando o índice S&P 500 caiu 8%. No fim do pregão, caiu 12%, a terceira maior queda diária da história do índice.

Dow Jones recuou 13% e foi ao menor patamar em dois anos, na segunda maior queda percentual da história, atrás apenas da Segunda-Feira Negra, em 1987, quando despencou 22,61%.

Nesta segunda, a Bolsa de tecnologia Nasdaq caiu 12,3%.

O VIX, índice que mede a volatilidade do mercado com base no S&P 500 conhecido como "índice de medo" pelo mercado, bateu o recorde histórico, aos 82 pontos. No ápice da volatilidade da crise financeira de 2008-2009, o índice estava a 44,14 pontos.

Na Europa, Bolsas voltaram aos patamares de 2012. O índice Stoxx 50, que reúne as maiores empresas da região, caiu 5,25%.

No Brasil, as maiores quedas do Ibovespa foram de empresas ligadas ao setor aéreo e ao turismo, áreas mais afetadas pelas medidas de contenção à pandemia.

Com a alta volatilidade do mercado financeiro nas últimas semanas, empresas que pretendiam abrir capital e listar ações em Bolsa repensam os planos. A Caixa Seguridade, braço de seguros da Caixa Econômica Federal estuda cancelar o IPO (oferta inicial de ações), enquanto BV (Banco Votorantim) cancelou o pedido de registro.

Em vista do momento conturbado, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regula o mercado, estendeu para 180 dias úteis o prazo máximo de interrupção de ofertas públicas. Ou seja, aumentou o período que empresas têm para decidir se seguem ou não com ofertas.

"As medidas são necessárias visto que o atual cenário econômico, impactado por conta da disseminação mundial do coronavírus, poderá ter consequências diretas nas ofertas públicas de valores mobiliários em andamento no Brasil", afirmou a CVM em comunicado.

Atualmente, estão em análise 55 pedidos de registro de oferta pública de distribuição de valores mobiliários, sendo 28 ofertas de ações.

Na sexta-feira, a CVM já havia anunciado que daria prazo adicional de 90 dias para a conclusão de operações em andamento, em caráter excepcional.

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