Governos precisam agir rápido para evitar crise longa com coronavírus, diz FMI

Para diretora de Pesquisa do fundo, é preciso reforçar seguro-desemprego e facilitar crédito

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Amsterdã

Países precisam agir rapidamente para impedir que uma crise temporária, como a epidemia de coronavírus, provoque danos permanentes para famílias e empresas, afirmou nesta segunda-feira (9) a diretora de Pesquisa do FMI (Fundo Monetário Internacional), Gita Gopinath.

Para Gita, professora de economia da Universidade Harvard e conselheira econômica do FMI, é preciso evitar que se rompa “a rede de relações econômicas e financeiras entre trabalhadores e empresas, financiadores e tomadores de empréstimo, fornecedores e consumidores” em todo o mundo.

Programas temporários de transferência de renda, subsídios e isenções de tributos são algumas das medidas defendidas.

Ela cita como exemplo a decisão da Itália de adiar prazos de recolhimento de tributos em setores mais afetados pela epidemia (montadoras e laboratórios, por exemplo) e reforçou o orçamento do programa de seguro-desemprego.

Soldados coreanos usam macacão branco e máquinas de spray para desinfetar ruas
Soldados coreanos desinfetam ruas em Seul, na Coreia do Sul - Jung Yeon-je - 9.mar.2020/AFP

Coreia do Sul e China também lançaram programas para ajudar pequenos negócios, com suspensão temporária de tributos e compensação de perda de receita.

A diretora do FMI recomenda que os governos reforcem a proteção tanto a desempregados quanto a trabalhadores afastados por problemas de saúde, aumentando a duração de benefícios ou relaxando as exigências para obtê-los.

Em nível mais amplo, “bancos centrais devem estar preparados para ampliar a liquidez a bancos e companhias financeiras não bancárias, principalmente para os que atendem a pequenas e médias empresas”, diz o texto publicado por Gita no site do FMI.

Para evitar uma crise de crédito, ela sugere também que os reguladores do sistema financeiro estudem a possibilidade de alongar prazos de empréstimos.

Programas mais amplos de investimento público podem ajudar a elevar a demanda agregada, mas apenas depois que as operações das empresas estiverem estabilizadas, afirma ela.

A economia está sendo afetada tanto do lado da demanda quanto da oferta, escreve a economista.

Do lado da demanda, insegurança de consumidores e empresas paralisadas reduziram as compras. No lado da oferta, a redução do número de trabalhadores (por doença, restrição de mobilidade ou pelo fechamento de creches e escolas) e a quebra da cadeia de suprimentos prejudicou a produção em grande parte dos setores industriais.

Nos setores de serviço, o impacto é significativo em turismo e transportes.

Para Gita, os governos devem reagir para evitar um ciclo vicioso, em que empresas antecipam mais queda de demanda e cortam seus planos de produção, levando a mais desemprego e falências.

No mercado financeiro, a insegurança começa a provocar um aperto no crédito e empréstimos mais caros, com subsequente alta da inadimplência, segundo Gita, e mais impacto negativo na oferta e na procura.

“O efeito pode ser amplificado pelo comércio internacional e os fluxos financeiros, derrubando o crescimento global e os preços de commodities”, escreve a diretora da FMI, atingindo países que dependem de exportações, como o Brasil.

Os dados do FMI mostram que os setores industrial e de serviços da China caíram a níveis historicamente baixos na China. A queda da atividade industrial é comparável à da crise global de 2008, mas a do setor de serviços é ainda maior, por causa das medidas de restrição de mobilidade.

Em ambos os casos, a redução de atividade foi muito mais abrupta que as de crises anteriores.

Fretes para transporte de commodities e material de construção também caíram a níveis semelhantes aos da crise global, afirma a economista, refletindo as quedas tanto de demanda como de oferta.

A economista também afirma que países mais ricos devem ajudar os que têm sistemas de saúde mais frágeis, sob risco de um “desastre humanitário”. O FMI anunciou uma linha de US$ 50 bilhões (mais de R$ 200 bilhões) para países vulneráveis.

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