IRB perde mais de R$ 24 bilhões com crise

Maior resseguradora brasileira enfrenta questionamentos depois que fundo de Warren Buffett negou participação

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Rio de Janeiro e São Paulo

O presidente do IRB Brasil RE (Instituto de Resseguros do Brasil), José Carlos Cardoso, e o diretor financeiro, Fernando Passos, renunciaram nesta quarta (4), em meio a uma crise de reputação da empresa que já lhe custou R$ 24 bilhões em valor de mercado.

A crise tem como pano de fundo questionamentos a balanços da instituição, saída do presidente do conselho e supostas declarações de executivos sobre planos de investimentos da empresa do megainvestidor Warren Buffett.

Apenas nesta quarta-feira (4), as ações da empresa caíram 32%, levando a companhia ao mesmo valor de agosto de 2018. À época, o IRB tinha como principal acionista o governo, por meio de ações detidas pelo braço de seguros do Banco do Brasil e do BNDES.

Com o ciclo de alta da Bolsa e a saída do governo federal da empresa, o IRB se valorizou mais de 200% entre 2017 e 2019, a terceira maior alta do Ibovespa, atrás de Magazine Luiza e BTG Pactual.

Em 2 de fevereiro, a Squadra Investimentos apontou para supostos erros contábeis nas demonstrações financeiras da companhia. Segundo a gestora, há indícios de que os lucros normalizados (recorrentes) foram significativamente inferiores aos reportados.

A gestora também informou que havia se posicionado em short em ações do IRB, ou seja, um aposta contra a resseguradora. Enquanto os papéis do IRB caem, a Squadra ganha dinheiro por ter apostado na desvalorização deles.

Com o ciclo de alta da Bolsa e a saída do governo federal da empresa, o IRB se valorizou mais de 200% entre 2017 e 2019 - Diego Padgurschi-9.mai.15/Folhapress

Em resposta à Squadra, o IRB afirmou que suas demonstrações seguem normas contábeis e atuariais e passam por um rigoroso processo de governança e que avaliava medidas cabíveis a serem tomadas porque "o emissor da carta tem interesse econômico diametralmente conflitante com os interesses da companhia".

Em 9 de fevereiro, a Squadra reafirmou, em nova carta aos seus cotistas, o posicionamento anterior.

No dia seguinte, o IRB fez teleconferência extraordinária para prestar esclarecimentos, mas investidores não ficaram satisfeitos até que, na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo publicou que a Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett, havia praticamente triplicado a fatia de ações que detinha da resseguradora.

No dia seguinte –quinta-feira 27 de fevereiro–, as ações fecharam em alta de 6,6%, já que uma investida do Berkshire conferia credibilidade à empresa.
Nesta quarta, porém, a companhia americana afirmou que "não é atualmente acionista do IRB, nunca foi uma acionista do IRB e não tem intenção de ser acionista do IRB", o que fez as ações desabarem mais de 40%.

Além da informação do jornal o Estado de S. Paulo, o presidente do IRB, José Carlos Cardoso, e o diretor financeiro, Fernando Passos, afirmaram à XP Investimentos que havia uma aproximação da empresa com a Berkshire Hathaway.

A conversa entre IRB e XP fez parte de uma rodada de esclarecimentos a analistas após a renúncia de Ivan de Souza Monteiro da presidência do conselho de administração da resseguradora na segunda (2).

Segundo ata do conselho, foram problemas de saúde que o levaram a se desligar da companhia. O cargo é ocupado interinamente por Pedro Duarte Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal e membro do conselho do IRB.

Ainda de acordo com relatório da XP, a advogada Márcia Cicarelli, procuradora do Berkshire Hathaway, seria apontada como conselheira do IRB em "um gesto de aproximação entre a resseguradora e a empresa". Procurada, Márcia preferiu não comentar.

O analista Eduardo Guimarães, da gestora Levante Ideias, critica a falta de transparência do IRB. "Desde o início, toda a resposta da companhia foi ruim."

Na teleconferência de resultados, em 19 de fevereiro, as respostas sobre os temas levantados pela Squadra "não foram satisfatórias", afirma. 

Ele diz que, se confirmada ser falsa, a afirmação de que o Berkshire teria comprado ações seria "o pior erro possível. Tenho 20 anos de mercado e nunca vi algo parecido".

Em fevereiro, diante das dúvidas levantadas no episódio, Guimarães decidiu retirar o IRB de sua carteira.

Ante os acontecimentos, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu quatro processos para investigar as supostas falhas apontadas pela Squadra e a saída de Ivan Monteiro do conselho.

Do lado operacional de seguros, no entanto, o segmento segue despreocupado –o IRB está entre os maiores resseguradores do mundo.

"Dificilmente teremos algum reflexo nos negócios de seguros. O setor é regulado, e toda a situação começa a ser muito especulativa. A empresa tem feito o que dá pra fazer", afirmou Caio Timbó, diretor operacional da LTSeg.

O mercado, porém, tem a avaliação de que o atual noticiário pode significar uma troca de toda a alta cúpula do IRB.

Em setembro de 2018, a empresa aprovou um pacote de incentivos que previa distribuir até R$ 61,9 milhões à diretoria em 2021, caso a gestão dobrasse o valor de mercado da companhia entre maio de 2018 e maio de 2021 –meta alcançada em abril de 2019.

Um executivo do mercado de seguros, que preferiu não ser identificado, afirmou que a história mexeu muito com o valor de mercado da companhia. Também disse que a política de bônus por desempenho da empresa é exorbitante e que, caso seja comprovada a ação de gestores para manter o bônus, pode envolver até responsabilidade criminal.

Procurado, o IRB não havia se pronunciado até a conclusão desta reportagem.

Em comunicado ao mercado, a empresa disse que seu conselho de administração determinou que se faça uma análise criteriosa sobre sua base acionária.

"O IRB Brasil RE informará ao mercado sobre os desdobramentos dessa análise", afirmou. 

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