Descrição de chapéu Financial Times Coronavírus

Maioria das aéreas inicia demissões na tentativa de manter caixa devido ao coronavírus

Até maio, boa parte pode estar em concordata, o equivalente à recuperação judicial no Brasil

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Londres | Financial Times

O setor de aviação está alertando que deve realizar demissões e obter apoio do Estado para sobreviver à crise do coronavírus, já que companhias de aviação de todo o planeta suspenderam as operações da maior parte de suas frotas e e estão tomando medidas na tentativa de preservar o dinheiro em caixa.

Nas últimas 24 horas, a United Airlines, dos Estados Unidos, a IAG —controladora da British Airways, Aer Lingus e Iberia—, a AirFrance-KLM, e a easyJet, Finnair, Air New Zealand e Aeroflot anunciaram medidas drásticas de corte de custos depois que diversos países, entre os quais Alemanha e Espanha, fecharam suas fronteiras.

Willie Walsh, o presidente do IAG, vai adiar sua aposentadoria a fim de conduzir o grupo durante a crise. Anunciando uma redução de 75% na capacidade da empresa pelos próximos dois meses, Walsh disse que não havia garantias que muitas das companhias de aviação europeias pudessem sobreviver.

“A situação vai ser muito dinâmica, nas próximas semanas”, disse. “Existem muitas companhias de aviação no mercado que estão seriamente desgastadas, com poucos ou nenhum recurso de caixa restantes”. Ele disse que não havia garantias de que as empresas de aviação europeias sobrevivessem.

Turistas embarcam em voo da Southern Airlines no Aeroporto Internacional de Sanya, na Ilha chinesa de Hainan - Yang Guanyu/Xinhua

Seus comentários surgiram no momento em que o CAPA (Centre for Aviation), uma respeitada consultoria de aviação, alertava que, até o final de maio, a maioria das companhias de aviação estaria em concordata —o equivalente à recuperação judicial no Brasil—, devido às restrições de viagens sem precedentes que estão sendo adotadas por governos de todo o mundo.

“Muitas companhias de aviação já estão tecnicamente em concordata, a esta altura, ou no mínimo estão violando severamente os termos de pagamento de suas dívidas”, afirmou CAPA em relatório. “Pelo final de maio de 2020, a maioria das companhias de aviação do planeta estará em concordata. Ação coordenada dos governos e do setor é necessária –já– se queremos evitar uma catástrofe”.

A Iata, a organização setorial da aviação, estimou que o setor perderia até US$ 113 bilhões em receita como resultado da crise. Mas isso aconteceu antes que as restrições a viagens começassem a avançar.

As três alianças mundiais de companhias de aviação —Oneworld, SkyTeam e Star Alliance, que representam cerca de 60 companhias de aviação, ou cerca de metade da capacidade mundial de transporte aéreo— apelaram a governos, aeroportos, credores e outras partes interessadas para que ajudem o setor durante a crise.

Walsh disse que seu grupo não solicitou ajuda do Estado. Enfatizou que a IAG tinha liquidez total de 9,3 bilhões de euros, e estava tomando medidas de corte de custos e preservação de caixa, como suspender o uso de aviões excedentes, reduzir e postergar investimentos de capital e reduzir as jornadas de trabalho de seu pessoal.

A Ryanair, a maior companhia de aviação de baixo custo da Europa, mencionou a possibilidade de que todos os seus aviões tenham as operações suspensas, nos próximos meses, ao se unir às fileiras das companhias que estão correndo para cortar custos e preservar seus caixas diante das restrições cada vez maiores a viagens na Europa. Michael O’Leary, presidente-executivo do grupo, disse que a capacidade da empresa seria reduzida em 80%, em abril e maio, mas que “uma paralisação completa da atividade da frota não pode ser descartada”.

Nos países em que as frotas não estão paralisadas, “as restrições de distanciamento social podem tornar os voos impraticáveis, para todos os fins, se não impossíveis”, ele disse.

A Air France-KLM anunciou que reduziria sua capacidade em entre 70% e 90%, e que tinha uma “trajetória financeira severamente deteriorada”. Disse ter recebido positivamente anúncios dos governos francês e holandês de que medidas de apoio ao grupo estavam sendo estudadas.

A companhia anunciou que diversas medidas de emergência —variando de cortes de custos de até 200 milhões de euros a planos de reduzir as jornadas de trabalho do pessoal— só compensariam metade da redução de capacidade.

A United Airlines, dos Estados Unidos, e a Air New Zealand informaram ao seu pessoal que iniciariam demissões, à medida que as restrições de viagem forçam as companhias de aviação a reduzir capacidade e a paralisar as operações de dezenas de milhares de aviões.

A Air New Zealand anunciou na segunda-feira (16) que reduziria sua capacidade internacional em 85% e cortaria sua capacidade para voos internos em quase um terço, em abril e maio. A companhia, que tem oito mil empregados, disse que consultoria os sindicatos sobre demissões.

Isso se seguiu a notícias de que a United planejava reduzir sua capacidade à metade em abril e maio, e que havia alertado seus quase 100 mil trabalhadores de cortes “dolorosos” em sua folha salarial.

A United, a American Airlines e a Delta Air Lines, dos Estados Unidos, anunciaram cortes profundos em seus serviços internacionais, e começaram a conversar com o governo federal americano sobre possível assistência.

A easyJet, a segunda maior companhia de aviação de baixo custo da Europa, abandonou suas projeções para este ano e anunciou cortes de capacidade, ainda que não tivesse quantificado a redução. Como muitas companhias de aviação, ela está discutindo com as instituições financeiras sobre maneiras de reforçar sua liquidez. A companhia informou que tinha um saldo de 1,6 bilhão de libras em caixa e que dispunha de 500 milhões de libras em linhas de crédito giratórias não utilizadas.

A Finnair está reduzindo sua capacidade e dividendos em 90%, em meio ao que a companhia de bandeira da aviação finlandesa descreveu como “a maior crise na história da aviação”, causada pelo surto do coronavírus. A companhia finlandesa alertou sobre substanciais prejuízos financeiro este ano e disse que estava trabalhando com urgência em um plano de financiamento que inclui linhas de crédito, empréstimos e a venda de aviões, bem como cancelamento de operações de leasing. O governo da Finlândia, que detém mais de metade das ações da companhia, “vai apoiar ativamente” a Finnair, segundo a empresa.

A companhia de aviação russa Aeroflot também anunciou a suspensão de voos a diversos destinos internacionais.

A organização setorial Airlines for Australia and New Zealand, que representa companhias de aviação australianas e neozelandesas, disse que o setor de aviação estava buscando apoio governamental, o que incluiria redução nas taxas públicas e possíveis injeções de verbas por meio de pacotes de estímulo governamentais.

Alison Roberts, presidente-executiva da organização setorial, disse que as companhias de aviação estavam enfrentando uma situação muito mais séria do que a da crise financeira mundial em 2008.

A agência de classificação de crédito S&P sublinhou o estado perigoso do setor na segunda-feira ao rebaixar a classificação da segunda maior companhia de aviação australiana, a Virgin Australia, de B+ para B-. A agência advertiu que o ambiente operacional “pode estar se deteriorando em ritmo mais rápido do que a capacidade da Virgin para implementar iniciativas de proteção à geração de caixa e preservação da saúde de seu balanço”.

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