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O forte sinal do Fed sobre remédios econômicos para o coronavírus

Se o banco central pressionar outros países do G7, pode promover a cooperação internacional que a atual política dos Estados Unidos rejeita

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Martin Sandbu
Financial Times

O corte de 0,5% na taxa de juros básica decretado pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, na terça-feira (3), mostrou um vislumbre de táticas de choque que nos desacostumamos a ver, depois da crise financeira.

Maior e mais rápido do que se esperava, e feito no intervalo entre duas reuniões regulares do comitê de open market, o corte envia um sinal forte –sublinhado pela votação unânime do comitê– de que o Fed não hesitará em fazer tudo que pode para conter as repercussões financeiras e econômicas da crise do coronavírus.

Mas muita gente questiona o que a medida pode de fato realizar. Economistas apontaram que a política monetária não pode tratar do choque de demanda causado pelo adoecimento de pessoas e sua consequente incapacidade de trabalhar ou viajar. As ações reagiram mais com oscilação do que com euforia.

O comunicado do Fed dá a entender que novos cortes são possíveis.

Ignorando as visões negativas, o Fed percebeu o valor que um estímulo imediato poderia ter em termos de reassegurar os mercados. Mesmo que os desdobramentos epidemiológicos estejam além de seu controle, as repercussões financeiras, especialmente sobre a confiança e as expectativas econômicas mais amplas, não estão.

Presidente do Fed, Jerome Powell, diz que o cenário para a economia americana teve uma mudança concreta com o coronavírus - Eric Baradat/AFP

O corte de juros, por si, pode compensar em alguma medida a reacomodação da demanda por consumo e investimento que domicílios e empresas temerosos causarão.

Igualmente importante é aquilo que o Fed está levando esses observadores, e os mercados, a esperar.

Podemos entender a decisão como a aposta de Powell: Jay Powell, o chairman do Fed, está deixando claro para a economia que, quando as coisas se complicam, ele está lá para ajudar. Isso reduz a incerteza quanto ao vigor da resposta das autoridades.

Como demonstrou a crise financeira mundial, se o medo tomar conta dos mercados de crédito e o financiamento às empresas travar, é essencial que tenhamos autoridades monetárias vigorosas.

Provavelmente ajuda, tanto a Powell quanto na leitura dos dos mercados sobre sua reação, que ele tenha com o tempo comunicado sua percepção crescente do bem que uma política de estímulo vem causando nos quadrantes marginalizados do mercado de trabalho dos Estados Unidos.

Isso sugere que ele está menos preocupados do que alguns outros dirigentes de bancos centrais com a necessidade de “normalizar” a política monetária, o que torna mais fácil adotar uma linha mais branda de política monetária, agora.

Tendo indicado que novos cortes são possíveis, agora cabe ao Fed demonstrar que está pronto a fazê-los.

Devemos esperar que o banco central trabalhe para complementar o afrouxamento geral por meio do uso de instrumentos dirigidos diretamente às empresas –especialmente as pequenas e médias– que enfrentam restrições de crédito devido ao efeito da epidemia sobre seu fluxo de caixa.

Tendo escorado a confiança das empresas e consumidores, é a isso que o Fed deve dirigir sua atenção, a seguir.

A ação de Powell e seus colegas veio logo depois de um comunicado divulgado pelos ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do Grupo dos 7 países mais ricos no qual eles se comprometiam a tomar medidas apropriadas, mas sem anunciar ação internacional coordenada.

Se o Fed pressionar suas contrapartes, pode promover a cooperação internacional que a atual política dos Estados Unidos rejeita. Seria ainda mais útil se o banco central encorajasse o governo Trump a melhorar seu jogo e a encarar a epidemia com a mesma seriedade que o banco central dos Estados Unidos a encara.


Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

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