O presidente Jair Bolsonaro participou nesta quinta (5) do lançamento do Conselho Superior Diálogo pelo Brasil, na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), em São Paulo.
O colegiado da entidade industrial paulista deve atuar de maneira semelhante à do Conselhão, criado em 2003 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Oficialmente batizado de Conselho do Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão nos tempos de Lula funcionava como uma espécie de cinturão de apoio político da iniciativa privada para o governo petista.
Também atuava como canal direto para que presidentes de empresas pudessem sugerir à cúpula do Executivo medidas consideradas importantes pelo setor empresarial. O crédito consignado para trabalhadores é uma das que vingaram.
Participaram do encontro nesta quinta cinco ministros, entre eles Paulo Guedes, da Economia, Braga Netto, da Casa Civil, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente, além de 34 empresários e executivos.
Segundo relatos ouvidos pela reportagem, a reunião durou cerca de três horas, e o clima era de muito otimismo. Alguns empresários chegaram a se emocionar ao falar com Bolsonaro e muitos disseram que este é o melhor governo da história. Outros teceram elogios à equipe econômica.
As críticas se resumiram ao peso e à complexidade da carga tributária brasileira, e foi cobrada urgência na aprovação da reforma sobre o tema. A reforma administrativa também foi mencionada.
A relação com a imprensa foi um dos assuntos tratados durante a reunião. O tema foi trazido à tona pelos empresários. De acordo com relatos, eles disseram que os veículos de comunicação fazem bullying permanente com o governo.
Bolsonaro também disse que estuda outros meios, via CVM (Comissão de Valores Mobiliários), para revogar a obrigatoriedade da publicação dos balanços das empresas nos jornais. É a segunda tentativa.
Em 2019, o presidente publicou medida provisória sobre o tema, que foi rejeitada pelo Congresso.
O ex-presidente Michel Temer também tentou organizar um conselho, em 2016.
O Conselhão petista contava com cerca de 150 lideranças, não apenas empresariais mas também ligadas a sindicatos e à cena cultural, além de juristas, religiosos e até estudantes.
O conselho da Fiesp, pelo que foi sinalizado pela composição da reunião inaugural, é constituído apenas por executivos e empresários interessados por temas econômicos.
Algumas empresas que agora fazem parte do conselho da Fiesp estavam representadas no Conselhão de Lula e participaram do órgão na gestão Temer. É o caso do Grupo Gerdau, da Vivo/Telefônica e dos bancos Bradesco e Santander.
Estavam apenas no conselho de Temer e participaram da abertura do conselho da Fiesp Google, Latam, Ambev, Cosan, BRF, WEG e Iochpe-Maxion.
Segundo informações divulgadas pela assessoria de imprensa da Fiesp, o conselho é composto por "40 acionistas, chairmans e CEOs dos maiores grupos empresariais sediados no país", e sua organização foi uma iniciativa de Paulo Skaf, presidente da federação.
A criação do conselho gerou um mal-estar entre industriais ouvidos pela reportagem, sobretudo pela falta de representatividade da indústria. Segundo um deles, o setor passa por momentos de dificuldades, e Skaf deveria estar criticando os problemas na economia, como a alta modesta de 1,1% do PIB de 2019.
Outro comentou que a reunião não chega ao chão da fábrica e que os convidados não pertenceriam à Fiesp e que Skaf teria armado um circo.
O objetivo do conselho, de acordo com a Fiesp, é discutir e analisar assuntos relevantes e estratégicos para o Brasil.
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