Descrição de chapéu Coronavírus

Vendedor de souvenir ganha só R$ 25 por dia após coronavírus espantar turistas de Salvador

Ambulantes desafiam recomendações de saúde para tentar garantir sustento da família

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Salvador

No centro histórico de Salvador, é visível o vazio provocado pela pandemia do novo coronavírus, o que não impediu o vendedor ambulante Ricardo Santana, 41, de desobedecer a orientação para manter o isolamento social na cidade, com cinco casos já confirmados da Covid-19.

Ricardo faz parte dos 54,7% da população ocupada na Bahia que está na informalidade, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referentes a 2019.

Ricardo manteve a rotina de trabalho com a venda de souvenir a turistas que também não cumprem as orientações dos poderes públicos. “Eu vivo da aventura. Se deixar de trabalhar um dia, não levo o de comer para minha família”.

Ricardo Santana, 41, vende colares no bairro do Pelourinho, Salvador - Raul Spinassé/Folhapress

Morador de Rio Sena, no subúrbio ferroviário da capital baiana, pai de um casal de adolescentes, ele havia vendido somente R$ 25 por volta das 15h30 desta terça-feira (17). Ele conta que, na alta estação, consegue tirar até R$ 200 diários, quando o vento sopra a favor.

“Até agora consegui R$ 25, mas se descontar o transporte e almoço, volto com R$ 10 para casa”, calcula ele, que começou a trabalhar aos 15 anos e vive com a família numa casa de dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Paga R$ 300 pelo aluguel.

Ricardo diz ter medo, mas também consciência, dos riscos aos quais está exposto, sobretudo pelo contato direto com turistas de várias partes do mundo. “Mas a gente vive entre a cruz e a espada”, resigna-se ele, que nunca contribuiu para a Previdência. “O amanhã a Deus pertence”.

O vendedor de chapéus Genivaldo Mangabeira, 44, faz ponto em frente ao Elevador Lacerda, um dos principais cartões-postais da cidade. Também não deixou de sair nos dias de pandemia para cumprir o ofício que exerce há 25 anos como trabalhador informal.

“Medo de morrer eu não tenho não. A gente tem que trabalhar, né?”, diz, enquanto atende uma turista. Durante toda a vida laboral, sequer fez alguma contribuição para a Previdência. “Quando chegar a hora de parar, volto para o interior e solicito aposentadoria rural”.

Genivaldo Mangabeira, 44, é vendedor de chapéus e faz ponto em frente ao Elevador Lacerda em Salvador - Raul Spinassé/Folhapress

No Largo do Pelourinho, em frente à Fundação Casa de Jorge Amado, o vendedor de suco de coco com limão Milton Cavalcanti, 54, trabalha há cerca de 20 anos na informalidade. Alega que não pode parar, nem mesmo diante da ameaça invisível.

“Se eu ficar em casa, eu não ganho nada. Meu rendimento depende dos grupos de turistas. Ainda estamos na alta estação, mas o movimento caiu uns 50%”, diz Milton, que vende um copo com 400 ml da bebida ao preço de R$ 5.

No entanto, Milton representa uma exceção entre os demais colegas ambulantes: contribui para a Previdência há 23 anos. Da venda do produto, conseguiu que uma filha se formasse em educação física, mas ainda é o responsável pelo sustento da família.

Milton Cavalcanti, 54, é vendedor de sucos no Largo do Pelourinho em Salvador - Raul Spinassé/Folhapress
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