Após várias disputas com a Amazon (e outras gigantes de tecnologia) pela cobrança de tributos, o governo francês pode acabar sendo atingido por uma queda de braço judicial que ele não iniciou.
Na última quarta (15), a empresa americana anunciou o fechamento de seus seis centros de distribuição no país, um dia depois de uma decisão judicial obrigá-la a suspender entregas de “bens não essenciais” até que fossem inspecionadas as condições de segurança dos funcionários contra o contágio por coronavírus.
A multa diária por desrespeito é de € 1 milhão (cerca de R$ 6 milhões), o que, segundo a Amazon, inviabiliza a operação no país, já que não há segurança jurídica sobre o que é “não essencial”.
As entregas devem ser mantidas na França, mas a partir de centros de distribuição em outros países e por meio de parceiros, o que deve gerar atrasos.
A suspensão das atividades em meio à quarentena cria dois problemas para o governo francês. O primeiro é o impacto sobre os consumidores, já que as compras online viraram a única alternativa após o fechamento do comércio não essencial, até pelo menos meados de maio.
Pesquisa realizada neste mês pelo instituto Kantar nas três maiores economias europeias (Alemanha, França e Reino Unido) mostrou que a parcela dos que fazem mais da metade de suas compras pela internet cresceu até 80% desde o começo da pandemia.
O segundo impacto, politicamente mais complicado, é sobre os cerca de 10 mil funcionários da Amazon em sua operação francesa. Prevenir a alta do desemprego é prioridade do governo francês num momento em que o lockdown deve derrubar a economia do país em cerca de 6% no primeiro trimestre, segundo estimativas.
Nos posts em que anunciou a suspensão, em uma rede social, a empresa disse que os empregados deveriam ficar em casa durante uma semana, enquanto ela avaliaria “os efeitos de longo prazo” da decisão judicial.
“A ação sindical que levou a essa decisão provavelmente terá consequências para muita gente, principalmente para nossos milhares de funcionários e consumidores”, escreveu a Amazon. A empresa foi levada à Corte pela central Sud Solidaires, que, como outros sindicatos europeus, têm feito pressão sobre a empresa americana, argumentando falta de segurança contra o contágio no trabalho.
A companhia, por seu lado, diz ter feito “enormes investimentos” para aumentar a segurança dos funcionários, com equipamentos de proteção, como luvas, máscaras e viseiras, e checagem diária da temperatura dos funcionários.
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