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Marília Firmiano e Flávio Ataliba

As lições que a pandemia trará para a gestão pública segundo o secretário de planejamento do Ceará

Empirismo nas tomadas de decisões dos agentes públicos deve ser rapidamente substituído por ações públicas alicerçadas na ciência e baseada em evidências

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Marília Firmiano Flávio Ataliba

A pandemia da Covid-19 trará efeitos profundos no cenário mundial, talvez até mesmo mais intensos do que a crise de 1929. Além da retração na própria atividade econômica, com consequente perda de milhões de postos de trabalho, teremos, em paralelo, a subtração de centena de milhares de vidas humanas.

A despeito das consequências que certamente produzirá nas mais diversas dimensões a exemplo das relações comerciais entre países, relações de trabalho ou uso mais intenso das novas tecnologias, mudanças mais significativas também deverão ser impostas à gestão pública nas suas diversas esferas de poder.

A história dessa epidemia nos traz lições consideráveis, restando aos nossos governantes as absorverem com sabedoria. A velocidade de repercussão desta crise dependerá, entretanto, de nossa capacidade de aplicar as lições aprendidas.

Nesse sentido, baseado em experiências bem sucedidas de alguns países que conseguiram se defender de forma mais eficaz dessa pandemia, como China, Coréia do Sul, Taiwan e Singapura, podemos listar algumas mensagens importantes a serem observadas.

Primeiro, o empirismo nas tomadas de decisões dos agentes públicos deve ser rapidamente substituído por ações públicas alicerçadas na ciência e baseada em evidências. As ações embasadas no senso comum possuem alta probabilidade de ser um caminho rápido para o desperdício de recursos públicos, com elevados custos sociais. Experiências como a da China, que contou com a interação entre o governo e especialistas em saúde, mostraram-se exitosas.

A segunda lição trata da necessidade de criar um sistema robusto de planejamento em saúde pública no âmbito dos países, que seja capaz de se integrar globalmente, exatamente para prevenir epidemias que afligem todas as nações, a exemplo daquelas que tivemos no passado, como a gripe espanhola, SARS, MERS, Influenza, dentre outras virais com grande potência de letalidade. A priorização da saúde, é, portanto, uma decisão política que deverá ser observada por todos.

Para tanto, será necessário, no âmbito da gestão pública, desenhar um sistema de retaguarda que garanta segurança no atendimento de qualidade ao cidadão, desde a promoção de instalações de equipamentos para tratar os infectados e doentes, como o fortalecimento de instituições capazes de identificar com rapidez as características dos vírus, além da criação de novas regras sanitárias.

Ademais, uma outra lição aprendida é a necessidade de construção de um amplo sistema de informações, inclusive com dados da população mais vulnerável e suscetível a choques exógenos, além do conhecimento de epidemias e surtos vindo do exterior, a exemplo do que existe na Coréia do Sul, e fundamental para aquelas localidades onde o fluxo comercial e de pessoas é bastante expressivo.

Nesse contexto, tecnologias de big data, georreferenciamento, aprendizado das máquinas, dentre outras, serão também de importância primordial para dar velocidade no entendimento dos fenômenos e a tomada de decisões na velocidade necessária.

Por fim, o setor público precisará dar mais ênfase na construção do orçamento utilizando critérios técnicos que nos permita olhar para a frente com muito mais precisão. Esse esforço consiste primordialmente no fortalecimento da inteligência pública, que possa auxiliar nas tomadas de decisões dos nossos governantes com maior retorno e menor custo possível.

As escolhas precisam ser desenhadas, em alinhamento com a sociedade, com amplo sistema de comunicação em rede, para dar, de forma substancial, legitimidade a execução das despesas realizadas.

Marília Firmiano

Diretora de Estudos de Gestão Pública do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE)

Flávio Ataliba

Secretário-executivo de Planejamento e Orçamento do Ceará

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