A saída de Sérgio Moro do governo de Jair Bolsonaro e o colapso do contrato futuro do petróleo americano levaram o real a ter a maior desvalorização semanal desde 2008, quando o dólar subiu 13% na primeira semana de outubro, durante a crise financeira, segundo dados da CMA e da Vitreo.
Na semana encerrada nesta sexta-feira (24), a moeda brasileira perdeu 8% do seu valor ante o dólar, que fechou a R$ 5,66, R$ 0,42 mais caro que na semana passada. Nesta sessão, o dólar subiu 2,5% e foi ao seu terceiro recorde nominal seguido.
No ano, a alta é de 41%, a maior desde 2015, quando a divisa dos Estados Unidos se valorizou 49% ante o real. Dentre todos as moedas do mundo, o real é a que mais perde valor em 2020.
Em termos reais (corrigidos pela inflação), porém, a moeda ainda está longe de sua máxima de 2002. Se for considerado apenas o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, o pico de R$ 4 naquele ano, equivale a cerca de R$ 10,80 hoje. Caso também seja levada em conta a inflação americana, o valor corrigido seria cerca de R$ 7,50.
Durante o pregão desta sexta, o dólar chegou ao recorde de R$ 5,7450, após o pronunciamento de Moro sobre sua demissão. Para analistas do mercado, a fala do, agora, ex-ministro elevou ainda mais o risco político do governo.
A moeda desacelerou alta com intervenções do Banco Central. Foram vendidos US$ 3,175 bilhõesdas reservas, US$ 2,175 bilhões em quatro leilões à vista e US$ 1 bilhão em duas operações extraordinárias de swap cambial.
A Bolsa brasileira chegou a cair 9,6% logo após Moro encerrar sua fala. Caso a queda do Ibovespa superasse os 10%, seria acionado o mecanismo de circuit breaker, paralisando negociações por 30 minutos. Neste ano, a Bolsa já passou por seis circuit breakers.
Ao longo da tarde, a Bolsa redziu perdas e fechou em queda de 5,45%, a 73.330 pontos. A melhora acompanhou Wall Street, onde os índices fecharam perto das máximas do dia. Dow Jones subiu 1%, S&P 500, 1,4% e Nasdaq, 1,65%.
O risco-país medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos subiu 11,7% a 368 pontos, maior valor desde 18 de março, quando a Bolsa brasileira acionou o sexto circuit breaker do ano.
No mercado de juros futuros, investidores passaram a precificar um corte menor da Selic na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central). De 0,75 ponto percentual, a estimativa de corte é de 0,5 ponto percentual, o que levaria a taxa básica de juros para 3,25% ao ano.
Juros mais baixos contribuem para a alta do dólar por meio do carry trade. Nesta prática de investimento, o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os Estados Unidos, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil.
Com a Selic na mínima histórica de 3,75% ao ano, e expectativa que caia mais, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país, elevando a cotação.
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