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Consumo de energia cai 8% em primeiras semanas de isolamento por coronavírus

Segundo CCEE, redução é maior no mercado livre, onde estão indústrias

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Rio de Janeiro

O consumo de energia no Brasil caiu 8% na segunda quinzena de março, quando medidas de isolamento social para enfrentar a epidemia do coronavírus já estavam em vigor em parte do país.

A queda nas vendas é motivo de preocupação no setor, por gerar riscos financeiros às distribuidoras de eletricidade, que têm hoje contratos de compra de energia em volume superior ao que podem vender.

A estimativa de redução no consumo foi feita pela CCEE (Câmara Comercializadora de Energia Elétrica), em estudo que compara o desempenho do setor nas duas semanas de isolamento com períodos anteriores.

A redução é mais intensa no mercado livre de energia (9,4%), que concentra grandes clientes comerciais e industriais, do que no mercado cativo (7,4%), onde está o comércio de rua e as residências.

"O aumento no consumo residencial não foi suficiente para fazer frente a essa queda expressiva no consumo comercial ", disse o presidente da CCEE, Rui Altieri, em videoconferência com jornalistas.

Os dados mostram que o ritmo de redução se acelerou à medida em que o isolamento foi sendo estendido: na semana passada, a média de queda no mercado cativo foi de 12,7%. Os cortes são mais intensos durante o horário comercial, quando lojas e escritórios ficam abertos.

Entre os segmentos que negociam energia no mercado livre, as maiores quedas foram observadas em veículos automotores (39%), indústria têxtil (32%) e serviços (31%). Os dois primeiros estão operando com capacidade reduzida devido ao fechamento do comércio.

Com menos consumo, as distribuidoras de energia fecharam o mês com um volume contratado de energia 17% superior ao que esperavam vender no período. A CCEE espera que a sobreoferta chegará a 30% em junho.

As empresas compram grande parte da energia em leilões do governo, com contratos de longo prazo baseados em previsões futuras de demanda. As regras das concessões garantem uma margem de erro de 5% para cima ou para baixo.

Depois disse, elas têm que arcar com o prejuízo. A situação preocupa o governo porque as distribuidoras são consideradas o caixa do setor elétrico: são elas que arrecadam o dinheiro da conta de luz para repassar a geradores, transmissões, impostos e encargos setoriais.

Em 2014, em uma crise financeira —motivada por cenário oposto, com as empresas tendo que recorrer a energia cara para complementar seus contratos— o governo negociou empréstimo de R$ 21,2 bilhões para garantir liquidez ao segmento.

A opção do empréstimo é avaliada agora também. Ainda não há estimativas sobre o tamanho do rombo, mas "em conta de padeiro", o presidente da consultoria PSR falou em R$ 15 bilhões durante seminário virtual promovido pela corretora XP nesta sexta (3).

A conta considera uma redução de 20% no consumo por três meses. Executivos do setor presentes ao evento lembraram que, como no racionamento de 2001, a curva de crescimento do consumo pode não voltar ao normal após o fim do isolamento, gerando novos rombos.

"Estamos falando de uma redução do tamanho do mercado. No racionamento, a demanda levou dez anos para atingir o patamar anterior", afirmou o presidente da Equatorial Energia, Augusto Miranda.

O presidente da Energisa, Ricardo Botelho, citou entre opções para buscar recursos, além do empréstimo, fundos setoriais a revisão de subsídios, que são bancados por parcelas da conta de luz dos brasileiros.

Na semana passada, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) suspendeu a possibilidade de cortes no fornecimento por falta de pagamento. O governo estuda agora pagar a conta de luz de famílias de baixa renda com recursos do Tesouro, para evitar prejuízos com inadimplência.

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