O anúncio da doação de R$ 1 bilhão pelo Itaú Unibanco para o combate ao coronavírus no Brasil fez o volume de recursos direcionados por empresas para a área social superar a barreira de R$ 2,1 bilhões, patamar histórico anual em um cenário de crise econômica.
De acordo com o Monitor de Doações da Covid-19, o montante doado nos últimos 40 dias por empresas, famílias e pessoas físicas alcançou um recorde de R$ 2,2 bilhões.
A lista é composta de transferências com base em dados públicos e valores informados pelos doadores.
O Itaú Unibanco contribuiu com 60% desses recursos, segundo levantamento da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), que atua para promoção da cultura de doação e ampliação do investimento privado no país.
Além de R$ 1 bilhão para financiar as atividades do fundo Todos pela Saúde, o banco anunciou R$ 250 milhões em iniciativas que envolvem seus institutos e fundações.
“Desde o início da pandemia, mobilizamos pessoas e recursos na luta contra a Covid-19 e seus efeitos sociais e econômicos. Esta nova iniciativa dá a dimensão do quanto estamos preocupados e engajados na solução da crise”, afirmou Candido Bracher, presidente do Itaú Unibanco. O lucro líquido do banco em 2019 foi de R$ 28,4 bilhões.
“É a maior doação feita no Brasil para uma única causa e vem de uma empresa do setor financeiro, que é disparado o que mais doou até o momento, respondendo por 75% do volume”, diz João Paulo Vergueiro, diretor da ABCR.
Trata-se de uma doação institucional, que passou pelo conselho de administração da maior instituição financeira privada do país.
“Acompanhei essa discussão como conselheira e acionista, e o que mais me encantou foi que desde quando a proposta da doação foi apresentada ninguém questionou se deveríamos ou não doar, fomos direto tratar do como”, disse à Folha Ana Lúcia Villela.
Ao lado do irmão Alfredo, ela é uma das maiores acionistas da holding Itaúsa e anunciou no ano passado uma doação de US$ 28,6 milhões (R$ 110 milhões) ao MIT para a criação de um centro de pesquisa para síndrome de Down.
Os recursos para minimizar os impactos da Covid-19 serão administrados por especialistas do setor público e privado de saúde.
Entre os nomes do grupo liderado por Paulo Chapchap, diretor-geral do Hospital Sírio Libanês, estão o médico e colunista da Folha Drauzio Varella; o ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina Neto; e Pedro Barbosa, presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná, ligado à Fiocruz.
“O Itaú é extremamente eficiente em seu negócio, tem fundações que são exemplos de entrega para a sociedade, por que não colocar essa governança, além do dinheiro, a serviço de um grupo formado por grandes cientistas brasileiros?”, completa Ana Lúcia.
É um modelo inovador, que vai além da filantropia, de acordo com Regina Esteves, da ONG Comunitas. “O governo e a área da saúde carecem não só de recursos mas dessa inteligência e de gestão para potencializar políticas públicas.”
Para a empreendedora social, o fundo de R$ 1 bilhão proposto é mais do que uma PPP (Parceria Público-Privada), mas a oportunidade de construir um legado pós-pandemia. “Temos a agenda de responsabilidade social e também o interesse da iniciativa privada de olhar para o impacto econômico da pandemia e fazer o Brasil passar pela crise.”
Ela cita o caso da mobilização para a compra de respiradores da Magnamed, uma startup brasileira, para o SUS.
“Foi feita uma operação de mercado para viabilizar que a empresa saísse de um patamar de 200 unidades disponíveis para produzir 6.000 aparelhos em três meses.”
O seguro de R$ 125 milhões do empréstimo foi garantido pelo BTG Pactual, e o grupo Suzano entrou com capital de giro, para um negócio que ao final superará R$ 500 milhões.
No balanço da mobilização de pessoas jurídicas, a ABCR destaca ainda duas ações conjuntas de Bradesco, Itaú e Santander, que doaram R$ 80 milhões para a aquisição de 5 milhões de testes e R$ 50 milhões para a compra de máscaras.
No setor financeiro, foram computadas grandes doações de BTG Pactual (R$ 50 milhões), BB Seguros (R$ 40 milhões), Safra, BV e Stone (R$ 30 milhões cada um), XP (R$ 25 milhões) e Nubank (R$ 20 milhões).
Entre as empresas de alimentação, as maiores foram da BRF (R$ 50 milhões) e Cacau Show (R$ 32 milhões). No comércio eletrônico, destaque para iFood (R$ 50 milhões) e Americanas (R$ 25 milhões).
Entre as holdings, o grupo Votorantim doou R$ 50 milhões, e as empresas de mineração, outros R$ 40 milhões.
Chama a atenção o segundo lugar em volume total de doações para campanhas e financiamentos coletivos. “São mais de R$ 100 milhões angariados de dezenas de milhares de pequenos doadores em mobilização online. Nunca tivemos tantas campanhas e tantos doares ao mesmo tempo no país”, afirma Vergueiro.
Elie Horn, fundador da Cyrela, que se comprometeu em doar 60% de sua fortuna em vida, espera que a cultura da doação persista para além da Covid-19. “O mundo vive de pequenas e grandes crises, e as pessoas precisam de ajuda o ano inteiro. Temos que trazer isso para o nosso dia a dia”, diz o filantropo, fundador do Movimento Bem Maior.
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