Dólar supera patamar de R$ 5,40 pela 1ª vez

Expectativa de novo corte nas taxa de juros faz moeda subir 1,95%; valorização acumulada no ano chega a 35%

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São Paulo

O dólar subiu 1,95% nesta quarta (22) e superou pela primeira vez o patamar de R$ 5,40. A moeda fechou o dia cotada a R$ 5,4120, novo recorde nominal (sem contar a inflação). No ano, a divisa acumula valorização de 35%—alta de R$ 1,40. O turismo está a R$ 5,65 na venda.

Em termos reais (corrigidos pela inflação), o dólar ainda está longe de sua máxima de 2002. Se for considerado apenas o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, o pico de R$ 4 naquele ano, equivale a cerca de R$ 10,80 hoje. Caso também seja levada em conta a inflação americana, o valor corrigido seria cerca de R$ 7,50.

A desvalorização de 3,3% do real ante a moeda americana nesta semana reflete uma precificação de investidores de um corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros brasileira (Selic) na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central (BC), em 6 de maio, o que levaria o juro para 3% ao ano.

Painel na Bolsa de Valores de Nova York - Michael Nagle/Xinhua

Segundo analistas, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, deixou claro ao mercado, em videoconferências na segunda (20), de que a instituição deve fazer novos cortes na Selic e que, mesmo com o juro baixo, a política monetária ainda pode estimular a economia.

Para Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio e sócio da Frente Corretora, novas reduções não devem surtir efeito.

“O corte na Selic não reflete na economia real porque não está sendo repassado. Os bancos estão subindo juros. Cortes de juros funcionam apenas em países com sistemas financeiros mais desenvolvidos, que têm concorrência bancária.”

Campos Neto também apontou que o cenário mudou desde a reunião mais recente, em 18 de março, e está favorável a novas reduções na Selic, com queda nas expectativas de inflação.

Segundo o boletim Focus, economistas preveem a Selic a 3% ao fim de 2020. Dentre os cinco economistas que mais acertam, a projeção é de 2,50%.

Para o IPCA, a previsão é de 2,23% este ano, ante 2,52% no levantamento da semana passada. Caso a expectativa se concretize, a inflação ficaria abaixo do centro da meta de 4%, que tem margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Juros mais baixos contribuem para a alta do dólar por meio do carry trade. Nesta prática de investimento, o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os Estados Unidos, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil.

Com a Selic na mínima histórica de 3,75% ao ano, e expectativa que caia mais, investir no Brasil fica menos vantajoso, o que contribui com uma fuga de dólares do país.

Com a crise do coronavírus, o fluxo cambial ao Brasil está negativo em US$ 12,878 bilhões este ano. No mesmo período de 2019, havia superávit de US$ 1,295 bilhão.

Dentre emergentes, o real foi a moeda que mais se desvalorizou nesta sessão. Diante de todos os países, foi a quarta moeda a mais perder valor, atrás do berr da Etiópia, do tenge do Cazaquistão e da coroa norueguesa.

“A alta de hoje começou por ontem. Enquanto o mercado brasileiro estava fechado pelo feriado, o dólar subiu bastante no exterior”, diz Velloni.

Ele aponta que a crise entre líderes do Congresso e governo de Jair Bolsonaro após a participação do presidente em ato pró-golpe de domingo (19) também contribui para a alta do dólar.

“O governo perdeu força, especialmente na Câmara dos Deputados. Não vejo nenhuma condição hoje para o governo aprovar as reformas administrativa e tributária”.

Já o Ibovespa subiu 2,17%, aos 80.687 pontos, maior patamar desde 13 de março.

A alta da Bolsa brasileira refletiu a valorização das Bolsas americanas e a recuperação das ações da Petrobras. As preferenciais (mais negociadas) subiram 5%, a R$ 16,75 e as ordinárias (com direito a voto), 3,6%, a R$ 17,15.

Após as fortes quedas no preço do petróleo entre segunda (20) e terça (21), a matéria-prima se recuperou na sessão.

O contrato futuro do barril de Brent, referência internacional, de vencimento em junho, subiu 5,4%, a US$ 20,37. O do WTI , referência nos EUA, teve alta de 19%, a US$ 13,78.

Em Nova York, Dow Jones subiu 2%, S&P 500, 2,3% e Nasdaq, 2,8%. Investidores esperam que a Câmara dos Deputados americana aprove, nesta quinta (23) a liberação de mais US$ 484 bilhões de auxílio a pequenos negócios e hospitais, como ampliação do pacote trilionário aprovado em março. A medida já foi aprovada pelo Senado na terça (21).

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