Descrição de chapéu Financial Times

Dúvidas sobre acordo entre EUA e Opep coloca preço do petróleo sob pressão

Trump diz que corte na produção será maior do que o anunciado; autoridades temem prejuízo em longo prazo

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David Sheppard Derek Brower Anjli Raval
Londres | Financial Times

Os preços do petróleo sofreram pressão na segunda-feira (13) por dúvidas de que um acordo recorde entre os Estados Unidos e a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para reduzir a oferta será suficiente para socorrer um mercado devastado pela pandemia de coronavírus.

A Opep e seus aliados, entre eles a Rússia, assinaram no domingo (12) um acordo para reduzir em quase 10% a oferta global, conquistando o apoio dos EUA e de outros países do G-20 a medidas adicionais para reforçar um mercado cuja demanda caiu até um terço.

O Brent cru, referência internacional, subiu acentuadamente na reabertura dos mercados após o fim de semana prolongado, mas logo inverteu seus ganhos, ficando estável durante a maior parte da manhã em Londres, antes de subir cerca de 50 centavos de dólar, chegando a US$ 32 o barril. O West Texas Intermediate, referência nos EUA, estava ligeiramente mais forte no pregão após o feriado, subindo 3% para US$ 23,50 o barril, mas tinha sido negociado por até US$ 22,03.

"Os cortes ainda não são grandes o suficiente para evitar um grande acúmulo global de estoques no segundo trimestre", disseram analistas da consultoria Facts Global Energy, embora tenham dito que o tamanho do acordo superou ligeiramente suas expectativas.

Plataforma de petróleo de Peregrino, no Rio de Janeiro - Ricardo Borges/Folhapress

"O petróleo no mar e estocagem flutuante deverão aumentar em velocidade e níveis recordes nas próximas semanas", acrescentaram.

Antes do acordo, forjado durante o fim de semana de Páscoa, o Brent já tinha se recuperado de uma baixa de 18 anos, de perto de US$ 20 o barril no início do mês para mais de US$ 30 hoje, embora os preços ainda estejam em menos da metade do nível do início do ano.

Mas os corretores duvidam que o pacto seja suficiente para aumentar os preços muito além em curto prazo, com medidas para conter a disseminação do vírus fechando grande parte das maiores economias do mundo e temores de que uma recessão profunda reduza ainda mais a demanda por petróleo.

A Opep disse que cortará 9,7 milhões de barris por dia na produção de petróleo em maio e junho, o equivalente a quase 10% da oferta global, e continuará com reduções menores até abril de 2022, num esforço para estabilizar os mercados globais de energia.

Autoridades do cartel liderado pela Arábia Saudita disseram que as medidas totais tomadas acabarão sendo ainda maiores, afetando cerca de um quinto do suprimento global, embora isso inclua reduções impostas a produtores fora da Opep pelo recente colapso do preço do petróleo, como os do problemático setor de xisto nos EUA.

Os grandes consumidores de petróleo do G-20, incluindo EUA, China, Índia, Japão e Coreia do Sul, também deverão comprar petróleo barato para as reservas estratégicas de seus países, dando um reforço à demanda, depois que ministros da Energia do grupo de países ricos realizou uma reunião de emergência com a Opep na sexta (10).

O presidente dos EUA, Donald Trump, tuitou na segunda que o corte será mais próximo de 20 milhões de barris/dia, "e não os 10 milhões que se relata geralmente".

"Se algo próximo disso acontecer, e o mundo voltar à normalidade do desastre do Covid-19, a indústria de energia ficará novamente forte muito mais depressa do que se prevê atualmente", disse o tuíte de Trump.

A rara tentativa de ação global semicoordenada no mercado de petróleo ocorre enquanto as autoridades temem o prejuízo em longo prazo que poderá ser causado ao setor energético, que nunca enfrentou uma evaporação da demanda tão repentina.

Os tanques de armazenamento em todo o mundo deverão atingir o nível máximo dentro de meses, embora o acordo de oferta deva ganhar algum tempo, enquanto esforços coordenados para reduzir a produção são considerados preferíveis a forçar o fechamento de campos, o que poderia danificar os reservatórios e os suprimentos em longo prazo.

Países mais pobres dependentes de petróleo, como a Nigéria, viram seus orçamentos públicos encolherem enquanto se preparam para financiar a resposta interna ao coronavírus.

Trump surgiu como um defensor improvável do acordo enquanto a indústria do xisto americana, de maior custo —que transformou os EUA no maior produtor mundial na última década— enfrenta falências e quedas de produção generalizadas.

Washington pressionou a Arábia Saudita para garantir o acordo, ameaçando tarifas sobre suas vendas de petróleo e até a possível retirada da ajuda militar de um de seus mais antigos aliados no Oriente Médio, refletindo o desespero por ação.

Mas ainda não está claro que tamanho terão os cortes e outras medidas, com uma breve guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia que irrompeu no mês passado influenciando o nível que os produtores estão cortando, pois os dois países tinham aumentado a oferta.

A Arábia Saudita também indicou nesta segunda (13) que continuará descontando seu cru na Ásia, enquanto aumentou os preços de venda oficiais para os EUA, num sinal de que não abandonou completamente sua luta por participação no mercado.

A Energy Aspects calculou que o corte total do grupo Opep+, comparado com o nível médio no primeiro trimestre, poderá ser mais próximo de 7 milhões de barris/dia ou cerca de 7% da demanda antes da crise. Os corretores dizem que as reduções de oferta conduzidas pelo mercado em países como os EUA também têm menor propensão a mover a agulha, pois já foram fortemente faturadas nos balanços de oferta e demanda.

Analistas do Goldman Sachs disseram que "não contam estes cortes como voluntários em nosso balanço de petróleo", advertindo que isso deixou "os cortes voluntários ainda pequenos e tardios demais para evitar romper a capacidade de armazenamento, garantindo que os baixos preços do petróleo forçam todos os produtores a contribuir para o reequilíbrio do mercado".

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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