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Empresas de brasileiros nos EUA pedem crédito subsidiado do governo Trump

Medida americana tenta mitigar impacto econômico da pandemia sobre companhias que operam no país

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São Paulo

Companhias do Brasil com operação nos Estados Unidos e empresários brasileiros com negócios no país têm buscado obter benefícios anunciados pelo governo de Donald Trump para mitigar os efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus.

A maioria das medidas anunciadas pelo governo americano se destina a negócios que geram até 500 empregos no país, mas também há benefícios que podem ser adotados por empresas de grande porte.

É o caso, por exemplo, da multinacional brasileira Stefanini, de tecnologia da informação, que atua em 41 países e emprega cerca de 25 mil pessoas. Só em suas unidades nos Estados Unidos, são 2.500, a maioria concentrada em escritórios em Michigan, Iowa, Virgínia e Oregon.

A empresa solicitou postergamento de encargos que incidem sobre a folha de pagamento, uma das medidas do governo Trump para dar fôlego aos negócios.

Bandeira norte-americana em Nova York, Estados Unidos - Johannes Eisele/AFP

“Pedimos o diferimento, que prevê o pagamento de metade dos encargos deste ano em 2021 e o restante em 2022. Estamos no berço manufatureiro do país, que tem uma relação forte com a China e sentiu desde cedo o impacto econômico e de saúde pública do coronavírus”, diz o diretor-executivo da empresa no país, Spencer Gracias.

Todas as empresas estão buscando maneiras de proteger o caixa agora em razão da imprevisibilidade quanto à duração da pandemia e à velocidade de retomada do crescimento, afirma o executivo.

A Stefanini também realizou pontualmente suspensões temporárias de contratos de 20 funcionários, mas não pretende ampliar a medida.

“O governo federal tem pago US$ 600 semanais a quem teve layoff. Esse valor é complementado pelos governos estaduais. Em Michigan, por exemplo, paga-se mais US$ 320 por semana”, diz.

“Temos uma carteira de clientes bem diversificada e remanejamos mão de obra de contratos com redução de volume para outros com maior demanda, como prestação de serviço a empresas de saúde”, afirma Gracias.

O grupo Randon também vai usar benefícios principalmente para subsidiar a folha de pagamento dos colaboradores, segundo nota enviada à Folha. A empresa, que tem uma fábrica da marca de sistemas de freio Fras-Le no Alabama e um escritório em Michigan, emprega 75 pessoas no país.

A busca por benefícios têm sido generalizada entre as empresas do Brasil no país, segundo a contadora brasileira radicada nos EUA Lyla Chirico, especializada em assessorar negócios de brasileiros em solo americano.Há interesse especialmente entre os pequenos e médios negócios, diz ela.

Os principais programas são voltados e negócios que empregam até 500 pessoas. O maior deles é o PPP (Paycheck Protection Program), que concede empréstimos às empresas.

“A empresa solicita o programa por meio de um formulário e tem de apresentar uma série de informações que comprovem que foi impactada. Se o benefício for aprovado, o negócio recebe até 250% da folha média de pagamentos do último ano”, afirma.

O valor emprestado não precisa ser devolvido se 75% do montante for usado em até 10 semanas para pagamento de salários e o restante em despesas como aluguel, hipoteca de imóveis e contas de água e luz, segundo o economista Carlo Barbieri, da consultoria Oxford Group.

Caso contrário, a empresa deverá devolver os recursos com uma taxa de juros de 1% ao ano, com início dos pagamentos em seis meses, diz Chirico.

Outro programa é o EIDL (Economic Injury Disaster Loans), que já existia antes da pandemia para concessão de crédito subsidiado em áreas que sofreram desastres naturais. “O escopo foi ampliado neste momento de pandemia. A empresa que solicita recebe de imediato US$ 10 mil [R$ 56,7 mil no câmbio atual] até que o pedido seja analisado”, diz a contadora.

O programa, que libera até US$ 2 milhões de crédito, não tem aceitado mais inscrições de empresas impactadas pelo coronavírus por razões orçamentárias, segundo o site do SBA (Small Business Administration, órgão que processa os pedidos).

As solicitações já feitas e não respondidas, no entanto, serão analisadas. A concessão dos empréstimos é feita com base na ordem de chegada dos pedidos.

Os valores do empréstimo podem ser pagos em até 30 anos, e os juros praticados são de 3,75% ao ano, de acordo com Lyla Chirino.

“As empresas não podem obter empréstimos do PPP e do EIDL ao mesmo tempo, mas quem solicitou ambos os benefícios e for aprovado nos dois pode escolher qual é mais vantajoso”.

O empresário Ricardo Rosa, sócio da Petisto Brazuca, fábrica de pratos típicos brasileiros localizada em Nova York, diz que tem encontrado dificuldade para obter os auxílios do governo americano.

“A análise dos pedidos está demorando muito. Até agora, as respostas que saíram foram negativas, é preciso comprovar queda na receita em relação ao ano passado, mas a empresa cresceu no ano passado. As dificuldades vieram agora”, afirma.

“Mantemos a fábrica e um aplicativo o ano todo, mas tenho também quiosques sazonais. Tinha um deles aberto em março que precisou fechar devido à quarentena. Como boa parte da receita vem de eventos que foram cancelados, sofremos queda de 70% na expectativa de receita”.

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