O fracasso do acordo entre Boeing e Embraer, que abriu uma batalha entre as duas empresas, já era esperado, afirmou à Folha o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa.
A pasta acompanha os desdobramentos do cancelamento da compra da área de aviação civil da Embraer pela companhia americana.
O secretário explica que o negócio foi fechado quando a empresa brasileira valia mais de US$ 3 bilhões (R$ 17 bilhões, na cotação de sexta), com avaliação pós-fusão superior a US$ 4 bilhões (R$ 22,6 bilhões). Após a pandemia do novo coronavírus, porém, o valor de mercado da empresa desabou para cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões).
“Fizemos uma avaliação preliminar, já que não temos acesso aos termos que a Boeing alega não terem sido cumpridos pela Embraer. Essa desistência da Boeing já estava precificada no mercado”, disse.
Para ele, do ponto de vista comercial, o movimento dos americanos é compreensível. Diante da forte perda de valor da Embraer, sai mais barato para a Boeing alegar um problema e pagar uma multa de rescisão do que prosseguir com o negócio.
Costa ressalta que a Boeing passa por problemas financeiros que foram determinantes para o fim do acordo: a paralisação da produção do modelo 737 MAX por problemas técnicos que geraram acidentes fatais e a queda de demanda mundial de aviões pela pandemia do coronavírus.
O secretário acredita que a principal questão a ser respondida agora é se a rescisão foi feita dentro das regras. Isso pode mudar totalmente o rumo do caso.
Segundo ele, o cancelamento por parte da Boeing gera uma multa de US$ 100 milhões (R$ 565 milhões), o que valeria a pena para a fabricante americana. Se a decisão partisse da Embraer, a brasileira pagaria US$ 75 milhões (R$ 424 milhões). Entretanto, se for comprovado que a Boeing feriu termos do acordo, pode haver um pedido de reparação de danos além da multa já prevista em contrato.
Em meio à baixa no mercado de aviação mundial, um dos mais afetados pela pandemia, o secretário afirma que a Embraer ainda viverá mais dois ou três anos de dificuldades. Ele pondera que alguns fatores jogam a favor da companhia, como o real desvalorizado e a importância da área de defesa da empresa, que é menos afetada pela crise.
“O momento agora é de apoiarmos uma indústria nacional, reconhecer a companhia extraordinária que é a Embraer, muito competitiva, mas quem atua em um mercado que vai sofrer muito”, disse.
Embora o governo seja acionista minoritário da Embraer e tenha uma ação especial que dá direito a veto em operações, ele avalia que o fracasso do acordo não gera impacto direto à União. “Não é pela participação do governo. É pela importância da Embraer para o Brasil”.
O secretário ressalta que a companhia é estratégica para o país e que qualquer nova tentativa de parceria comercial precisa ser avaliada com cuidado.
“É uma empresa que tem ativos intelectuais, tecnologias e posicionamento estratégico. Precisa continuar sobrevivendo, mas qualquer decisão deve levar em consideração também os interesses do país. Não dá para a gente só olhar o quanto ela vale e quem paga mais”, disse.
No sábado (25), foi oficializado o cancelamento da compra da área de aviação civil da Embraer pela Boeing, o que teria sido o maior negócio aeroespacial da história brasileira.
Ao anunciar o cancelamento da operação, a Boeing afirmou ter rescindido o contrato porque a fabricante brasileira não teria cumprido todas as suas obrigações para executar a separação da sua linha de aviões regionais.
A Embraer divulgou nota acusando a Boeing. "A Embraer acredita firmemente que a Boeing rescindiu indevidamente o MTA (Acordo Global da Operação) e fabricou falsas alegações", diz o texto.
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