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Financiamento subsidiado a folha de pagamento estimulado pelo BC tem baixa adesão

Somente 124.225 empregados foram beneficiados; estimativa era que cerca de 12 mi de pessoas

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Brasília

Dados preliminares das medidas do Banco Central para amenizar os efeitos da pandemia do novo coronavírus na economia mostram baixa adesão.

Até segunda-feira (27), apenas 9.454 empresas tomaram empréstimo para financiamento das folhas de pagamento, o equivalente a R$ 156 milhões.

A estimativa do governo é de liberação de R$ 40 bilhões em crédito para que as empresas paguem os salários dos funcionários durante o período de isolamento social.

Ao todo, somente 124.225 empregados foram beneficiados.Quando o programa foi lançado, em 27 de março, o BC estimou que cerca de 12 milhões de pessoas e 1,4 milhão de empresas seriam contemplados.

Especialistas avaliam que ainda é cedo para analisar a efetividade das medidas, mas os números baixos preocupam.

O diretor de Fiscalização do BC, Paulo Souza, espera que a adesão aumente a partir de maio.

"Em abril boa parte das folhas já tinha sido fechada e, por questão operacional, os bancos só conseguiram plenamente colocar o produto na prateleira a partir do dia 20", disse.

Com o Ministério da Economia e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), o BC criou uma linha emergencial para financiar dois meses de folha de pagamento das empresas com faturamento de R$ 360 mil a R$ 10 milhões por ano. Esse grupo é formado pelas pequenas e uma parte das médias empresas.

O governo entra com 85% dos recursos e os bancos com 15%.

O custo para a empresa é igual à taxa básica (a Selic está em 3,75% ao ano), sem spread (diferença entre a taxa de captação de recursos e a taxa cobrada em financiamentos) para os bancos, com carência de seis meses para pagar e em 36 parcelas.

O economista Paulo Feldmann, professor da USP (Universidade de São Paulo), diz acreditar que a baixa adesão se deve ao apetite por parte das empresas e dos bancos.

"A medida prevê que, em contrapartida, que a empresa mantenha o funcionário pelo mesmo período de custeio do salário. Empresários com quem conversei preferiram demitir neste momento, porque há muita incerteza quanto a duração da crise. Mas ainda não conseguimos ver com clareza porque ainda não saíram dados de desemprego", afirmou.

Para Étore Sanchez, no entanto, economista-chefe da Ativa Investimentos, a adesão deve aumentar nos próximos meses.

"O custo de demissão também é alto. Algumas empresas tinham fôlego no caixa e preferem custear a folha com recursos próprios a tomarem empréstimo agora, mesmo que com juro baixíssimo", disse.

Em 23 de março, o BC lançou o maior pacote de liberação de liquidez da história, com potencial de injetar até R$ 1,2 trilhões na economia.

Liquidez é a quantidade de recursos disponíveis no sistema financeiro. Quanto mais dinheiro em caixa, maior o potencial de gerar crédito.

A autorização de empréstimo do BC às instituições financeiras garantido por letra financeira representa metade desse pacote, com potencial de R$ 650 bilhões, segundo a autoridade monetária.

Até segunda, no entanto, apenas 18 bancos tinham feito inscrição para receberem o empréstimo. As garantias somam cerca de R$ 45 bilhões e a liberação dos recursos começa em maio.

Na prática, a instituição emite uma letra financeira em cima de sua carteira de crédito e dá em garantia para tomar empréstimo junto ao BC.

"Tivemos pouco tempo para a implementação. A operacionalização é complexa. Os bancos tiveram do dia 13 ao dia 20 para enviarem a documentação e tivemos um feriado. Acho que devemos esperar mais um pouco para avaliar a efetividade da medida", analisou Sanchez.

Também parte do pacote, 41 bancos emitiram R$ 1,5 bilhões em nova DPGE, títulos garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito). O impacto da medida está estimado em R$ 200 bilhões.

Além disso, até agora, 470 empréstimos com lastro em debêntures –títulos de dívidas privadas– foram concedidos, totalizando R$ 5,7 bilhões. A projeção é de liberação de R$ 91 bilhões.

"Pode indicar também que as empresas, principalmente pequenas e médias, não estão demandando crédito. O alto custo das operações assusta. Além disso, os bancos, principalmente em meio à crise, preferem emprestar para as maiores pelo baixo risco", destacou Feldmann.

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