Gestores recomendam ações tradicionais para atravessar instabilidade

Empresas líderes e consolidadas, com grande volume de negociação na Bolsa e caixa confortável, são aposta na crise

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São Paulo

O cenário de instabilidade política e econômica no Brasil levou gestores a voltar suas recomendações para as empresas líderes de mercado e com grande volume de negociação na Bolsa, as chamadas blue chips –alusão aos cassinos, onde as blue chips (fichas azuis, em inglês) valem mais.

Entre as mais recentes recomendações de bancos, gestoras, casas de análise e corretoras, algumas ações são figurinhas carimbadas, como Bradesco, JBS e Vale, empresas consolidadas e com forte caixa.

Apesar de a crise do coronavírus afetar a economia como um todo, reduzindo ganhos de quase todos os setores, elas devem ser menos impactadas e, no longo prazo, até beneficiadas pela crise.

Painel com números do mercado financeiro interior da sede da B3, na região central de São Paulo - Cris Faga/Fox Press Photo/Folhapress

"O cenário é ruim, todo o mundo se desvalorizou, mas empresas que são líderes se consolidam. A crise pune as empresas menores, e as grandes absorvem esse mercado", afirma Jorge Junqueira, sócio da gestora Gauss Capital.

Dentre suas preferências estão a locadora Localiza e as Lojas Renner, por terem situação de caixa mais confortável.

"Elas têm condições de melhorar a relação com parceiros e complicar a vida dos concorrentes. Fora que a Localiza pode se beneficiar das restrições ao uso do transporte coletivo com a pandemia."

Outra recomendação, também em alta, é a Marfrig. "A demanda por carne bovina está aumentando, especialmente na China. Como há a suspeita de o coronavírus vir de carnes exóticas, acreditamos que o mercado por lá pode aumentar ainda mais."

Além de Marfrig, a JBS também é uma das favoritas do momento. Para a a XP, que indica a compra de ambas, o impacto do coronavírus no segmento deve ser baixo.​

"Vemos uma combinação positiva de consumo em alta por alimentos, sobretudo dos supermercados, margens sólidas, dólar alto, normalização da China e baixo endividamento", afirma Betina Roxo, analista da XP, em relatório.

De acordo com a corretora, para cada 10% de depreciação no real, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da JBS e da Marfrig aumenta 8% na média.

Na mesma lógica, a Vale segue nas carteiras recomendadas, com o início da retomada na China, principal importador de minério de ferro.

A expectativa positiva se reflete no preço da matéria-prima, que teve leve queda de 2,5% no ano, enquanto o petróleo despenca cerca de 70%. Com a desvalorização da commodity e a queda na demanda, as ações da Petrobras passaram a ser pouco recomendadas.

Já no setor bancário, os dois maiores bancos privados do país, Bradesco e Itaú, são os mais citados devido ao provisionamento de crédito elevado para arcarem com inadimplências decorrentes da crise.

A grande preferência, porém, é o Bradesco, que tem as ações mais descontadas do que o Itaú. De acordo com relatório do Santander, os papéis do Bradesco estão sendo negociados 23% abaixo da média histórica. Segundo Junqueira, da Gauss, outra vantagem do banco ante seus pares é que um terço do seu resultado vem do Bradesco Saúde.

A pandemia do coronavírus levou diversos serviços de saúde a serem suspensos e adiados, o que reduziu os custos de planos, outro setor muito recomendado por analistas.

"Gostamos da Hapvida. Ela cresce bem, com um modelo de negócio interessante. Muitos acharam que a empresa seria prejudicada com pessoas usando mais os planos, mas as cirurgias eletivas que foram canceladas eram mais custosas", diz Evandro Buccini, diretor de renda fixa e multimercado da Rio Bravo.

O economista aponta que, antes da forte queda do Ibovespa em março, as ações estavam "muito caras". "Com quedas bruscas e até irracionais, aproveitamos para selecionar empresas mais interessantes, com fundamentos sólidos. E elas acabam sendo as tradicionais, com balanço forte e participação relevante no mercado", diz.

Nesse perfil, estão Magazine Luiza e Lojas Renner. Apesar de serem prejudicadas com o fechamento das lojas físicas, elas têm uma forte atuação no ecommerce e caixa para aguentar a queda nas vendas.

"Esperamos que o Magazine Luiza seja um dos principais beneficiários da mudança em direção ao comércio eletrônico", diz relatório do Santander.

O banco também vê a Lojas Renner como beneficiária da crise, podendo quase dobrar a participação no mercado até 2022, atingindo 12%.

"Esperamos que a Renner saia mais forte da atual crise da Covid-19, pois esperamos que vários varejistas menores entrem em falência devido à grande queda nas vendas do segundo trimestre."

Além disso, a empresa, que foi uma das primeiras a fechar a unidades físicas, anunciou plano de reabertura de 20 a 30 lojas em quatro estados.

Outra aposta do momento é a Cosan. Relatório da Guide investimentos destaca a "recente ótima performance" da Comgás, distribuidora de gás natural controlada pela empresa.

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