Empresas enxugaram recursos de bancos na crise de coronavírus, diz presidente do BC

Segundo Roberto Campos Neto, grandes empresas pegaram linhas disponíveis secaram recursos

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Brasília

No início da crise gerada pela pandemia da Covid-19, grandes empresas com linhas pré-aprovadas resgataram esses créditos para fazer caixa e enxugaram os recursos no sistema financeiro, o que prejudicou os pequenos empresários, porque o custo dos empréstimos aumento.

A avaliação foi feita pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista ao programa Poder em Foco, do portal Poder 360, exibido pelo SBT, na madrugada desta segunda-feira (20).

"Da mesma forma que, quando um produto fica escasso no mercado ou numa loja, o preço sobe, acontece coisa parecida no mundo financeiro. Grandes empresas que tinham direito de pegar linhas para reforçar o seu caixa, que já tinham esse produto disponível, enxergaram um problema lá na frente, foram lá primeiro e resgataram esse dinheiro", analisou.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - Marcelo Camargo/Agência Brasil

"Então, os bancos enxergam que a liquidez está saindo rapidamente, e o Banco Central injeta liquidez, mas como não sabem a duração da crise, tendem a frear os empréstimos", disse Campos Neto.

Ele ressaltou que a autoridade monetária tem acompanhado mais de perto o efeito das medidas lançadas pelo BC para tentar conter os efeitos da crise na economia. "Olhamos toda a parte de concessão de crédito, capital e liquidez. Antes era um monitoramento mais a longo prazo, agora fazemos quase que diariamente, para ter certeza que as medidas estão chegando [à ponta]", afirmou.

Liquidez é a quantidade de dinheiro disponível nas instituições. Parte dos recursos dos bancos ficam presos em exigências do BC, como depósitos compulsórios.

Para tentar conter os efeitos da pandemia na economia, a autoridade monetária adotou medidas para diminuir essas obrigações e aumentar o volume de recursos disponíveis. Quanto mais dinheiro em caixa, maior a possibilidade de aumentarem a concessão de crédito.

Campos Neto declarou que já tinha um projeto, previsto para o próximo ano, para que a autoridade monetária aceitasse títulos privados como garantia de financiamento, para injetar liquidez no sistema, que foi antecipado por conta da crise.

O BC passou a aceitar debêntures –títulos privados– e letras financeiras como garantia para conceder empréstimos aos bancos. "Em algum momento nosso plano na economia era cada vez menos ter dívida pública e cada vez mais dívida privada."

Com a aprovação da PEC do orçamento de Guerra, o BC foi autorizado a atuar diretamente no mercado secundário de crédito privado.

A medida, no entanto, restringe a compra a papéis com boa classificação. "Empresas pequenas não têm rating [classificação] nem participação no mercado secundário. Mas a medida ajuda a corrigir a cadeia de crédito como um todo, fazer com que a taxa caia e o mercado volte a funcionar", pontuou.

O presidente do BC também ressaltou que o cenário se deteriorou desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

"Por outro lado também dizemos que a decisão leva em conta outros fatores. Será que vai nos custar um fiscal muito grande sair dessa crise? Será que as reformas ficam adiadas por muito tempo? Será que a volatilidade e saída grande de recursos não atrapalham a tomada de decisão?"

Para ele, não há consenso de que mais um corte na taxa básica de juros terá resultado no custo do crédito.

"Não existe uma diferença com relação a identificar qual é a doença, o Brasil tem crescimento baixo e queremos que suba. A diferença está em identificar o remédio. Alguns acham que é colocar os juros em patamares mais baixos possíveis, mas se o movimento de juros faz que haja o efeito na ponta diferente do que você gostaria, você não deu o remédio correto, temos debatido muito esse tema", ressaltou.

Campos Neto defendeu que as reservas internacionais não sejam usadas para aquecer a economia, já que o montante foi adquirido por meio de endividamento público.

"A decisão de vender reservas para fazer investimentos é a mesma de emitir dívidas, porque, no final das contas, você tem toda a reserva financiada por dívida, não teve criação de dinheiro", ponderou.

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