Incentivo do governo a inovação de empresas sofre queda na recessão

Pesquisa do IBGE aponta diminuição no percentual de empresas beneficiadas com algum auxílio do governo entre 2014 e 2017

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Santos

O percentual de empresas beneficiadas com algum incentivo do governo recuou de 39,9%, em 2014, para 26,2%, em 2017, período que coincidiu com a recessão no Brasil, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira (16) pelo IBGE.

Segundo a pesquisa, a retração econômica do período 2015/2017 afetou diretamente as iniciativas, com queda nos investimentos, na taxa de inovação e nos incentivos do governo.

O triênio registrou recuo nas empresas beneficiadas com algum tipo de apoio por parte do governo. A queda principal foi vista no financiamento para a compra de máquinas e equipamentos, maior mecanismo de incentivo à inovação, indo de 29,9% em 2014 para 12,9% em 2017. ​Essa foi a modalidade que mais perdeu relevância em termos de empresas beneficiadas, de acordo com o IBGE.

Boomera, empresa de Londrina, no Paraná, que transforma resíduos em matéria prima para outros produtos - Sergio Ranalli - 19.jul.2019/Folhapress

“Foi um período de recessão que influenciou a taxa de investimento", disse o gerente da pesquisa, Flávio José Marques Peixoto. Ele esclareceu que o que mais pesa na taxa de inovação são as inovações de processo, iniciativa adotada pela maioria das empresas, mas esse número caiu na divulgação desta sexta.

Na indústria - extrativa e de transformação -, o percentual de empresas inovadoras que utilizaram instrumentos de financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos despencou de 31,4% para 14,1% no período.

Para a diretora de inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Gianna Sagazio, a agenda de inovação do Brasil precisa ser revista de forma urgente. "Precisa ser vista como prioridade. A capacidade das empresas inovarem é determinante para aumentar o desenvolvimento econômico e social do Brasil”, disse ela.

A CNI citou o atual momento provocado pela pandemia de Covid-19 para mostrar como a área de ciência, tecnologia e inovação é importante e necessária para o enfrentamento de crises do ponto de vista econômico e social. Na avaliação da Confederação, os dados da Pintec mostram que os investimentos em inovação estão abaixo do potencial brasileiro.

"O Brasil, apesar de ser a nona maior economia do mundo, aparece apenas na 66ª posição no mais importante ranking que mede a atividade inovativa dos países, o Índice Global de Inovação", disse o CNI, em nota enviada à reportagem.

Segundo o IBGE, um fator que influenciou a queda foi a desvalorização do real em relação ao dólar. Em 2014, a taxa de câmbio média era R$ 2,35, passando para R$ 3,19 em 2017. Muitas máquinas e equipamentos usados em projetos de inovação são importados.

“Com a valorização do câmbio, a importação de equipamentos caiu. Além disso, o câmbio elevado também impacta na redução da importação de produtos acabados”, disse o gerente da pesquisa.

A pesquisa mostrou que 33,6% das 116.962 empresas brasileiras com dez ou mais trabalhadores fizeram algum tipo de inovação em produtos ou processos, 2,4 pontos percentuais a menos do que no triênio anterior.

Novamente, a indústria foi a mais afetada, com o menor patamar das três últimas edições, caindo de 36,4% em 2014 para 33,9% em 2017.

O setor ainda registrou, pela terceira edição consecutiva da pesquisa, queda na intensidade de gastos em atividades inovativas, atingindo 1,65% em 2017.

Em 2017, as despesas atingiram R$ 67,3 bilhões, representando 1,95% da receita líquida de vendas do universo de empresas inovadoras. Desse montante, foram gastos R$ 21,2 bilhões na aquisição de máquinas e equipamentos​.

O IBGE ressaltou que tratou-se de uma queda de 17,42% em relação aos gastos totais de R$ 81,5 bilhões investidos em 2014.

A pesquisa ainda enumerou que os riscos econômicos excessivos ganharam importância para as empresas inovadoras e se configuraram como o principal obstáculo para as mesmas inovarem, segundo 81,8% delas.

Já os elevados custos para inovar, antes apontados como principais obstáculos pelas empresas, foram indicados por 79,7% delas. A falta de pessoal acabou lembrada por 65,5%, enquanto a escassez de fontes apropriadas de financiamento foi indicada por 63,9% das companhias.

Por outro lado, as empresas que não inovaram culparam as condições de mercado como principais entraves para a não realização da inovação, com 60,4% das empresas indicando essa razão. As inovações prévias foram indicadas por 16,7% delas.​

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