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Manicures e diaristas à espera do auxílio emergencial atrasam aluguel e economizam comida

Caixa atrasa programação de pagamentos; trabalhadoras fazem bicos para complementar renda

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São Paulo

No primeiro meme, um esqueleto está deitado em uma cama, com a legenda: “Esperando o meu auxílio emergencial ser aprovado”. No outro, há uma plaquinha com os dizeres: “Deveriam trocar o nome de auxílio emergencial para à espera de um milagre.” E no vídeo, um homem aparece esbravejando: “Eu não sei quem é essa tal de Ana Lise; o meu dinheiro, meus 600 contos, estão na mão da tal da Ana Lise, e eu não sei quem é essa mulher.”

A diarista Maria Leide Brito Silva, 31, conta que recebeu esses memes pelo Whats App. “Estou dando risada, mas minha vontade é chorar”, diz. Ela se registrou dia 7 de abril no aplicativo da Caixa para solicitar o auxílio de R$ 600 a trabalhadores informais, por três meses. Desde então, todo dia ela entra no aplicativo assim que acorda, depois de tomar seu café. É sempre a mesma coisa: “em análise”.

Maria é uma das milhões de trabalhadoras informais que estão esperando pelo auxílio emergencial prometido pelo governo. Na previsão inicial da Caixa, pessoas que não estão no Cadastro Único, nem no Bolsa Família, e não são correntistas da Caixa ou do Banco do Brasil —que é o caso de Maria— iriam começar a receber o benefício em 14 de abril, mas os desembolsos estão muito atrasados.

Casas no bairro Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo - Jardiel Carvalho/Folhapress

A programação era que a segunda parcela de R$ 600 saísse na semana que vem, mas muita gente não recebeu nem a primeira. A Caixa chegou a dizer que pagaria as duas juntas, mas voltou atrás.

Desde que começaram a epidemia do coronavírus e as medidas de distanciamento social em São Paulo, Maria perdeu todos os seus trabalhos de faxina. Trabalhava para uma empresa e na casa de alguns clientes —todos cancelaram. Os cerca de R$ 2 mil que ganhava por mês com as limpezas viraram pó.

Ela mora em Embu das Artes com os dois filhos, de 5 e 14 anos, e o marido, que é auxiliar de enfermagem e continua empregado. Seis funcionários da clínica onde ele trabalha pegaram Covid-19 e Maria tem muito medo.

Enquanto não sai o auxílio do governo, Maria deixou de pagar a fatura de dois cartões de crédito. E está maneirando na quantidade de comida dos filhos. “Sabe como é, crianças sem aula, o dia inteiro em casa, tomam Toddy que é uma beleza, precisei reduzir um pouco.”

A manicure Luciana Moreira dos Santos, 45, está na mesma situação que a diarista Maria —espera seus R$ 600 há duas semanas. Trabalhava de manicure em um salão de beleza no Portal do Morumbi sem registro em carteira.

Está pegando uns bicos de faxina e de vez em quando vai fazer pé e mão a domicílio, usando a máscara lavável. Mas o dinheiro não é suficiente.

Mora sozinha, e paga R$ 500 por dois cômodos no Taboão da Serra. O aluguel vence dia 5 de maio. “Deus me ajude para o meu dinheiro sair até lá, senão vou ter que atrasar o aluguel.”

A cabeleireira Débora Ellen dos Santos espera pelo benefício há 10 dias. “Todo dia eu checo umas quatro vezes meu celular —em análise, em análise”, diz. Débora tem um filho de 11 anos e descobriu que está grávida de dois meses. Foi ao posto de saúde para marcar um ultrassom, mas recebeu uma resposta desanimadora: a fila de espera é tão grande, que não tem nem data de agendamento. Com a avalanche de casos de covid-19, há mudanças no atendimento em vários postos. Ela não quer ir a um hospital fazer o exame, porque é grupo de risco e não quer se expor. “Na rede particular, sai R$ 90 o ultrassom. Vou esperar sair o auxílio do governo para eu fazer o exame”.

Têm direito ao benefício cidadãos maiores de 18 anos que não têm emprego formal; não recebem benefício previdenciário ou assistencial, seguro-desemprego ou de programa de transferência de renda federal, exceto o Bolsa Família; têm renda mensal per capita de até meio salário mínimo (R$ 522,50) ou renda familiar mensal total de até três salários mínimos (R$ 3.135); não tenham recebido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70 em 2018.

O auxílio também vale para quem exerce atividade de microempreendedor individual (MEI), contribuinte individual do Regime Geral de Previdência Social e para o trabalhador informal, de qualquer natureza, inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) ou que cumpra o requisito de renda até 20 de março de 2020.

Até agora, mais de 43 milhões de CPFs elegíveis para ao auxílio emergencial pela Dataprev e validados pelo Ministério da Cidadania foram liberados para a Caixa para verificação final e pagamento. Deste total, 13.182.931 fazem parte do Grupo 1 —composto pelos MEIs (microempreendedores individuais), contribuintes individuais e trabalhadores informais.

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