Santander concede mais crédito sob coronavírus e lucro cresce 10,5% no 1º trimestre

Receitas com tarifas recuaram pela primeira vez desde 2010 por redução de consumo na pandemia

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São Paulo

O Santander emprestou 20% a mais no primeiro trimestre deste ano, quando comparado com igual período de 2019, o que levou o lucro do banco a um salto de 10,5% no período.

O banco de origem espanhola é o primeiro a divulgar os resultados sob o coronavírus e fechou o período com lucro líquido foi de R$ 3,9 bilhões.

A carteira de crédito do banco aumentou 21,8% de janeiro a março, a R$ 378,5 bilhões, montante recorde emprestado pelo banco e o maior crescimento para a carteira pelo menos desde 2014. O salto mais expressivo, porém, foi para grandes empresas —um aumento de 34%, em linha com que os bancos e o Banco Central vinham sinalizando.

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Santander registra alta de 10,5% no lucro do primeiro trimestre de 2020 - Edgar Garrido/Reuters

Foi a primeira vez desde 2015 que a carteira corporativa apresentou um crescimento anual maior do que o crédito voltado para pessoas físicas. Segundo o diretor financeiro do Santander, Angel Santodomingo, o movimento acontece, principalmente, pela mudança de mix da carteira.

Desde que a pandemia de Covid-19 ganhou força, grandes empresas teriam sacado recursos pré-aprovados nas instituições financeiras, o que, segundo os bancos, teria deixado negócios de pequeno e médio porte com menor disponibilidade de recursos.

O balanço do Santander mostrou que a alta de crédito para pequenas empresas foi de 24,9%.

Em relatório, o Santander afirmou que observou uma maior procura por liquidez em função da pandemia do coronavírus.

“Acreditamos que para as empresas de menor porte, que serão mais impactadas nesse primeiro momento, as soluções propostas tais como a linha de crédito para financiamento da folha de pagamento e o adiamento de contratos para carência de pagamentos, deverão colaborar na organização financeira dessas empresas”, afirmou o banco.

Já para o segmento pessoa física, o crescimento no crédito foi de 15% —concentrado em crédito imobiliário e consignado, que os bancos tendem a privilegiar em períodos de crise.

A carteira de renegociação do banco também apresentou alta de 11,3% no período, para R$ 17,1 bilhões.

O resultado do aumento nas concessões de crédito foi o crescimento da margem financeira (a principal receita dos bancos, gerada com operações de crédito), que subiu 12,1% em comparação aos primeiros três meses de 2019, para R$ 12,7 bilhões.

Bancos relataram também que os juros estavam aumentando devido à escassez de recursos frente à forte demanda, o que ajuda a sustentar a alta na receita dos bancos.

O Santander chegou a estimular clientes a usarem mais o cartão de crédito, com aumento de 10% no limite para gastos. No entanto, a demanda caiu, limitando não só os ganhos com empréstimos nessa linha, mas também as receitas com tarifas. É a primeira queda nessa fonte de receitas do banco desde 2010, quando é feita a comparação anual.

Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, a baixa nas receitas com prestação de serviços e tarifas foi de 1%. Ante o trimestre de outubro a dezembro de 2019, que concentra as vendas de Natal e Black Friday, o tombo foi de 6,7% –a pior desde 2016, quando registrou queda de 7,04% nos primeiros três meses daquele ano.

“Dentro do atual contexto da pandemia de Covid-19, houve uma desaceleração no volume transacionado com os nossos cartões a partir da segunda quinzena de março”, afirmou o banco em relatório divulgado nesta terça-feira (28).

Segundo Santodomingo, o ambiente mais difícil para as comissões voltadas à cartões também está relacionada à maior competitividade do setor.

“Essas questões de competitividade e precificação acabam afetando mais o lado do crédito do que o de débito, bem como adquirentes e aluguéis. Isso já tem se mostrado negativo há um tempo e a tendência é continuar assim. Além disso, também precisamos considerar a queda de 30% a 40% da transacionalidade por causa do isolamento [social] e pela capacidade reduzida das pessoas interagirem com o consumo”, afirmou o diretor do banco.

Outro indicativo de que o coronavírus começa a afetar os resultados das instituições financeiras é o salto nas provisões para cobrir possíveis calotes. Houve um aumento de 18,7% nas despesas com essa linha.

Mesmo com a alta, o movimento ainda não acompanha os níveis de reservas para calotes observados em bancos americanos, por exemplo, que chegaram a apresentar provisões até quatro vezes maiores do que os níveis anteriores à crise do coronavírus.

O diretor financeiro do Santander, Angel Santodomingo, não descarta a possibilidade de que o segundo trimestre tenha resultados piores do que aqueles vistos de janeiro a março deste ano, mas afirma que existem muitas variáveis de risco que determinam as provisões e diz que o banco tomará decisões dependendo do comprometimento efetivo da carteira nos próximos meses.

“É difícil comparar com os EUA porque as carteiras são muito diferentes. O comportamento que estamos registrando é o que temos observado. Nós reconhecemos que o segundo trimestre será difícil e que teremos que nos adaptar ao comportamento que veremos nas nossas carteiras, mas nos sentimos confortáveis em termos de cobertura e temos capacidade de lidar com o ambiente mais difícil”, disse Santodomingo.

Apesar do aumento das reservas contra possível aumento da inadimplência, os atrasos acima de 90 dias fecharam o trimestre praticamente estáveis, em 3%.

A inadimplência de curto prazo total do banco (de 15 a 90 dias), ficou estável em 4,1%, mas os calotes de pessoas físicas na comparação tiveram um aumento, de 5,7% para 6%.

Logo que começou a crise de Covid-19, grandes bancos anunciaram a rolagem automática da dívida de seus clientes, o que, na prática, ajuda a manter os atrasos estáveis mesmo que consumidores não estejam conseguindo pagar seus créditos contratados.

As despesas gerais do banco ficaram em R$ 5,3 bilhões, aumento de 3,7%. A alta foi puxada principalmente pelos gastos administrativos, que subiram 5,8% na mesma comparação, para R$ 2,3 bilhões. Segundo o Santander, o crescimento foi decorrente de despesas com processamentos de dados para suportar o elevado patamar de transações.

O banco também fechou 27 agências em 12 meses e terminou o primeiro trimestre com 2.259 estruturas físicas.

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