Descrição de chapéu Coronavírus

Setor de bens duráveis corta produção por coronavírus e cobra agilidade do governo

Sem vendas, indústrias de têxteis e calçados já estão com 70% a 80% da capacidade produtiva suspensa

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Rio de Janeiro

Setor industrial mais vulnerável a impactos da paralisação da economia na pandemia, a produção de bens de consumo duráveis e semiduráveis já vê demissões e cobra agilidade do governo na oferta de recursos para salários e capital de giro.

Sem vendas, setores como têxteis e calçados já estão com 70% a 80% da capacidade produtiva suspensa. A indústria automotiva suspendeu as operações de 64 das 65 fábricas no país. No setor de eletroeletrônicos, apenas 14% das fábricas operam regularmente.

O cenário interrompe um ensaio de recuperação no início do ano. Segundo o IBGE, a produção industrial subiu 0,5% em fevereiro, após alta de 1,2% em janeiro.

Os bens de consumo, porém, apresentaram retração de 0,6% no mês, puxados principalmente pelos duráveis, com queda de 0,7%, já com efeito do coronavírus, que dificultou a importação de componentes chineses para a indústria eletroeletrônica.

Pesquisa da FGV mostra que outros setores sentem a crise: 43% das empresas do setor industrial já percebem impactos. Dos 19 segmentos pesquisados, 15 esperam redução de demanda ou falta de insumos nos próximos meses.

Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) põe a indústria de bens duráveis com comércio e serviços entre os segmentos com maiores perdas esperadas.

“Vai produzir para que? Não tem para quem vender”, resume o presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Fernando Pimentel. Pesquisas da entidade apontam que 97% das empresas do setor já foram impactadas e que 80% da capacidade produtiva está suspensa.

“A indústria de duráveis e semiduráveis fica no fim da lista de prioridades”, diz o presidente da Abicalçados (Associação Brasileira da Indústria de Calçados), Haroldo Ferreira.

Setor que já vinha sofrendo com dificuldades pela falta de insumos chineses antes do início das medidas de isolamento no Brasil, a indústria de eletroeletrônicas estima que só 14% das fábricas operam dentro da normalidade.

Segundo o presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria de Eletroeletrônicos), Humberto Barbato, a produção do primeiro trimestre ficará 34% abaixo do previsto. Os maiores impactos estão nos bens duráveis, como telefones.

Férias coletivas, redução de jornada e banco de horas vêm sendo usados como alternativas para evitar demissões. Ainda assim, o setor de calçados já perdeu cerca de 10 mil dos 270 mil postos de trabalho.

Para as entidades, a manutenção do emprego depende da agilidade do governo ao implementar as medidas de ajuda já anunciadas, como a oferta de empréstimos para capital de giro ou para complementar a folha salarial.

“O auxílio para a folha de pagamento, por exemplo, já deveria ter chegado porque na próxima semana já temos que fazer o pagamento de março”, afirma Ferreira. Ele diz que as empresas ainda não têm acesso também a linhas de capital de giro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Outra preocupação é o aumento da aversão ao risco, que influenciará negociações com bancos privados.

“Neste momento, os empresários precisam de dinheiro a custo baixo, com fundo de aval. É preciso diminuir o risco bancário para poder viabilizar a liquidez”, afirma a Abit, que pede também “solidariedade” das redes varejistas para garantir suporte financeiro aos pequenos revendedores.

Para o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, as medidas emergenciais podem funcionar por um tempo, mas o governo e as empresas terão que pensar em medidas para escalonar dívidas após a volta às operações.

“Se o fornecedor pedir a falência por causa da dívida, perde todo mundo. Se o banco acionar a empresa, perde todo mundo”, afirma.

Pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostra que 42% das empresas considera muito difícil neste momento fazer pagamentos rotineiros. O banco Goldman Sachs diz esperar impactos nos próximos meses.

Para os empresários, não dá para prever a volta à normalidade, já que não se sabe a duração das medidas de isolamento nem o ritmo de retorno do consumo após o fim da pandemia. “O mundo que existia há três semanas não existe mais”, conclui Ferreira.

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