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Coronavírus, o debate econômico

Sobre o planejamento de estratégias de saída segura da quarentena

É necessário medidas que permitam uma retomada gradativa da atividade econômica e da vida social, mas limitem os riscos à saúde

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Ailton Braga Sebastião Moreira Jr.

Em reação ao novo coronavírus, medidas extremas de isolamento social foram adotadas na maior parte dos países do mundo. Elas não foram exatamente uma escolha, mas sim impostas pela necessidade de reduzir a velocidade de disseminação do vírus.

Entretanto, tais medidas não são sustentáveis por muito tempo, devido a seus elevados custos econômico, social e emocional. Por isso, é necessário planejar e implantar estratégias de saída segura, por meio de medidas que permitam uma retomada gradativa da atividade econômica e da vida social, mas limitem os riscos à saúde da população.

Antes de qualquer coisa, é preciso entender os impactos da velocidade de contágio, R(t), do novo coronavírus, Quando não se tem cuidados de prevenção, o R(t) é chamado de R(0) e fica entre 2,5 e 3. R(0) igual a 3 significa que uma pessoa, em média, transmite a doença a outras três.

Como isso ocorre ao longo de apenas cinco dias, o período médio de incubação do vírus, o número de novas contaminações é multiplicado por 3 a cada 5 dias ou 729 em um mês. Essa expansão tão rápida é que forçou quase todos os países a adotar a quarentena.

Trabalhadores desinfetam as ruas do morro do Vidgal, no Rio de Janeiro, contra o coroanvírus - Pilar Olivares - 24.abr.2020/Reuters

Então, a primeira condição para sair dela é a redução da velocidade de contágio do vírus, para algo próximo a 1, o que elimina o seu caráter exponencial. Essa condição será alcançada quando indicadores diários de novos casos confirmados, óbitos e internações por Covid-19 mostrarem tendência de estabilidade ou queda.

Atingido esse estágio, a saída da quarentena exigirá todos os cuidados para manter controlada a velocidade de transmissão do vírus. A higienização frequente das mãos, a manutenção de certa distância entre as pessoas, o uso de máscaras e a desinfecção de ambientes de uso coletivo serão relevantes.

Outra medida importante será a diferenciação entre horários e dias de trabalho de diferentes setores, de forma a se evitar os momentos de pico do transporte coletivo e limitar aglomerações.

A segunda condição é a ampliação da capacidade de atendimento da rede hospitalar. Além da construção de “hospitais de campanha” e da transformação de leitos de enfermaria em UTI, o remanejamento de pacientes para a rede privada pode desafogar o sistema público. Outra medida importante é a formação de estoques estratégicos de materiais e equipamentos pelo Ministério da Saúde, os quais seriam encaminhados para estados e municípios de acordo com suas necessidades.

A terceira condição é a disponibilidade de indicadores confiáveis sobre a evolução da disseminação da Covid-19, que permitiria identificar eventual necessidade de retomar restrições de movimentação. Indicadores já existentes, como os números de casos confirmados, de internações e de óbitos, são úteis, mas têm limitações.

Para aprimorá-los, é necessária a ampliação da capacidade de processamento de testes e maior agilidade na notificação. Outro indicador relevante é o número de casos notificados de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), pois tem boa correlação com a evolução da pandemia de Covid-19 e é de fácil levantamento. É possível, também, desenvolver metodologia de testes por amostragem para construir um indicador da evolução dos casos da doença.

O Ministério da Saúde pode fornecer, com base nos parâmetros especificados, as informações e as diretrizes para as decisões sobre relaxamento das políticas de isolamento social, que dependerão da situação específica de cada município ou região metropolitana. Enfim, com a implantação das medidas adequadas, é possível uma saída segura e controlada da quarentena, evitando-se um falso conflito entre vidas e empregos, saúde e economia, por meio de planejamento cuidadoso e gestão eficiente.

Ailton Braga

Economista e consultor legislativos do Senado

Sebastião Moreira Jr.

Médico e consultor legislativo do Senado

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